Marcelo de Lima Henrique é árbitro da Série A do Brasileirão
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Marcelo de Lima Henrique é árbitro da Série A do Brasileirão

A vida de um árbitro de futebol não é fácil. Xingado, ameaçado, criticado, muitos que passam por essa profissão já sofreram algum tipo de pressão, e Marcelo de Lima Henrique (veja fotos na galeria abaixo) conhece bem isso.


Aos 50 anos e com mais de 20 de arbitragem, Marcelo de Lima é um dos profissionais com mais tempo de arbitragem no futebol brasileiro em atividade, apitando jogos das principais competições nacionais e com atuações internacionais. Em entrevista ao iG Esporte, o árbitro deu a receita para o alto rendimento e falou sobre as novas gerações que estão por vir.  

"Não é fácil. Muito desdobramento, dedicação, abrir mão de muita coisa para poder tentar estar em excelência porque é um futebol muito moderno, veloz, físico e eu me dedico à arbitragem integralmente há três anos, assim que fui para a reserva da marinha eu só vivo da arbitragem. Só que são muitos investimentos, em nutrição, treinamento, médico para atuar em alto nível e em plena condição física. Vou ano a ano tentando me superar para poder entregar ao futebol o que se pede de uma arbitragem de alto nível", disse Marcelo.

"É uma geração que está iniciando já tentando fazer o melhor, pelas ferramentas que existem agora. Quando iniciei lá atrás não se ouvia falar nem em reforço muscular, treinamento, ganho de força, velocidade, explosão, era cada um por si. Também não tinha uniforme padronizado, cada um comprava o seu, mandava fazer na costureira, então é uma geração que nós temos que ter paciência, até porque é uma geração muito impaciente e quer o resultado muito rápido, porém estão começando fazendo o certo”, completou.

Confira, abaixo, outros pontos da entrevista do iG Esporte com o árbitro Marcelo de Lima Henrique:

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iG Esporte: Apesar de ser uma profissão 'ingrata', os árbitros não deixam de receber o carinho por parte de alguns torcedores, que hora ou outra pedem uma foto e tudo mais. Como você lida com essa mistura de emoções?

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Marcelo de Lima Henrique: É um mix de sentimentos, porém posso garantir que atualmente a consideração é muito grande. Quando a bola rola a paixão aflora mesmo e quando o time perde você pode ter feito a melhor partida que com as redes sociais abertas as ofensas chegam, as ameaças, que eu considero como bravata, apenas papo furado, não levo a sério. Até ameaças de morte, mas nunca acionei ninguém, nunca fui a Justiça em relação à isso. O árbitro é um anti-herói, somos culturalmente vistos como culpados, ladrões, errados, não só na América Latina, mas mundial. O que eu tento fazer nas minhas redes, até porque nós temos agora um alcance muito grande, é humanizar a figura do árbitro, um profissional que trabalha, gosta do futebol, que na infância torceu por alguém para ser apaixonado pelo futebol. Então eu tento humanizar, mas às vezes a gente não consegue, a paixão aflora e mesmo se o time do torcedor vencer, ele reclama que você deu um cartão amarelo para o jogador da equipe dele. Mas unanimidade não vamos ter porque nem os ídolos das grandes equipes são uma, vemos Neymar, Daniel Alves, que ganharam tudo na carreira e são criticados todo dia. Quem sou eu para querer ser elogiado por todos.

iG: Em novembro, a CBF anunciou a demissão do Leonardo Gaciba e inicia processo de reformulação da Comissão de Arbitragem. O ex-árbitro era muito criticado por suas decisões contestadas. Como foi sentida essa demissão por vocês e o que está achando dessa nova gestão? Está surtindo algum efeito?

ML: O Gaciba é um grande cara, quando a gente trabalha com grandes pessoas que se importam com o ser humano você fica sentido por si só. Pelo trabalho dele já temos grandes frutos, muitos árbitros que não tinham oportunidade passaram a ter. Trabalhar com arbitragem no Brasil não é fácil, é complicado, por mais que o gestor tenta nos tenta dar ferramentas para fazermos boas arbitragens, quem está dentro de campo é o Marcelo, é o Daronco, Claus, Vuaden, então acredito que foi um processo muito difícil que ele enfrentou, porque ele teve que trabalhar a arbitragem em um ano pandêmico, em que nós praticamente só tínhamos instruções on-line, imagina você treinar uma equipe de futebol on-line? Porque fomos impedidos de ter treinamentos presenciais, então as pessoas não levam muito isso em consideração. O Gaciba é um amigo que eu tenho porque foi meu companheiro, temos a mesma idade, fomos Fifa juntos, ele é um cara que sentiu o cheiro da grama (sic), teve grandes jogos, e eu senti particularmente porque foi um cara que iniciou um trabalho bacana e esses tempos pandêmicos atrapalharam. Mas quem está agora é o Alício Pena Júnior, um outro cara que foi um grande árbitro e eu espero que ele dê continuidade ao bom trabalho que vinha sendo realizado.

iG: O que você pensa sobre a ideia de árbitros se pronunciarem após a partida? A medida é pedida por muitos, com intuito da arbitragem explicarem as decisões tomadas dentro de campo.

ML: Primeiro que a Fifa proíbe que o árbitro dê entrevista após a partida sobre lances técnicos e disciplinares. Na maioria das vezes que vemos uma entrevista que pega o jogador de supetão geralmente ele fala bobagem, ele não tem a imagem, só que isso não afeta em nada ele porque o jogador tem uma torcida por trás. Dificilmente você vê o técnico tecer uma opinião disciplinar ou técnica sem antes ele ir para o vestiário, assistir tudo e voltar em meia hora para dar a coletiva. Eu não teria problema nenhum, desde que me deixasse ir para o vestiário, assistir todas as imagens e respondesse tecnicamente, desde que a Fifa autorizasse. Não teria problema nenhum em assumir um erro sabendo que a imprensa não iria me chamar para me parabenizar e dar o troféu de melhor da partida.

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