Troféu da Libertadores da América
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Troféu da Libertadores da América

O novo tricampeão da América será conhecido após ao menos 90 minutos de bola rolando, a partir das 17h, em Montevidéu. Mas os trabalhos de Palmeiras e Flamengo que culminarão no duelo tático, técnico e físico no Centenário começaram há pelo menos dois meses, quando o confronto de hoje se desenhou. E têm a cara dos treinadores Abel Ferreira e Renato Gaúcho, respectivamente.

O português tentará repetir a conquista dez meses depois de sua primeira taça de Libertadores, erguida em janeiro, sobre o Santos, no Maracanã. Nesta temporada, seu desafio é mais duro: os últimos meses foram de instabilidade no Palmeiras, e o rival de hoje é consideravelmente mais forte que o do clássico paulista.

O intervalo entre a definição do confronto e o pontapé inicial é um trunfo para Abel, cuja principal marca como treinador talvez seja justamente a habilidade de preparar confrontos específicos, com exame minucioso do adversário e um plano de jogo voltado a potencializar as virtudes do alviverde e a explorar brechas do rival.

Para garantir que o plano seja executado com rigor, o português espalha sua liderança por todos os setores do clube. Reúne-se com integrantes de diversos departamento, por vezes diariamente, a fim de afastar o relaxamento e reforçar seu padrão de exigência. Essa postura, aliada à firmeza com que se posiciona em entrevistas, pode ser lida como um traço de arrogância. Mas o técnico crê que é a chave do seu sucesso aqui.

Abel é um treinador convicto e autoconfiante. Acredita que seu trabalho é produto de muita coragem e valentia, de estudo e troca de experiências. Mas não resume sua missão aos treinos específicos e aos jogos. Valoriza, entre outras competências, a dedicação ao trabalho de força mental, razão pela qual se reúne com frequência para conversas um a um com os jogadores.

— A tática é 30% do jogo. Os outros 70% vêm da capacidade de lidar com momentos de tensão — disse Abel ontem. — Escalamos a montanha e temos um propósito claro desde o primeiro dia: ganhar a final.

O elenco do Palmeiras está adaptado a esse modus operandi. Desde a partida de duas semanas atrás contra o Fluminense, pela 32ª rodada do Campeonato Brasileiro, eles já sabiam que seriam divididos em dois grupos para enfrentar os quatro compromissos até a decisão de hoje. A adesão a esse plano de voo é inegociável, razão pela qual Abel não recuou diante de críticas por escalar reservas na derrota por 2 a 0 para o São Paulo, no Allianz Parque, no dia 17.

Como a metodologia no Palmeiras aposta na homogeneidade do elenco, torna-se mais fácil para o treinador promover alterações na equipe titular — o que também acontece quando ele enxerga variações pertinentes contra cada adversário. Não existe veto à escalação de determinado jogador se ele não estiver definitivamente comprometido fisicamente. O que acontece são um cálculo do risco de mandá-lo a campo e um trabalho de controle de carga. Daí a importância das reuniões recorrentes com o Núcleo de Saúde e Performance e outros setores.

Padel X Futevôlei

Esse modelo torna dura a missão de prever o time que Abel levará a campo no Centenário. Na última decisão da Libertadores, ele estruturou o plano de jogo de modo a deixar a bola com o Santos, que tinha dificuldade para criar e preferiria explorar os espaços na velocidade de Soteldo e Marinho. Sabedor de que essa era a zona de conforto do Santos, o português negou-lhe a abordagem. É certo que Felipe Melo retornará ao time hoje, embora persista a dúvida se como volante ou como uma espécie de híbrido entre meio-campista e zagueiro. Neste cenário, uma das vagas no meio seguiria com Scarpa ou seria reforçada por outro volante, Danilo.

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Essas e outras questões estiveram na mente de Abel nos últimos dois meses. Mas o treinador também encontra brecha para dar vazão à tensão, especialmente no clube em frente ao condomínio onde mora, em São Paulo. Lá, joga padel, esporte com ambientação e dinâmica parecidas com a do tênis, embora praticado em quadras cercadas por paredes, responsáveis por recolocar a bola em jogo, entre outras particularidades. A preferência do português contrasta com o hobby popular e conhecido do adversário de hoje. Renato Gaúcho, porém, anda sumido da rede de futevôlei que frequentava na Praia de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro.

Desde que assumiu o Flamengo, e em virtude do calendário apertado, teve apenas uma semana livre e precisou reduziu o hábito drasticamente. Embora propague que não precisa estudar, diferentemente de colegas de trabalho que fazem intercâmbios na Europa, Renato é atento aos adversários. Costuma assistir a todos os jogos do alviverde sozinho, em casa, e produzir avaliações que serão complementadas por relatórios do restante da comissão técnica e do departamento de análise de desempenho, sob responsabilidade do gerente técnico e ex-zagueiro Juan e do coordenador Wellington Salles. Há profissionais destacados há semanas para destrinchar justamente o adversário desta tarde.

Sem show de humor

São ao menos quatro analistas, além de três auxiliares, dedicados à elaboração de jogadas ensaiadas, movimentos ofensivos e defensivos, variações, etc. O produto desse estudo se transformou em “dossiês”, entregues aos atletas, com dados e orientações específicos para cada setor do time.

Renato “virou a chave” nos últimos dias, quando ficou claro que a vantagem do Atlético-MG no Brasileirão era virtualmente irreversível — leitura que transmitiu aos jogadores nos treinos. E passou a se sentir à vontade para intensificar o revezamento na equipe titular e a usar e abusar dos reservas. Na estadia no Rio Grande do Sul, onde o rubro-negro enfrentou Internacional e Grêmio, exibiu reforço no cuidado com o sono e a alimentação. E até abriu mão de “levantar o humor” com um show do comediante Paulinho Micharia, que costumava frequentar os hotéis durante sua passagem pelo Grêmio.

Diferentemente da do rival, a escalação de Renato Gaúcho para hoje passa longe de ser uma surpresa: é o time que o rubro-negro sabe de cor, com Arrascaeta entre os titulares e Michael no banco. É, em boa parte, uma repetição dos campeões em Lima, há dois anos, com Isla, David Luiz e Andreas Pereira nos lugares de Rafinha, Pablo Marí e Gerson.

— São duas grandes equipes, com jogadores de seleção. Chegam com méritos — afirmou Renato, ontem. — Não acredito em favoritismo. Todas as equipes se preparam bem. Tudo pode acontecer.

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