O SporTV completa 30 anos hoje e entre suas marcas registradas estão as vozes que ajudaram a contar a história do esporte nas últimas três décadas. A mais familiar e longeva delas certamente é a de Luiz Carlos Júnior, que já trabalhava na casa antes mesmo de ter esse nome. Neste período, o carioca de 55 anos representou e viveu as transformações — do esporte e da sociedade —, transmitindo as principais competições esportivas do planeta.
— A trajetória é muito marcante. Minha carreira está intimamente ligada ao SporTV. A história é muito mágica e lembro de perrengues no início. Na Olimpíada de Barcelona-1992, apresentava alguns destaques dos Jogos na Fundação Roberto Marinho. Eu saía de casa às 4h da manhã, já pronto. Em Atlanta 1996, eu dei o último ‘boa noite’ e fiquei chorando no corredor de emoção — lembra o carioca ao GLOBO, com o jeito rápido de falar e já pronto, com camisa social e um olho no relógio para não perder a hora para entrar no ar.
Luiz iniciou a carreira apresentando programas de música em rádio, até ser selecionado para apresentar o Top Sport, hoje SporTV. Mas o canal não tinha estúdio ou programas. Então, como apresentar? Novato, foi chamado para fazer pilotos e improvisações. Quando um narrador não podia fazer alguma transmissão, Luiz era o substituto. Foi chamado para fazer uma partida de vôlei. Depois, de basquete e até esqui antes de chegar ao futebol. De lá para cá, se tornou um dos principais nomes do canal, ao lado de vozes como Milton Leite.
O jeito de narrar
A trajetória do SporTV nessas três décadas caminhou com as mudanças vividas pela TV por assinatura, que atualmente está bem mais presente nas casas dos brasileiros. Luiz lembra que, antigamente, o serviço para assinantes era tão restrito que havia um conceito de atingir um público mais elitizado e menor, que podia comprar pelo produto. Segundo ele, havia um conceito de que a narração deveria ser mais polida, menos gritada. Nessas três décadas houve uma evolução no jeito de narrar eventos esportivos.
— Sinto que hoje a narração está mais encorpada, até por treinamento. Antes, eu tinha um timbre mais jovem, de forma mais juvenil. Eu sempre quis ser um narrador preciso. Assim como no cinema, você tem o mocinho, o vilão, a história, o ápice e o desfecho. Cabe ao narrador contar essa história.
Narração feminina
Não faltaram, certamente, boas histórias nesse período. Um dos desafios é criar enredos e formas envolventes de manter o telespectador ligado na transmissão. Luiz Carlos Júnior lembra de, certa vez, ao narrar um jogo de basquete em que um dos times vencia por mais de 40 pontos, precisou buscar mais emoção. Então, questionou “se o adversário conseguiria marcar 50 pontos ou não”, pela necessidade de “criar um atrativo”. Apesar de evitar bordões, se destacou pelo bom humor e brincadeiras. Algo que não era tão bem visto há 30 anos.
— Tudo era muito quadradinho. Tinha uma liturgia. Silvio Luiz sempre brincou, mas a maioria era mais quadradinha. Por exemplo: as pessoas sempre chamaram o Noriega de Nori. Ele é o Maurício Noriega. O Lédio é o Dom Carmo. O Pedrinho é o Dom Pedro. O Grafite é o Grafa. Hoje as pessoas veem o jogo com o celular na mão, criam memes, repercutem. É diferente.
Luiz reconhece que a evolução da sociedade também mudou a narração, como em brincadeiras de cunho racista, machista ou homofóbico. Ele dá exemplos: como o conceito de “ficar elogiando a beleza feminina”. Ou declarações que refletem um racismo estrutural da nossa sociedade. São mudanças que hoje carecem de maior atenção.
O próximo passo, porém, não há dúvidas: a narração feminina. Nomes como Renata Silveira e Natália Lara já estão na emissora. Um caminho sem volta, afirma:
— Eu acho que é uma evolução da sociedade. Mais inclusão, mais espaço. Elas chegaram para ficar. Hoje nós temos narradores. Sem gênero, é questão de qualidade profissional. Se tiver 30 mulheres com capacidade para narrar, vão ter 30 mulheres narrando — diz.
Nova logomarca
O SporTV anunciou na última sexta-feira que terá uma nova identidade visual em comemoração de suas três décadas. A mudança também reforça o desejo de não ser só um canal de televisão, mas um meio de comunicação multiplataforma.
A nova logomarca começará a ser usada hoje. Segundo o diretor de criação do departamento de marca da Globo, Ricardo Moyano, a nova logomarca valoriza o “S”, que será utilizado em alguns momentos em espaços reduzidos.
Hoje, o SporTV é líder absoluto entre todos os canais esportivos do país e está no Top3 entre todos os canais da TV por assinatura.