Matheus Sacon afirma que o futebol é pouco inclusivo, mas que o futsal vem tomando um maior cuidado em relação a isso
Instagram/Matheus Sacon
Matheus Sacon afirma que o futebol é pouco inclusivo, mas que o futsal vem tomando um maior cuidado em relação a isso

O que pode ser algo simples para alguns, como diferenciar equipes em uma partida de futebol ou se o semáforo está aberto ou fechado, para Matheus Sacon virou problema em certas ocasiões. O fixo/ala do Praia Clube, equipe de futsal de Uberlândia, Minas Gerais, sofre de daltonismo, e falou ao iG Esportes sobre como isso já influenciou – e influência – em sua profissão.


De acordo com a OMS, o daltonismo atinge 350 milhões de pessoas no mundo, sendo oito milhões no Brasil. Sacon entra nessa lista e, além disso, é o único jogador daltônico da Liga Nacional de Futsal (LNF) que possui o distúrbio ocular. O atleta conta que já sofreu provocações por conta da deficiência, mas que leva com naturalidade.

- Já sofri brincadeiras de alguns adversários em tom de provocação, mas nunca dei bola para isso. Como sempre levei essa deficiência de uma forma leve, não é algo que me atinge – disse.

- O fato de ser daltônico nunca foi um empecilho para mim, sempre brinquei com essa situação. Quando as pessoas descobrem que sou daltônico e tem curiosidade para saber como funciona, conto sem problemas. Normalmente, elas já olham procurando objetos coloridos para eu adivinhar qual a cor. Respondo sem problema algum – completou Sacon.

O jogador do Praia Clube diz que o daltonismo chegou a dificultar em certas ocasiões, e relembrou um episódio curioso durante um jogo de futsal.

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- Algumas vezes as camisetas dos times ficam parecidas, preciso recorrer a calções e meiões para diferenciar. Porém, nunca foi algo que me impossibilitasse de jogar, apenas trazia mais dificuldades. Isso ocorreu muito mais vezes nas categorias de bases que tem um controle menor. No dia a dia, algumas vezes tenho dificuldade com a visualização do semáforo, dependendo da luminosidade no local, escolher frutas, legumes e verduras, com relação a estar maduro ou não. 

- Durante um jogo, levei um cartão ao cometer um pênalti que, dependendo da interpretação, poderia ser cartão amarelo ou vermelho. Quando o árbitro levantou o cartão, não consegui identificar a cor dele. Tive que pedir para o goleiro do meu time falar qual era a cor do cartão, que foi amarelo. Sempre procuro externar à comissão técnica desse problema, para que, na escolha dos uniformes de jogo, possa deixar a visualização mais fácil quando comparado ao adversário. Nesse formato, nunca tive maiores problemas em jogos.

Em janeiro deste ano, torcedores de Manchester United e Liverpool se irritaram com a escolha dos uniformes para o confronto entre as equipes. Enquanto os donos da casa utilizaram seu tradicional kit vermelho, os ‘Red Devils’ vestiram o uniforme chamado de 'verde terra', que se assemelha ao preto, causando dificuldade para torcedores daltônicos.

Sacon afirma que o futebol é pouco inclusivo, mas que o futsal vem tomando um maior cuidado em relação a isso.

- De certa forma, acredito que o futebol é pouco inclusivo. Sei que existem alguns protocolos da FIFA em relação a esse cuidado, mas não se estende a todas competições. São ações básicas, como uma escolha melhor do uniforme que vai usar em cada partida. Para nós daltônicos, isso faz uma diferença enorme.

- No futsal, sei que a liga paulista inseriu no regulamento esse cuidado dos uniformes para facilitar a visualização. Acho que as competições organizadas pela liga brasileira também irão inserir esse cuidado. Essa mudança aconteceu, pois comentei com o supervisor da equipe que atuava ano passado, que em uma partida da LNF tive muita dificuldade em assistir, pois uma equipe jogava de vermelho e a outra de verde. Ele comentou em um grupo de supervisores e gestores, sendo um deles o presidente das ligas, que deu a importância para esse assunto. Acredito que são pioneiros nesse cuidado no futsal brasileiro.

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