Mesmo em um 2020 de altos e baixos dentro de campo, o Flamengo se firmou como uma das maiores potências esportivas no ambiente digital.
De acordo com levantamento feito pelo D&F Social Analytics, o Rubro-Negro terminou o ano como o sexto clube do mundo com mais interações nas redes sociais (892 milhões), sendo o primeiro colocado fora da Europa.
Esses expressivos números de engajamento comprovam a força da torcida rubro-negra e são frutos de um trabalho de longa data. Em entrevista exclusiva ao LANCE! , Gustavo Oliveira, vice-presidente de Marketing do Flamengo, detalhou o investimento no setor nos últimos dois anos e projetou um desempenho ainda melhor em 2021.
- O ano de 2020 confirmou o acerto que tivemos ao definir, no início da nossa gestão, o investimento nas redes sociais do Flamengo como algo estratégico. Ampliamos a oferta de conteúdo, criamos novos programas, trabalhamos muito a qualidade (e quantidade) de produção da FlaTV, entre outras ações. A Nação rubro-negra entendeu e se engajou neste trabalho. Para 2021, planejamos um crescimento ainda maior para estes números.
OS DOIS GRANDES PROJETOS PARA 2021
No planejamento de 2021, o Flamengo pretende explorar ainda mais a força da torcida no ambiente digital. Segundo o VP de Marketing, o clube tem vários projetos em andamento, mas dois chamam a atenção: a venda de cotas de exposição na FlaTV para patrocinadores e o lançamento de uma plataforma Over The Top (OTT) - como a Netflix, por exemplo - para distribuição de conteúdo por assinatura.
- O primeiro é o de venda das cotas do Plano Futebol FlaTV, onde os patrocinadores terão a oportunidade de participar diretamente de toda a temporada do futebol do Flamengo. A exposição da marca e o engajamento serão enormes. Temos certeza que os mais de 35 milhões de seguidores das nossas redes estarão muito ligados ao conteúdo que produziremos este ano.
- O segundo, e inovador, será o lançamento de nosso OTT próprio, onde teremos a assinatura de nossos conteúdos exclusivos e uma série de programas especiais que já estamos produzindo. Este será um passo importantíssimo para uma maior relação com nossa base de torcedores, além da criação de uma nova fonte de receita para o clube - completou Oliveira.
Ainda sem previsão de data de lançamento, essa iniciativa segue a tendência do mundo do esporte nas áreas de comunicação e entretenimento. Clubes como Barcelona, Real Madrid, Manchester City e Liverpool já oferecem este serviço de assinatura de conteúdo para seus torcedores. No Brasil, Athletico-PR e Coritiba lançaram plataformas neste mesmo formato, no ano passado.
Uma possibilidade a ser explorada pelo Flamengo será a transmissão de partidas em qualquer uma de suas categorias - seja no profissional, base ou feminino -, quando for necessário, possível e interessante para o clube. Vale lembrar que em 2020 o clube transmitiu partidas do Campeonato Carioca no canal de Youtube da FlaTV, além de uma tentativa na plataforma MyCujoo.
VÍNCULO FORTE E DESAFIO DA MONETIZAÇÃO
A rede social de maior destaque do Flamengo em 2020 foi justamente o Youtube, no qual foi o segundo colocado, apenas atrás do Barcelona. No Twitter, o clube carioca teve o quinto maior número de interações, enquanto no Instagram foi o nono. No total, o Rubro-Negro ficou à frente de clubes globais, como Juventus, Arsenal e Bayern de Munique.
O que explica a diferença tão grande dos números de engajamento do Flamengo para os outros clubes brasileiros?
Para Amir Somoggi, especialista em gestão e marketing esportivo, esse cenário se deve a diversos fatores, entre eles um vínculo afetivo construído pelo Rubro-Negro no ambiente digital de forma mais efetiva que os rivais.
- O Flamengo sempre foi a maior torcida do Brasil, mas tinha dificuldades de explorar isso. Nos últimos 10 anos, o clube vem conseguindo maximizar de fato na proporção do seu tamanho. A torcida do Flamengo é muito grande e muito jovem, diferente de outros times. E, na última década, as diretorias conseguiram criar um vínculo muito verdadeiro com a torcida, algo também que os rivais ainda não conseguiram explorar - disse Somoggi, ao L!
.
Além de encher a torcida de orgulho, esses grandes números demonstram um enorme potencial a ser explorado pelo Flamengo. Apesar de a interação no ambiente digital não gerar um retorno financeiro direto para o clube, as redes sociais contam com investimentos de parceiros e já são capazes de gerar uma quantia significativa na receita anual.
- A monetização ainda está longe de seu enorme potencial, mas as redes sociais já representam um item relevante na receita do Flamengo. Se pensarmos nos investimentos diretos dos parceiros, as redes sociais já são bem lucrativas, pagando todos os custos de produção e deixando um bom dinheiro como retorno financeiro para o clube. E é importante contabilizar também os retornos financeiros indiretos - explicou Gustavo Oliveira.
Você viu?
'POTE DE OURO' PARA PATROCINADORES
Esses "retornos indiretos" citado pelo dirigente rubro-negro estão relacionados com os contratos de patrocínio, que já incluem uma cota de exposição nas redes sociais. Segundo o dirigente, o Flamengo vê o engajamento nas redes sociais como um forte ativo e já o utiliza para fechar acordos comerciais mais vantajosos financeiramente.
- Nos últimos tempos, a dinâmica do mercado de patrocínios mudou bastante. Antigamente quando um patrocinador colocava sua marca na camisa, por exemplo, ele visava basicamente a exposição de sua marca na cobertura da TV e jornais. Hoje, quando o Flamengo fecha um patrocínio de camisa, agregamos a esta exibição da marca uma forte entrega em redes sociais, aumentando assim o relacionamento da marca com a nossa torcida e o valor do patrocínio.
INTERNACIONALIZAÇÃO DA MARCA EM ANDAMENTO
Ao lado de clubes como Barcelona, Real Madrid e Liverpool no top 10 de engajamento nas redes sociais, o Flamengo vive uma situação única. Enquanto os gigantes europeus contam com torcedores espalhados pelo mundo, o Rubro-Negro apresenta exclusivamente uma enorme força local e concentrada no Brasil. Para Somoggi, no entanto, esse cenário deve mudar, mesmo que o clube tenha que superar um problema estrutural do futebol brasileiro.
- O Flamengo tem que trabalhar efetivamente na internacionalização da sua marca, não pode ficar esperando a CBF acordar. Eu acredito que seria melhor começar com um projeto a médio prazo, de construção de marca. Isso viria a partir do trabalho em mercados-chave e uma comunicação baseada na brasilidade, futebol feliz, Rio de Janeiro... Aí, quando a marca estiver bem estabelecida e reconhecida, daria para começar a pensar na comercialização de um sócio-torcedor digital, de amistosos, escolinhas de futebol e pontos de venda.
Segundo Gustavo Oliveira, esse trabalho de globalização já está em andamento e inclui a ampliação das redes sociais do clube para atingir também o público estrangeiro. Além disso, o dirigente declarou que o clube está prestes a anunciar dois projetos com o objetivo de se expandir internacionalmente.
- Apesar de já termos alguma presença internacional nas nossas redes, ela ainda é percentualmente muito pequena. Isso mostra o enorme potencial que temos de crescimento da nossa base. Estamos trabalhando forte na internacionalização da marca e a consequente expansão das nossas redes no exterior. Neste momento estamos finalizando dois grandes projetos para 2021 e iremos anunciá-los em breve.