Chega ao local de treino, acena e faz piada com companheiros, ouve orientação da comissão técnica, realiza a atividade e, no intervalo entre elas, novas brincadeiras. O que sempre foi comum na Academia de Futebol tem ocorrido no " home training " do Palmeiras desde segunda-feira, mas sem o encontro pessoal dos atletas, respeitando o isolamento na pandemia do coronavírus. Quem garante e dá detalhes é o coordenador científico Daniel Gonçalves.
Leia também: Palmeiras reduz 25% dos salários de elenco, Luxemburgo e dirigentes
- É surpreendente como foi animador vê-los interagindo, brincando, como em uma situação real. Eles mesmos já estavam sentindo falta disso. É positivo não só no aspecto emocional, mas social, criando rotina. E os atletas têm sido bem conscientes, treinando com uma intensidade até acima do esperado. É uma situação completamente nova. Achávamos que seria necessário um tempo de adaptação, mas estamos surpresos positivamente - disse ao LANCE!.
Leia também: Paulo Nobre compra camisa do Palmeiras leiloada por Prass
A rotina é a seguinte: pouco antes dos treinos, comumente iniciados às 10h, os jogadores vão se conectando aos seus aparelhos eletrônicos. Todos os microfones ficam abertos e, como se entrassem no centro de treinamento, os jogadores vão se cumprimentando e fazendo brincadeiras entre si, interagindo. Depois disso, poucos microfones ficam abertos, apenas de membros da comissão técnica, como de Vanderlei Luxemburgo, Daniel Gonçalves e preparadores físicos. Entre as atividades, nos momentos de hidratação, microfones abertos e mais interação, o que também acontece no fim.
São necessários ajustes, pois há problemas de conexão ou posicionamento das câmeras em alguns momentos. Mas a rotina foi montada ao longo das férias coletivas, em abril. Profissionais de Tecnologia da Informação (TI) se juntaram à comissão técnica para adaptar programas de reuniões virtuais aos treinos e o acompanhamento de todos os jogadores em tempo real é feito em telões na Academia de Futebol. Uma metodologia que, segundo o coordenador científico, é 100% criada pelo Palmeiras, sem nenhuma inspiração em clubes do exterior.
- Como eles não podem ir ao centro de treinamento, criamos uma ferramenta em que vamos à casa do atleta, com todos treinando ao mesmo tempo. É uma alternativa, como tive que fazer no Rio Branco-ES (em 1983), que não tinha nem rouparia nem nada e criei tudo, e no Bragantino (em 1990), quando também criamos a possibilidade de um trabalho muito bom. Criamos agora uma ferramenta muito boa para trabalhar na pandemia. E é obrigação trabalhar, não pode faltar nem atrasar - contou Luxemburgo, visivelmente animado.
- O Vanderlei tem esse histórico, de ser um treinador de vanguarda, inovador. O Palmeiras, também. Com uma das melhores estruturas da América Latina, queríamos criar treinos respeitando a condição atual de isolamento. Uma instituição centenária e com tanto aficionados tem a responsabilidade social de dar um bom exemplo. Pensamos, prioritariamente, na saúde de profissionais e familiares. Em cima disso, precisávamos estabelecer uma nova rotina, até para motivar e fazer os atletas interagirem - falou Daniel Gonçalves.
Além de profissionais de TI e captação de imagem, três preparadores físicos vão à Academia para os treinos. Um deles dá a voz de comando, outro faz a supervisão e ajuste dos movimentos em tempo real e o terceiro, único sem máscara, fica mais distante e executa os exercícios, dando exemplo do que deve ser feito. A ideia era que todos tivessem sido testados sobre coronavírus, mas os exames atrasaram. Por isso, são necessários os equipamentos de proteção, e nenhum desses profissionais apresenta sintomas da doença.
Quando todas as autoridades de saúde liberarem treinamentos em São Paulo, os trabalhos ainda seguirão protocolos de segurança já prontos, com no máximo cinco atletas em cada campo e distância mínima de 20 metros entre eles. Mas, mais para frente, quando tudo for retomado sem nenhuma restrição, o "home training" pode ser adotado em dias de atividades regenerativas depois de partidas, por exemplo. Essa ideia tem sido conversada com Luxemburgo.
Leia também: Palmeiras perde ação na Fifa sobre dívida de mais de R$ 16 milhões por Borja
- O Vanderlei é nosso líder e mentor, sempre pensa em largar na frente, inovar. O descanso do atleta é um conjunto de coisas. Conta a felicidade de conviver em família, ficar mais livre em casa. A vida no futebol é bem sacrificante em termos de vida social. Mesmo sem o recurso tecnológico da Academia de Futebol, poderíamos ter essas questões mais para frente. É muito cedo agora, mas pensamos, sim, em, talvez, manter, adaptar ou evoluir essas medidas recuperativas, sempre pautadas em tecnologia - afirmou Daniel Gonçalves.