A pandemia do coronavírus paralisou totalmente o futebol brasileiro dentro de campo e, o agravamento da doença no país impede, pelo menos por enquanto, qualquer perspectiva de um retorno dos campeonatos. Entretanto, os bastidores do Corinthians continuam agitados, principalmente por conta das eleições previstas para outubro e que definirão o novo presidente do clube para os próximos três anos.
Ciente da força política do grupo de situação “Renovação e Transparência”, que completará 13 anos no poder, e convencido que a única chance de vitória seria por meio de uma união entre os contrários a atual gestão, o Movimento Corinthians Grande, atualmente o principal grupo oposicionista, busca, por meio de encontros, reuniões e ações, convencer outras alas insatisfeitas a chegar a um nome de consenso, que, nesse momento, gira em torno do ex-presidente Mario Gobbi.
Visto com bons olhos pela liderança do Movimento, o delegado deu mostras, em dezembro passado, que, apesar de uma certa dúvida, estaria disposto a aceitar o desafio de liderar uma disputa contra a chapa comandada por Andrés Sanchez. Desde lá, seu nome vem ganhando corpo no clube, processo esse que foi acelerado a partir do final de janeiro, quando resolveu tomar a frente e buscar essa união da oposição, passando a liderar encontros nesse sentido. Inclusive, na última segunda-feira, Gobbi participou de uma reunião virtual com cerca de 50 membros oposicionistas.
É cedo, porém, para cravar o nome do delegado na disputa, até porque, o ex-presidente pediu até maio para dar uma resposta definitiva. A sua principal dúvida é se vai realmente conseguir viabilizar uma candidatura única e se terá apoio suficiente para entrar forte na disputa. Além disso, há questões fora do clube que precisam ser resolvidas, entre elas, a sua aposentadoria na Polícia Civil.
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Um dos líderes da oposição, o advogado Felipe Ezabella, reconheceu à reportagem do iG, que uma união está sendo buscada, mas que não está sendo fácil. “Não é novidade e na última eleição não foi diferente. A grande chance de a oposição ganhar é ter uma chapa única. Na eleição passada houve uma tentativa de juntar as chapas, mas não houve acordo. Para essa eleição a situação é a mesma. As conversas são difíceis, truncadas, já temos duas candidaturas lançadas. Talvez dessa vez dê, com as lideranças um pouco mais amadurecida pela última experiência, quando a oposição teve mais votos e não ganhou porque acabou fragmentada. Ninguém desistiu de lançar um candidato único, as conversas continuam, mas, se vai ser possível, não sei dizer”, afirma ele.
Sobre o nome de Mário Gobbi, Ezabella confirmou que o ex-presidente é a bola da vez. “Não adianta querer fazer união a fórceps. Brigou a vida inteira, não é de uma hora para outra que vai virar melhor amigo. O que estamos tentando é fazer ações conjuntas para criar uma empatia entre todas as pessoas. No final do ano passado, surgiu o interesse e a possibilidade do Mario Gobbi, que está a seis anos em silêncio e afastado politicamente do clube. O nome dele foi crescendo de dezembro para cá. Em janeiro e fevereiro, ele tomou a frente do processo de tentar essa união. Chamou para si e tem feito diversas reuniões para saber o que acham do nome dele para liderar o processo e quais as ideias. Vejo com bons olhos. É um candidato muito forte para bater de frente, ganhar a eleição e fazer as mudanças necessárias”, explica.
O nome de Gobbi, porém, terá que ser bem trabalhado pelos oposicionistas, já que será necessário descolar sua imagem do atual grupo de situação. Vale lembrar que o delegado, presidente do clube entre 2012 e 2014 - e que teve o mandato marcado pelos títulos da Libertadores e o Mundial de Clubes -, foi eleito pela chapa de Andrés, porém, brigou com o atual mandatário do clube. “O Mario só vai conseguir mostrar que é diferente daquele que foi eleito em 2012, apoiado pela Renovação e Transparência, durante a campanha. Conversando, passando as informações, explicando o que ele sofreu no mandato dele e o problema que teve com o Andrés, com quem hoje mantém uma relação mais distante”, aponta Ezabella, desmentindo que morará fora do país, como chegou a ser publicado recentemente.
Já entre os situacionistas, se em um primeiro momento o nome do atual diretor de futebol do Corinthians, Duílio Monteiro Alves, era dado como certo como candidato a presidente, diante da movimentação da oposição e da falta de resultados dentro de campo, a tendência no momento é de uma união entre os grupos do atual presidente Andrés Sanchez e do conselheiro vitalício, Paulo Garcia. Dono da Kalunga, rede de papelarias que patrocinou o Timão nas décadas de 80 e 90, ele ficou na segunda colocação na eleição passada. A união, porém, ainda não foi selada e o atual presidente terá que utilizar toda sua experiência política para aparar algumas arestas, já que essa união não é uma unanimidade dentro da sua base de apoio.