A reapresentação dos jogadores para o início da pré-temporada está longe de significar o fim da atividade no mercado de transferências . Esta, aliás, costuma se estender por quase todo o ano, numa janela sempre aberta. Mas o perfil das chegadas e saídas nos quatro grandes do Rio reforça realidades distintas traçadas em 2019: o Flamengo e seus três rivais em momentos e expectativas diferentes.
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Isso se reflete no padrão dos jogadores buscados no mercado, das perdas ou da dificuldade de manter atletas chave. O Flamengo tenta continuar com a base de 2019 e conserva a perspectiva de frequentar o topo das competições. Vasco, Botafogo e Fluminense lutam com imensas dificuldades para montar seus elencos.
A avaliação do Flamengo era de que, além de um time titular de alto nível, Jorge Jesus tinha à disposição três a quatro reservas que despertavam confiança. A estratégia é ampliar o leque e, para isso, chegaram o atacante Pedro Rocha (ex-Cruzeiro) e o zagueiro Gustavo Henrique (ex-Santos).
A venda iminente de Reinier para o Real Madrid pode gerar busca por reposição. Os cerca de R$ 135 milhões envolvidos na negociação superam os R$ 80 milhões orçados pelo clube para venda de jogadores em 2020.
Num ano em que o Flamengo planejava desacelerar investimentos, já que ainda paga parcelamentos de contratações de 2019, a negociação pode permitir novas ações de mercado — nenhuma delas tão impactantes quanto as do ano passado. Além disso, ainda há negociações para renovar o contrato de Bruno Henrique — o atual vai até 2021 — e pela compra de Gabigol, já sem contrato com o Flamengo.
O Fluminense está diante de duras perdas, algumas até esperadas num elenco com diversos jogadores emprestados ou em último ano de contrato. A permanência de Caio Henrique é improvável. O cenário de Allan é difícil, mas o desejo do jogador de ficar pode ser decisivo. Já Daniel aceitou proposta do Bahia. Yony González foi para o Benfica, enquanto o atacante João Pedro, vendido há mais de um ano, se apresentou ao Watford.
O resultado é uma base de time muito golpeada. Até agora, o técnico Odair Hellmann foi a única chegada importante às Laranjeiras já confirmada.
O Botafogo trouxe muita gente e se livrou de mais ainda. No primeiro semestre, espera-se a sequência das dificuldades financeiras de 2019, com receitas nada generosas. E, se tudo correr bem, algum investimento previsto após a implantação do projeto de clube-empresa. O alvinegro tenta fazer malabarismo com uma folha de pouco mais de R$ 1 milhão.
Cícero aceitou reduzir o salário, mas Diego Souza fez acordo para rescindir. A manutenção do zagueiro Gabriel, talvez o melhor jogador do time em 2019, ainda depende de uma negociação que tem se mostrado dura com o Atlético-MG. Já deixaram o clube outros que disputaram muitos minutos na equipe no ano passado, como Rodrigo Pimpão e Leo Valencia, além do lateral Yuri, que virou titular na parte final da temporada.
As chegadas são de apostas de baixo custo. Uma delas, o jovem peruano Lecaros, que jogava no Real Garcilaso. Bruno Nazário, emprestado pelo Hoffenheim após temporada no Athletico, é nome promissor.
O Vasco de Abel Braga, substituto de Luxemburgo, embora não lute no mercado por jogadores de ponta, trouxe um argentino convertido em ídolo na Colômbia, autor de 41 gols em 47 partidas na última temporada. Germán Cano chega como esperança para uma posição em que o time sofreu em 2019. No fim da temporada, Luxemburgo alternou entre Ribamar, Marrony ou a opção de jogar sem um “camisa 9” especialista.
O atacante Rossi teve empréstimo encerrado, mas rescindiu com o Shenzhen e está disponível. Outros jogadores que frequentaram a equipe titular como o volante Richard, o meia Marquinho e o lateral Cáceres deixaram o clube.
Mas nem todas as cartas estão na mesa. Afinal, o Brasil é um país peculiar quando se trata de transferências. Normas da Fifa determinam duas janelas para registros de jogadores em transações internacionais. No entanto, nas principais ligas do mundo o fim da janela encerra a possibilidade de registro de qualquer jogador. Não no Brasil.
Aqui, cada competição tem prazo específico, o que permite negociações em quase todo o ano. O do Brasileiro, por exemplo, vai até setembro. A certeza é de que os elencos que iniciam o ano não chegam a dezembro.