Escrevo enquanto espero Jesus chegar. É! Juro que é verdade. Ele vai chegar às 4. E eu estou na lista dos convidados. Desta vez eu vou pro céu!
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Sentado numa secretária consular do Rio de Janeiro, no palácio de São Clemente, provavelmente a casa mais bonita do bairro carioca de Botafogo, sinto a ambiente se adensar. Agradeço ao Jaime Leitão, cônsul geral de Portugal. É bom poder ver Jesus chegar.
Olho em volta e sinto. Os espíritos se agitam. As almas tremem. As vozes conspiram nos corredores. Cochichos e perguntas surgem de todo o lugar como aparições. Os comuns mortais aspiram ao encontro. É Jesus chegando. Chega às 4. É a hora da redenção.
Ficar esperando Jesus no Rio, mesmo que para o lançamento de um livro que ele nem escreveu — mas abençoou — é uma coisa estranha. Um exercício espiritual tão metafísico como quântico. Tão inesperado quanto anunciado. Tão louco quanto bárbaro. Tão simples quanto samba. Tão desejado como profeta. Tão impossível quanto pródigo. Tão simples como inatingível. Questão de fé. Há coisas que só existem no futebol!
O futebol é como o amor onde o melhor e o pior estão sempre no mesmo lugar e são a mesma coisa. Por isso o futebol é um espelho tão real da vida. Às vezes ainda mais real que ela.
O futebol, juntamente com a língua portuguesa, são a cola principal da grande nação brasileira. São o que une o que normalmente se desune. São o cimento do concreto. O canal mais rápido entre as pessoas. Alfa e ômega de uma nação extraordinária. Alguém sabe mesmo o que seria do Brasil sem o futebol como válvula de escape social?
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Não tem Lula que chegue nos calcanhares de um pênalti cobrado para o lado certo. Não tem Bolsonaro tão lindo como um livre direto do Roberto Carlos. Não tem chance que o Gilmar ou o Toffoli pudessem atrapalhar um julgamento de Zico. Nem Carlos, nem Eduardo, nem Flávio, nem Olavo, nem Dilma, nem Temer, nem Lava Jato, nem Impeachment, que cheguem nos calcanhares do doutor Sócrates.
Tem o Mané e o Pelé. O Garrincha e o Nascimento. O Felipão. A CêBêéFe. A canarinha. A bola rolando no gramado. A emoção do povo. O gol. Gooool! Gooooooooool! Milagre!
O futebol não é uma questão de vida ou morte. É muito mais que isso. Ele faz o povo acreditar que o redentor vai chegar no Rio, hoje às 4, quando ele já está lá, abrindo os braços, desde 12 de outubro de 1931.
Só falta mesmo alguém dizer que o Jesus é português; e que o Mengão vai ganhar a Libertadores e o Brasileirão tudo no mesmo dia… Aí, Deus vira brasileiro.