O dia 29 de novembro de 2016 ficará marcado para sempre na história do esporte mundial. Nesta fatídica madrugada - exatamente 01h15 no horário brasileiro -, o avião que levava a delegação da Chapecoense para Colômbia, onde a equipe disputaria a final da Copa Sul-Americana diante do Atlético Nacional, caiu pouco antes de chegar ao aeroporto de Medellín, matando 71 pessoas.
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Entre as vítimas estavam jogadores da Chapecoense , comissão técnica, dirigentes, jornalistas e tripulação. Apenas seis sobreviveram ao acidente da companhia aérea LaMia: os atletas Alan Ruschel, Neto e Jakson Follmann, o radialista Rafael Henzel, a comissária de bordo Ximena Suárez e o técnico da aeronave Erwin Tumiri.
Um ano depois, muita coisa mudou. O clube se reestruturou, conseguiu jogar a temporada de 2017 mesmo começando do zero e agora projeta dias melhores. Mas muitas perguntas ainda estão no ar: as famílias das vítimas receberam dinheiro? O que estão fazendo os sobreviventes? Quais jogadores não deram certo no time?
Indenização às família
O relatório final divulgado pela autoridade de aviação civil colombiana apontou que a aeronave estava sem combustível no momento da queda, sendo esse o motivo central do acidente.
A seguradora boliviana Bisa Seguros e Resseguros S/A se nega a pagar as indenizações às famílias das vítimas porque diz que o acidente foi provocado por um erro do piloto e, também, porque a apólice com a LaMia
não tinha mais validade na época do acidente por uma série de infrações contratuais. A empresa ofereceu 200 mil dólares (R$ 646 mil) desde que todos os parentes se recusassem a entrar na Justiça, mas a ideia não avançou.
O valor total que deve ser pago para os parentes dos mortos, no entanto, é de 25 milhões de dólares, cerca de R$ 80,7 milhões.
Até agora, os familiares receberam o seguro da própria Chape (14 vezes o salário de casa atleta), o da CBF (12 vezes o salário) e valores de rateios de doação e de renda de alguns amistosos do time catarinense pelo Brasil e no exterior.
A reconstrução
Alguns dias após o acidente, muitos clubes do Brasil prometeram ajudar a Chape cedendo jogadores sem custos e a CBF, inclusive, cogitou dar uma espécie de "imunidade de rebaixamento" ao clube dentro do Brasileirão, mas a diretoria não aceitou - e a equipe conseguiu se salvar da degola dentro de campo.
Com um ano de 2017 longo pela frente, foram quase 30 jogadores contratados para a remontagem do elenco. A ideia era ter uma quantidade grande de opções para disputa do Campeonato Catarinense (onde o time foi campeão), Copa Libertadores, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Copa Suruga e alguns amistosos na Europa.
Os que não deram certo
O técnico escolhido para a reconstrução do clube foi Vagner Mancini , mas os resultados ruins dentro de campo culminaram em sua demissão. Vinicius Eutrópio assumiu o comando do time e ficou pouco mais de dois meses no cargo, dando lugar a Gilson Kleina, que conseguiu livrar a equipe da queda para Série B.
Dos muitos jogadores que chegaram, alguns não vingaram e mal foram aproveitados, como Zeballos, Diego Renan e Dodô, por exemplo, além dos goleiros Artur Moraes e Elias. O atacante Niltinho, frequentemente na reserva, trocou a Chape pelo Atlético-GO, enquanto o zagueiro Victor Ramos perdeu espaço e rescindiu seu contrato.
Já outros atletas que estavam em bom momento acabaram se transferindo para o futebol do exterior: o atacante Rossi foi negociado com o Shenzhen, da China, o volante Andrei Girotto acertou sua transferência ao Nantes, da França, e o zagueiro Nathan também saiu no meio da temporada, rumo ao Servette, da Suíça.
Os sobreviventes
Todos sabemos que os sobreviventes brasileiros da tragédia estão bem, na medida do possível. Alan Ruschel voltou aos gramados, o zagueiro Neto deve retornar em 2018 e Follmann, que perdeu a perna, virou comentarista no Fox Sports e pensa em ser dirigente - chegou, inclusive, a se casar. E o jornalista Rafael Henzel voltou a narrar jogos do time pela Rádio Oeste Capital.
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E os bolivianos que se salvaram? Ximena Suarez largou temporariamente a carreira de comissária e, segundo entrevista concedida ao "El Pais", se aproximou de Deus. "Escrevi meu livro que espero lançar em breve", disse a moça, que tatuou o avião da Lamia no corpo e revelou estar se preparando para começar a dar palestras motivacionais.
Trabalhando atualmente como modelo na Bolívia, ela admitiu que sofre com pesadelos desde o dia do acidente e que ainda tem medo de entrar em aviões. Ximena toma remédios e visita regularmente psicólogos e psiquiatras com o intuito de se recuperar emocionalmente para voltar a trabalhar nos ares. "Quero voar de novo, é o meu sonho e minha paixão".
Já Erwin Tumiri tem uma vida bem menos agitada que a da compatriota, sem aparecer na mídia ou em redes sociais. Ele continua trabalhando como mecânico de aeronaves, mas voando com menos frequência, vive na Bolívia e participou de programas de TV no país explicando o que se passou naquele dia. Sua última aparição pública foi em abril, no programa "Don Franciso Te Invita", onde se encontrou com Teobaldo Garay, bombeiro que o resgatou na mata.
Culpada ou vítima?
A boliviana Celia Castedo Monasteri o era a funcionária da Asana (Administração de Aeroportos e Serviços Auxiliares de Navegação Aérea da Bolívia) no dia do acidente e detectou problemas no plano de voo, mas foi ignorada. Ela sabia do pouco combustível na aeronave da Lamia.
Ela ainda está sob investigação para saber qual era sua culpa em toda tragédia. Depois da queda do avião, Celia alegou ter sofrido ameaças de morte e pediu refúgio no Brasil, vivendo atualmente na cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, onde pretende tirar documentação brasileira, inclusive Carteira de Trabalho, para procurar emprego e não retornar mais à Bolívia.
De quem é a culpa?
Por ser um processo tratado em três países - Brasil, Colômbia e Bolívia -, muitas informações são desencontradas. Áudios divulgados pelo jornal boliviano "El Deber" sugerem que a venezuelana Loredana Albacete Di Bartolomé e o pai dela, o ex-senador Ricardo Alberto Albacete Vidal, controlavam a LaMia.
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Na teoria, porém, a companhia aérea pertence a Miguel Quiroga , piloto do avião que morreu no acidente, e a Marco Antonio Rocha, que está foragido. Tudo isso reforça os indícios apontados pelo MPF-SC (Ministério Público Federal em Santa Catarina) de que a LaMia não pertence aos donos informados no papel. Documentos encontrados apontam que a negociação do fretamento da aeronave teve a participação de Loredana Albacete.
"A Chapecoense continua, junto com os familiares, lutando para punir os verdadeiros culpados, que são os donos do avião. O pessoal incorreu no erro de derrubar o avião por falta de gasolina. Nós vamos processar esse pessoal para tentar deixar os familiares em uma condição boa, para que eles possam criar os seus filhos e ter um futuro tranquilo pela frente", disse o diretor de futebol João Carlos Maringá.