Um dos seis sobreviventes da queda do avião da Chapecoense no último mês de novembro, o jornalista Rafael Henzel lançou seu livro "Viva como se estivesse de partida", da editora Globo, onde ele conta os momentos que antecederam o acidente e também as mudanças pelo qual passou no período posterior à tragédia na cidade de Medellín, na Colômbia.
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Com mensagens de otimismo, superação, gratidão e valor à vida, Rafael Henzel apresenta um relato emocionante e repleto de declarações positivas sobre o voo que resultou na morte de jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas e tripulação.
Em conversa com a reportagem do iG , ele explicou o que o leitor pode esperar da obra. "Primeiro que não sou um escritor, sou um jornalista de uma cidade do interior de Santa Catarina que esteve, infelizmente, na maior tragédia do esporte mundial. E quando comecei a me recuperar bem, voltar para as redes sociais, aconteceu de as pessoas darem o feedback. De que a vida delas impactaram com a minha recuperação. 21 dias depois de um acidente aéreo eu já estava em casa, isso impactou a vida das pessoas", contou.
"E aí aconteceram convites se eu queria escrever alguma coisa sobre isso, então resolvi escrever. Mas não apenas sobre a tragédia, mas sim como eu consegui, dentro do possível, me superar fisicamente e psicologicamente para poder voltar a ter uma vida normal após tudo isso que aconteceu", completou Henzel.
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Para o jornalista, falar sobre a queda do avião todos os dias após o incidente não o incomoda nem um pouco. Muito pelo contrário, ajudou muito no seu processo de recuperação. Não só física, mas também psicologicamente.
"Isso me ajudou bastante, de poder conversar com as pessoas, externar aquilo que eu senti e vivi. E como jornalista tenho esse cuidado, de atender os colegas. Nesses 202 dias de vida, jamais deixei de falar um dia sequer do acidente, ou de pessoas que me perguntam nas ruas, entrevistas, populares. Isso não quer dizer que seja uma coisa ruim, sempre falo que falar da tragédia, de repente, me ajudou muito a me recuperar psicologicamente", explicou.
Recuperação dos seus pertences
Henzel admitiu na conversa com o iG que não esperava recuperar sua mala que estava no avião da Lamia no momento da queda. Mas ele teve seus pertences de volta. E no bate-papo dentro da livraria Saraiva, no Shopping Paulista, localizado na zona sul de São Paulo, ele revelou que estava usando uma calça que, curiosamente, era uma das peças de roupa da bagagem.
"É claro que isso sempre foi segundo plano para mim, não tinha nenhuma expectativa de recuperar nada. Mas vi num site que os sobreviventes tinham disponíveis para identificar algumas coisas que não haviam sido identificadas, e aí vi uma mala minha, achei que estivesse vazia. E coloquei meu nome", contou.
"Recentemente, quando as coisas chegaram a Chapecó, minhas coisas estavam todas lá. Estou, inclusive, usando essa calça, que estava na mala do acidente, uso as roupas desse dia. Recuperei minhas coisas de um momento ruim da minha vida", completou Henzel.
Processos contra a Chapecoense
A família do técnico Caio Júnior, morto no acidente, decidiu protocolar uma ação na Justiça para pedir indenização à Chapecoense - o valor gira na casa dos R$ 30 milhões. Essa quantia foi calculada com base em entendimentos já consolidados de tribunais sobre o assunto, considerada a expectativa de vida do ex-comandante e a sua última média salarial.
Mas é justo processar a Chape, que também é vítima na tragédia?
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"Isso é complexo. Sou sobrevivente, mas qualquer indenização que vier, seja da Lamia, da seguradora, do governo boliviano, sem ser hipócrita, quero ser o último a ser indenizado. Tem muita gente que está precisando. Tem a dor sentimental, o baque econômico das famílias que tinham nos jogadores a fortaleza financeira. Tudo isso é a Justiça que vai determinar. Também considero que a Chapecoense é vítima, que perdeu do presidente ao roupeiro, sem contar o sofrimento, mas a gente sabe a dor das famílias, que obviamente tentam buscar seus direitos", disse o jornalista.
"E ali na frente, que o bom senso e a Justiça definam qual é a responsabilidade de cada um. Mas a principal responsabilidade é de quem autorizou o voo, de quem não abasteceu o avião e que tirou essas vidas. Mas repito. As famílias têm todo direito e a Justiça vai decidir", finalizou Rafael Henzel.