BBC News Brasil

A queda do avião que levava a Chapecoense para disputar sua primeira final internacional na Colômbia também fez com que outros dois times locais perdessem jogos decisivos.

A decisão de biógrafo da Chapecoense, que escrevia último capítulo quando veio a tragédia

Os jogadores das equipes sub-11 e sub-12 da Chape, garotos de 10 a 12 anos, jogariam as finais de suas respectivas categorias no dia em que souberam da morte dos ídolos do time adulto.

Crianças lamentam tragédia com a Chapecoense
BBC
Crianças lamentam tragédia com a Chapecoense

"Sairíamos daqui ao meio-dia para fazer o primeiro jogo da final em outra cidade. Mas quando a gente recebeu a notícia, foi tudo cancelado", disse à BBC Brasil Nívia Bezerra, treinadora das categorias de base da Chapecoense.

"Eles me ligavam chorando, perguntando: 'E agora, profe? Como é que vai ficar a nossa Chape?'. Eu digo para eles que a gente é que vai lutar para reerguer a Chape. Ela não vai morrer."

Na última quarta-feira, durante a homenagem aos jogadores na Arena Condá, o grupo de meninos foi aplaudido e exaustivamente fotografado como o futuro da equipe catarinense.

Mas as fotos os mostravam cabisbaixos e desanimados. 

"Apareceram as imagens dos jogadores (no telão), aí não teve como segurar. Foi difícil", disse à BBC Brasil Rodrigo Pires, de 12 anos, que pretende ser um ponta-direita tão bom quanto o ídolo Lucas Gomes.

A tragédia nos transformou em uma torcida só, diz repórter colombiana sobre 'experiência mais difícil da carreira'

Mais animados, eles ensaiavam sua participação no funeral dos 51 chapecoenses mortos no acidente, que acontece neste sábado na Arena Condá, quando falaram à reportagem.

"Eles choram muito, mas já querem voltar a treinar", diz a treinadora.

"Desde o acidente, não tivemos treinos. Estamos nos vendo nas cerimônias de homenagem. Mas estamos preocupados, o clube vai disponibilizar psicólogos."

'Erguer a cabeça' 

O atacante Jefferson Douglas Pavão, de 12 anos, já fala como jogador de futebol experiente.

Também já adota um corte de cabelo ao estilo de atletas do Barcelona - o "segundo time" onde sonha trabalhar - que joga para o lado ao fazer fotos.

"Agora é erguer a cabeça e fazer de tudo para o time de se erguer de volta. Eu quero ser o novo Cléber Santana, gosto muito do jogo dele", diz. No ultimo campeonato sub-12, Jefferson marcou quatro gols.

Ao descrever as qualidades do jogador falecido, no entanto, ainda usa o verbo no presente.

"Ele toca bastante a bola, chama o time, chama a responsabilidade para ele e conduz o time dentro do campo."

E, ao relembrar o susto ao receber a notícia do acidente, os olhos marejam e o charme de jogador somem do rosto.

"Eu estava dormindo, aí minha mãe me acordou e falou que o avião da Chapecoense tinha caído. Eu chorei muito em casa, fui para o colégio e chorei lá também. Vi os meus amigos chorando, não aguentei e chorei junto."

Geração Chape

Luiz Felipe Hubner, de 10 anos, se emociona, ainda, ao relembrar o momento em que soube do acidente.

"Eu pensei que era mentira. Mas minha mãe me mostrou as fotos e eu comecei a chorar", diz, com a voz embargada.

Hubner é gaúcho e foi criado em Chapecó, mas não sonha com os clubes maiores do seu Estado natal.

Segundo Nívia Bezerra, a preferência pelo time local, que até pouco tempo sequer disputava a série A do campeonato brasileiro, é algo novo, e cada vez mais comum, na cidade.

Dono de avião que levava Chapecoense, piloto queria transportar Seleção Brasileira

"Os pais deles ainda torcem para Grêmio ou Inter e têm a Chapecoense como segundo time. Eles não. A geração deles é Chape."

Agora, Luiz Felipe tem mais um motivo para querer crescer no time - ocupar o lugar do goleiro Danilo.

"Os reflexos dele eram muito rápidos, né. Aquela bola do San Lorenzo…"

A "bola do San Lorenzo" também é objeto de reflexão filosófica para o zagueiro (que gostaria de ser volante) Tiago Cóser, de 12 anos.

A defesa de Danilo impediu o avanço do time argentino na Copa Sudamericana, tornou Danilo um herói local e garantiu a ida da Chapecoense para a Colômbia.

Por isso, entre as crianças, e alguns adultos, passou de mocinha a vilã da história.

"Tem gente que fala: 'Por que o Danilo não deixou aquela bola (do San Lorenzo, na semifinal) entrar?'", diz Tiago.

"Mas quem sabia que ia acontecer isso? Ele fez o milagre dele, mas não tinha como saber."

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!