Eleito o décimo melhor goleiro da história pela Federação Internacional de História e Estatística do Futebol (IFFHS), em 2012, em lista que relacionou os melhores da posição desde 1987, campeão mundial com a seleção brasileira em 1994, e títulos europeus, é dele mesmo que escrevo: Cláudio André Mergen Taffarel, ou simplesmente Taffarel, um dos nomes mais marcantes na mente do amante de futebol na década de 1990.
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Todos sabem que o time onde Taffarel 'apareceu' para o futebol foi o Internacional, em 1985, mas o que nem todos imaginam é que o gaúcho da pequena Santa Rosa começou, aos 17 anos, como goleiro no Tupi de Crissiumal, equipe do interior do Rio Grande do Sul. Depois disso, tentou a sorte em outro gigante de Porto Alegre, o Grêmio, porém foi reprovado. Na sequência, fez testes no Inter, mas também não passou. Somente na terceira tentativa, o goleiro foi aprovado no Colorado.
Ainda conhecido como Cláudio, o arqueiro foi promovido a titular em setembro daquele ano, mas mesmo com suas defesas, não conseguiu conquistar um título sequer. Ele chegou com o Inter à duas finais de Campeonato Brasileiro, em 1987 e 1988, mas seu time acabou derrotado por Flamengo e Bahia, respectivamente. Disputou ainda cinco finais do gauchão, porém perdeu todas para o rival Grêmio. Seu ciclo no Brasil encerrou-se em 1990.
Chegada à seleção
Suas boas atuações com a camisa colorada chamaram a atenção do técnico Carlos Alberto Silva, que comandava a seleção olímpica. Convocado para os Jogos de Seul, em 1988, Taffarel foi apresentado ao mundo com importantíssimas defesas e levou apenas dois gols até chegar a grande final do torneio contra a União Soviética. Na decisão, o Brasil perdeu por 2 a 1 e levou a medalha de prata. Antes, em 1987, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis.
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A bela campanha nos Jogos e as boas defesas do gaúcho fizeram com que Sebastião Lazaroni, técnico brasileiro, convocasse o goleiro para a Copa América de 1989, no Brasil. Com apenas um gol tomado em sete jogos, Taffarel se firmou com a camisa amarela e conquistou seu primeiro título como profissional. Após 40 anos a torcida brasileira voltava a festejar um caneco e ele se credenciava como o melhor goleiro do país.
Entretanto, no ano seguinte, na Copa da Itália, o arqueiro, apesar de levar apenas dois gols em quatro jogos, não conseguiu salvar a seleção de uma eliminação precoce. Nas oitavas de final, diante da Argentina, o País perdeu por 1 a 0 e o sonho do tetra foi adiado.
Ida à Europa
Logo após a Copa, o defensor tornou-se o primeiro goleiro brasileiro a jogar no futebol italiano. O Parma, que à época era patrocinado pela Parmalat, conhecida pelo grande investimento em clubes de futebol, foi quem contratou Taffarel. Lá ele venceu a Copa da Itália de 1992 e a Taça das Taças da Uefa, conhecida também como Recopa Europeia, de 1993, primeiro título internacional da equipe italiana.
No mesmo ano, foi emprestado ao Reggiana, também da Itália, e ficou lá até 1994. Suas boas defesas ajudaram a manter o time na primeira divisão e ele ainda foi considerado um dos melhores na posição do torneio. O maior desafio da carreira até então, estava por vir.
Glória na Copa de 1994
Convocado novamente para uma Copa do Mundo, após uma difícil eliminatória, onde o próprio goleiro falhou diante da Bolívia, Taffarel chegou aos Estados Unidos junto com uma seleção desacreditada pela torcida, mas tudo haveria de mudar. Na primeira fase o goleiro correspondeu e levou apenas um gol, no empate com a Suécia.
Nas oitavas, enfrentou o anfitrião Estados Unidos e em um jogo duríssimo venceu pelo placar mínimo. Passou pela Holanda nas quartas após vencer por 3 a 2 e conseguiu triunfar sobre a Suécia por 1 a 0 na semifinal e se credenciou para enfrentar a também tricampeã Itália na decisão.
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Após o empate sem gols nos 90 minutos e também nos 30 da prorrogação, a defesa verde e amarela, liderada por Taffarel, terminou o torneio com apenas três gols sofridos em sete jogos, uma das melhores do torneio. Nas penalidades, veio a consagração. O atacante Massaro bateu e o goleiro pegou, tornando-se o primeiro a defender uma cobrança em uma final de Copa do Mundo. Na sequência, Baggio bateu pra fora e a seleção brasileira se tornou a primeira tetracampeã do mundo. Taffarel conquistava seu maior título.
Volta ao Brasil
Em 1995, o gaúcho retornou ao Brasil, mais precisamente ao Atlético-MG, onde jogou até 1998 e fez 191 partidas. Recebido com muita festa pelos torcedores atleticanos, ele não fez feio e ajudou o time a ser campeão estadual no mesmo ano. Em 1997, conquistou a Copa Conmebol e também a Copa Centenário de Belo Horizonte. As belas atuações chamaram a atenção do Galatasaray, da Turquia, para onde ele se transferiu em 1998, mas antes, havia outro compromisso com a camisa canarinho.
Despedida triste
Após brilhar novamente em uma Copa América, a de 1997, onde o Brasil venceu a Bolívia na final e, antes disso, eliminou a Argentina no pênaltis na semifinal com duas defesas de Taffarel, Zagallo, o então técnico brasileiro, o convocou para sua terceira Copa. Dessa vez a seleção chegava como uma das favoritas, mas o penta não chegaria.
O arqueiro, no entanto, não fez feio. Sempre que exigido correspondeu e o grande desafio daquela Copa veio na semifinal, contra a Holanda. Após o empate no tempo normal por 1 a 1, a partida foi para as penalidades. Já considerado um exímio pegador de pênaltis, Taffarel defendeu as cobranças de Cocu e Ronald de Boer e colocou o Brasil em mais uma final.
A última partida do goleiro com a camisa amarela não foi positiva. Com o principal nome do time, Ronaldo, apagado, após sofrer convulsões antes da decisão, a França, com um Zidane inspirado, venceu por 3 a 0 e conquistou o título. Chegou o fim da era Taffarel à frente da meta brasileira. No total, ele atuou em 123 jogos.
Retorno à Europa
Acertado com o Galatasaray antes mesmo do Mundial da França, Taffarel viveu o ápice de sua carreira em clubes na Turquia e lá virou ídolo. No total, conquistou seis taças, sendo dois Campeonatos Turcos, em 1999 e 2000, duas Copas da Turquia, nos mesmos anos, uma Copa da Uefa, em 2000, e uma Supercopa da Uefa, também em 2000.
Na decisão da Copa da Uefa, o brasileiro parou o Arsenal de Henry, Bergkamp, Vieira, Overmars e Petit e a partida foi para os pênaltis. Mesmo sem defender nenhuma cobrança, o goleiro, com muita sorte, viu os chutes de Suker e Vieira baterem na trave e o time turco foi campeão pela primeira vez do torneio. Na chegada a Instambul, ele foi recebido como herói. Na Supercopa, a final foi contra o poderoso Real Madrid e seu time venceu por 2 a 1.
Aposentadoria
Taffarel se transferiu para a Parma, em 2001, primeira equipe que ele defendeu na Europa, e ainda conquistou mais um título: a Copa da Itália de 2002. No ano seguinte, aos 37 anos, um dos melhores goleiros que o futebol já viu, decidiu pendurar as luvas e as chuteiras.
Função fora dos gramados
Em 2014, Taffarel foi convidado por Dunga para ser preparador de goleiros da seleção brasileira, cargo que exerce até o momento.