Nós já perdemos. Perdemos a humanidade quando se vê gente nas baladas, bares e praias. Perdemos a humanidade quando alguém pensa apenas em si. Na sua idade, na sua faixa familiar, nos seus jovens amigos. Nós perdemos - perdemos, presidente - quando o coronavírus foi minimizado. Perdemos quando as providências demoraram um pouco mais. Mesmo que seja cinco minutos. Cada segundo faz diferença. Cada respiro.

Nós perdemos a batalha em cada morte. Em cada caso confirmado, a angústia ganha da razão. O medo do que vai vir é a sensação mais pura da angústia. Pode ser que tudo mude. Pode ser que tudo continue igual. Pode ser que exista algum problema perto: na rua, no mercado, em casa. Perdemos a batalha para um inimigo invisível.
Invisível, presidente, não significa imaginário.
Perdemos politizando a dor. Politizando o discurso. Querendo domar quem está sóbrio na batalha.
Nós perdemos - de goleada - no risco, na imprevisibilidade, na incerteza. Não só nós. O mundo perde todos os dias. Até de mais. Vida virou número. Placar. Estatística.
Somos derrotados na tosse e no espirro. Em qualquer sinal. Perdemos por antecedência. Sofremos por antecipação.
Dizer que ganhamos é perder feio também para o bom senso.
Nós estamos perdendo e a luta continua. Sem bombas, capacetes ou qualquer tipo de defesa.
Perdemos nossa maior arma: o abraço.