A contratação de Vítor Pereira como técnico do Flamengo no mercado da bola pode ser vista por dois prismas distintos. O esportivo e o moral. A negociação atinge diretamente o técnico Dorival Júnior e também a diretoria do Corinthians , que ainda não se manifestou sobre o tema.
Alguns pontos são importantes em toda a discussão em torno da contratação. O Flamengo tinha treinador, um técnico que venceu a Copa do Brasil e a Copa Libertadores, e negociava a renovação de contrato. Antes de Vítor Pereira, Jorge Jesus era uma opção. Ainda com um treinador campeão, o clube negociava com outros nomes. Ao saber das negociações, Dorival pediu demissão .
Mas Dorival não tem motivos para reclamar. Para assumir o Flamengo, ele deixou o Ceará no meio do Brasileirão. Enquanto celebrava títulos, o Ceará era rebaixado para a Série B. Como diz aquele velho ditado, “Pau que bate em Chico, bate em Francisco”.
Do ponto de vista esportivo, o Flamengo deve ganhar muito. Com um time inferior ao Rubro-Negro, Vítor Pereira conseguiu levar a decisão da Copa do Brasil para os pênaltis e terminou o Brasileirão em uma posição melhor. O português não será uma aposta. Com o melhor elenco do país em mãos, só terá um adversário, o do compatriota Abel Ferreira. E será cobrado por isso, mais do que foi no Corinthians, onde não tinha obrigação de ser campeão neste primeiro momento.
Ao deixar o Corinthians no fim do seu contrato, o português Vítor Pereira disse: "Sinto-me muito triste, queria muito continuar este projeto, mas não tenho hipótese nenhuma. Não vou para clube nenhum, não vou para canto nenhum. Vou para casa, tenho de ajudar a estabilizar um pouco o processo da doença da minha sogra, que está a viver na minha casa. Por isso tenho que voltar para lá. Queria ficar aqui, mas não posso. O dia a dia do Corinthians é de tranquilidade. Toda a gente me apoiou, grande amizade com o presidente. Nunca tive problemas, de vez em quando inventam coisas mas nunca tive problemas. É muito fácil liderar este plantel, muito fácil", disse à ESPN.
Ele mentiu durante todo esse tempo? Há motivos para duvidar de tudo que foi dito por Vítor Pereira – e até por Duílio – desde que toda a novela da renovação começou.
Certamente vai ter que se explicar muito nas primeiras entrevistas. E quando jogar contra o time que deixou alegando problemas familiares? Óbvio que ele tem o direito de escolher onde quer trabalhar e com quem deseja seguir, no entanto, mostrou que ética não existe. Acabou o contrato? Tchau. O que não pode é criar histórias para não ficar e menos de um mês depois acertar com um rival. Isso é trair milhões de torcedores e até mesmo antigos comandados.
Há outros tantos casos semelhantes no Brasil e no mundo. Um deles, o de Figo trocando Barcelona pelo Real Madrid, virou até documentário da Netflix. Por aqui, podemos lembrar de casos recentes, como Lucas Lima (do Santos para o Palmeiras), Guerrero (do Corinthians para o Flamengo), Ricardinho (do Corinthians para o São Paulo), Fred (do Atlético-MG para o Cruzeiro) e tantos outros.