Helio Castroneves
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O whatsapp do jornalista Américo Teixeira Junior não parou de tocar a partir das 17h do último domingo. Ele é o assessor de imprensa do piloto Helio Castroneves, que entrou definitivamente para a história do automobilismo no domingo, dia 30 de maio, ao vencer pela quarta vez as tradicionalíssimas 500 milhas de Indianápolis.

O Américo tentou gentilmente atender a todos os jornalistas ansiosos, marcando uma live com o tetracampeão. A primeira tentativa para terça, dia 1º, foi marcada e pouco tempo depois cancelada. A agenda de um vencedor em Indianápolis não é mole. Não demorou a chegar uma nova mensagem para marcar uma nova data. E aí foi para valer.

Nesta quarta, às 17h30, por mais de uma hora, Hélio Castroneves respondeu, sempre simpático, às perguntas de cerca de 40 jornalistas brasileiros e estrangeiros. Eu confesso que entrei na live esperando ouvi-lo falar sobre as enormes dificuldades de, aos 46 anos, vencer mais uma vez uma das principais corridas do mundo, numa equipe nova - a Meyer Shank Racing -, que nunca havia vencido uma corrida sequer.

(Veja na galeria abaixo fotos da vitória do piloto)

Pois bem. O que mais me chamou a atenção durante o papo foi a naturalidade de Helinho para explicar a corrida, a estratégia e a convicção dele de que aquela vitória não escaparia. Como se fosse a coisa mais tranquila do mundo guiar a quase 400 km/h, contra outros 32 concorrentes, por três horas.

"Muita gente não tinha ideia da máquina que eu tinha nas mãos. Meu carro estava tão bom, que eu poderia ultrapassar a hora que quisesse. Eu estava realmente confortável. Nas últimas 20 voltas, eu percebi que não perderia a corrida", afirmou Hélio. Lendo, assim, parece uma declaração marrenta. Muito longe disso! Foi uma explicação serena, de quem parece saber exatamente o que tinha que fazer ao longo de todos os treinos e da corrida.

Claro que é fácil falar depois que acaba, mas a verdade é que Hélio largou em oitavo, não caiu para trás de sétimo em momento algum e chegou com o carro inteiraço no momento mais emocionante e decisivo, quando a disputa pela vitória ficou entre o ele e o espanhol Alex Palou. E aí foi preciso mover as peças como se estivesse em um jogo de xadrez, só que a 400 km/h, com o muro logo ali.

"Praticamente, eu não falei nada com a equipe a corrida inteira, mas eles iam entendendo as modificações que eu ia fazendo no carro. O carro não me deu susto em momento algum na corrida, o que é muito raro. Não tive nenhum problema. Eu não queria liderar a corrida inteira, eu só queria saber com quem eu estaria brigando no fim. E foi com o Palou. Fiz umas ultrapassagens para sentir e ele vinha e me passava de novo. Percebi que ele estava rápido e resolvi escoltá-lo por algumas voltas. Decidi que, na bandeira branca (que indica última volta), eu teria que passá-lo, mas vi os retardatários chegando e decidi passar antes, usando exatamente os retardatários para me puxar, eu pegava o vácuo deles. Abrindo a última volta, cheguei no tráfego muito rápido e foi bom para mim. Muitos pensaram que iriam me atrapalhar, mas pelo contrário. Quando saí da curva 4, foi só comemorar a vitória", detalhou.

Hélio revelou que não correu sentado sozinho naquele cockpit. "O André Ribeiro praticamente guiou comigo. Eu tinha uma homenagem para ele na parte de trás do meu capacete. André sempre foi educado, atencioso e com pensamento positivo comigo. Era uma pessoa incrível e inteligente. Fiquei muito triste com a morte dele e o mínimo que poderia fazê-lo era homenageá-lo".

Com essa enorme ajuda espiritual, Hélio chegou à quarta vitória na Indy 500. Será que existe diferença no sentimento de cada uma dessas conquistas? "A primeira é a primeira. Foi quando percebi a magnitude de vencer lá. A segunda foi incrível, porque foi logo em seguida e fui um elemento-surpresa naquela prova. Na terceira, eu não sabia nem se estaria no campeonato, porque estava me defendo na Justiça americana. Venci e foi uma emoção incrível. Essa quarta se torna especial porque fiz muito sozinho, não tinha uma grande equipe para vencer a corrida, as apostas não estavam na gente pela equipe nunca ter vencida uma corrida. É uma conquista pessoal, um fato histórico. Depois de 30 anos, um piloto conquistou as 500 Milhas de Indianápolis pela quarta vez".

Aí qualquer um pode pensar: "Esse cara acabou de se igualar a AJ Foyt, Al Unser e Rick Mears na Indy 500. Deu, né? Aos 46 anos, vai parar, aproveitar a vida e lembrar com carinho das conquistas". Aham... Lá pelas tantas, um colega argentino resolveu perguntar sobre a idade de Hélio e ele logo se posicionou:

"Não me preocupo com rótulos, nem com que os outros falam", disse, completando o tema em outra pergunta. "Tem sempre lugar para a gente seguir crescendo. Eu sou como uma flor que está se abrindo bem tarde. Sou apaixonado por correr e, claro, não treino mais intensamente como antes, não tenho 20 anos. Todos os detalhes vão ajudando para que você se mantenha competindo e de cabeça mais aberta".

Assim sendo, um outro colega resolveu perguntar por que Hélio não tentava a sorte na Nascar, quem sabe buscar uma vitória na Daytona 500 e se igualar a AJ Foyt e Mario Andretti como pilotos que venceram as duas principais 500 milhas do mundo. A resposta de Hélio? "Boa ideia!", exclamou, continuando: "O Roger (Penske, chefe da tradicional equipe onde Hélio escreveu a maior parte de sua história) nunca me deixou correr na Nascar. Quero correr em Daytona, quero correr em Le Mans e vou tentar o penta da Indy 500".

Para finalizar, após todas as perguntas, Américo passou a última palavra a Helinho para se despedir. Ele disparou: "Esse não é o fim, pelo contrário, é só o começo". É ou não é uma flor se abrindo?

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