Vocês se lembram que escrevi na coluna de ontem sobre a possibilidade de chuva, que deixaria ainda mais divertido no GP da Emilia-Romagna? Pois bem, dito e feito. Até não choveu forte, mas foi o suficiente para uma enorme quantidade de erros, escapadas, rodadas, toques e acidentes. Olhem, meus amigos apreciadores daquele cheirinho delicioso de borracha e gasolina queimadas, é claro que a pista molhada é um desafio extra pros pilotos, mas confesso que fiquei surpreso com as várias barbeiragens. Passaram do ponto! Estamos falando da principal categoria do mundo, com, em tese, os melhores pilotos do mundo. E reparem no relato abaixo que aconteceu com quase todo o grid, até com o fenomenal heptacampeão Lewis Hamilton.

Vamos à corrida! O GP da Emilia-Romagna começou antes da largada. Com a chuvinha fina, aquela que transforma o asfalto num sabão e gera aquele spray de-li-ci-o-so na cara de quem vem atrás, o trabalho das equipes nos carros foi frenético no grid até a partida pra volta de apresentação. Que pneu usar? Em que ajustes mexer? Isso gerou, obviamente, uma tensão extra nos pilotos.

Charles Leclerc, da Ferrari, rodou ainda na volta de apresentação. Na sequência, a largada foi daquele jeito que a gente gosta. Max Verstappen acelerou bem demais, atacou e ganhou a primeira posição do pole position Lewis Hamilton. O britânico não vendeu barato e os dois até se tocaram de leve. Pior pro heptacampeão, que teve que passar por cima dos kerbs, aqueles quebra-molas amarelos, e afetou a asa dianteira. Hamilton brigou para manter a ponta, porque sabia que o ritmo de corrida da Red Bull seria melhor.

O festival da lambança continuou: Nikita Mazepin e Nicholas Latifi se tocaram e o canadense deu no muro. Safety car na pista. No balé de aquecimento de pneus (nossa, isso é muito anos 80 e entrega que já passei dos 40), Mick Schumacher perdeu o carro e deu de bico na parede próxima à saída do box. Sergio Perez, que largou mal e caiu de segundo pra quarto, também foi passear fora do traçado, mas por sorte não bateu e seguiu em frente. Mas, quando ele voltou pra pista, ultrapassou de forma irregular, sob regime do safety car, dois carros para voltar ao quarto lugar e tomou uma punição de 10 segundos. O mexicano ainda escapou da pista mais vezes durante a corrida. Assim, fica difícil permanecer num grande time como a Red Bull.

A relargada foi na sexta volta, Hamilton tentou recuperar a liderança, não conseguiu e viu Verstappen disparar, abrindo mais de cinco segundos. O heptacampeão também abriu grande vantagem sobre Leclerc, o terceiro. Se, na frente, não tinha briga, no meio do pelotão, as ultrapassagens davam graça à corrida. Destaque para Lando Norris, que falou até para a McLaren pedir pro companheiro Daniel Ricciardo abrir caminho, tão bom era o ritmo do talentoso inglês.

Quando a pista começou a secar, Hamilton foi aos poucos diminuindo a diferença e, quando já estava abaixo de dois segundos, Verstappen parou pra trocar pneus. Hamilton entrou no box na volta seguinte e, com uma parada mais lenta, voltou atrás do rival. Só que, pouco depois, Hamilton tentou ultrapassar um retardatário, escapou e tocou o bico no muro. A imagem curiosa foi ele dando uma longa ré até a pista. Não me lembro de ver um carro de Fórmula 1 voltar à pista dessa forma. Se algum de vocês se lembrar, deixa um comentário aqui no fim da coluna.

E o festival da lambança seguiu firme e forte! Segundos depois de Hamilton, foi a vez de George Russell, da Williams, tentar ultrapassar Valtteri Bottas (que fase, Bottas!). Os dois se tocaram, bateram forte no muro, emporcalharam a pista e a corrida foi interrompida com bandeira vermelha. E aí caímos num dilema: Bottas mexeu de forma irregular pra direita, jogando Russell pra grama, que perdeu o carro e acertou Bottas; ou Russell tinha espaço para fazer a manobra sobre Bottas, mas se assustou, botou a roda na grama por imperícia e acabou com a corrida dos dois? Eu fico com um pouco de cada situação: Bottas mexeu, sim, mas deixou espaço suficiente para Russell completar a ultrapassagem. Russell se assustou, digamos, mais do que deveria.

Russell esbravejou pelo rádio e saiu do carro querendo briga! Foi até o carro de Bottas, vociferou e deu um tapinha no capacete do finlandês. Não chegou nem perto do que Piquet fez com Salazar, é verdade, mas fiquei preocupado com a reação de Bottas após sair do cockpit. Mas o finlandês é frio, não reagiu no momento e ainda pôs panos quentes no episódio mais tarde na entrevista.

Na volta de apresentação antes da relargada, Verstappen chegou a dar uma escapada, mas conseguiu seguir na pista. Um troço impressionante tantos erros assim! Mas, na relargada, depois de 25 minutos de interrupção, o holandês segurou a ponta e Norris fez linda ultrapassagem sobre Leclerc para assumir a segunda posição. Hamilton, com um carro melhor que a concorrência, veio pouco a pouco ganhando posições depois de cair pra nono, após cometer aquela barbeiragem. Sim, o fenômeno também é humano. Quando chegou ao quinto lugar, a briga ficou boa por uma posição no pódio. Norris, Leclerc, Carlos Sainz e Hamilton, do segundo ao quinto, todo mundo perto. A essa altura, Verstappen seguia num tranquilo sunday drive até a vitória.

No fim, a melhor disputa da corrida foi pelo segundo lugar. Hamilton tentou três vezes, mas o compatriota Norris fechou a porta, até que não deu mais pra segurar e o heptacampeão fez a ultrapassagem. Só que não tinha como Hamilton ameaçar Verstappen, a diferença já era de mais de 20 segundos e faltavam quatro voltas pro fim. Vitória de Vertsappen, com Hamilton em segundo e Norris, um dos destaques da corrida, eleito até o piloto do dia na votação oficial da Fórmula 1, em terceiro.

Mas, pra mim, o maior destaque foi mesmo Verstappen: baitas largada e relargada e um ritmo de corrida muito superior aos rivais. Não deu a menor chance à concorrência, ainda mais com o erro de Hamilton, o único que podia ameaçá-lo. E o campeonato tá animal: Hamilton tem 44 pontos e, graças ao ponto extra da volta mais rápida, está na frente de Max Verstappen, que tem 43.

Splash and Go (ou rapidinhas)

- Precisamos falar de Sebastian Vettel. Que faaaaaase! Ele classificou apenas em 13º, largou dos boxes, foi punido com 10 segundos e abandonou com problemas de câmbio. Depois de um péssimo 13º lugar no campeonato passado pela Ferrari, ele foi pra Aston Martin e segue firme na má fase. Será que o tetracampeão voltará a ser protagonista?

- Vale o registro: Fórmula 1 e MotoGP se uniram para uma emocionante e merecida homenagem a Fausto Gresini, mais uma vítima da terrível Covid-19. Pouco antes da largada da prova da MotoGP, integrantes das duas categorias se posicionaram para um minuto de silêncio, tanto em Ímola, cidade de Gresini, onde a Fórmula 1 está neste fim de semana, quanto em Portimão, onde a motovelocidade está correndo. O ex-piloto bicampeão das 125 cc e ex-dono de equipe faleceu em 23 de fevereiro, aos 60 anos.

- A Fórmula 1 anunciou uma nova corrida para 2022, num circuito de rua em Miami. A pista será montada no entorno do Hard Rock Stadium, casa do Miami Dolphins, um dos mais tradicionais times da NFL, a liga profissional de futebol americano. O contrato é de 10 anos e a corrida deve acontecer no segundo trimestre do ano que vem, num traçado de 5,4km, com 19 curvas, três retas e possibilidade de três zonas de asa móvel. A categoria não corre na Flórida desde 1959, em Sebring, com vitória do lendário Bruce McLaren.

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