A temporada de 2019 despontou com o maior pico de globalização do MMA – sobretudo do UFC . E prova disso são os números. Os 12 possíveis cinturões da organização estão divididos em oito países diferentes que representam cinco dos seis continentes do planeta – sendo a Antártida o único território sem um campeão.
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Mas como a região polar do sul do globo não conta com população permanente, muito menos com uma nação, é possível afirmar que o Ultimate conta com atletas de elite em todos os cantos do planeta.
E a globalização do MMA é benéfica em todas as instâncias. Além de popularizar o esporte em si, é perfeito para o UFC do ponto de vista dos negócios. Nesta temporada, o meio-médio (77 kg) Kamaru Usman e a peso-palha (52 kg) Weili Zhang fizeram história ao se tornarem os primeiros campeões do continente africano e da China – país mais populoso do mundo -, respectivamente. E a geração de ídolos internacionais é a principal alavanca para o Ultimate conquistar novos mercados.
Além de atrair níveis de audiência cada vez maiores e de diversos países, o Ultimate caminha a passos largos para expandir também seu leque na realização de eventos da liga. Concentrados atualmente principalmente nos EUA e na Europa, a companhia vai quebrando paradigmas ao ‘pousar’ em destinos inéditos em sua história - como Uruguai, em agosto deste ano.
O único continente – tirando a Antártida – que ainda não recebeu um card do Ultimate foi a África . Mas a pergunta atualmente a ser feita quanto ao assunto não é se isso um dia vai acontecer e sim, quando. Afinal de contas, os lutadores africanos cada vez ganham mais espaço dentro da liga. Além de Usman, o também nigeriano Israel Adesanya detém o cinturão dos pesos-médios (84 kg).
E correndo por fora, mas também com grande destaque, o camaronês Francis Ngannou é um dos principais postulantes ao título dos pesos-pesados, além de ser um dos atletas mais temidos do esporte nos dias de hoje. Logo, é justificado o interesse de Dana White, presidente do UFC, em realizar um show no continente africano.
Outro território que ganhou força nos últimos anos e se estabeleceu ainda mais em 2019 como uma potência no MMA foi a Rússia, maior país do planeta. Liderado pela imagem de Khabib Nurmagomedov, campeão peso-leve (70 kg) do UFC e um dos lutadores mais dominantes da história, o esporte na Rússia cresce cada vez mais com a chegada de prospectos de talento no Ultimate como o peso-pena (66 kg) Zabit Magomedsharipov e o peso-galo (61 kg) Petr Yan, que vislumbram atualmente um ‘title shot’ em suas respectivas categorias.
Outra nação que amplioun sua tradição em 2019 foi a Austrália. E prova disso foi a edição histórica de número 243 da companhia. Com sede em Melbourne (AUS), o card reuniu cerca de 57 mil pessoas – recorde de público da liga - no ‘Marvel Stadium’, em fevereiro. Naquela oportunidade, o público assistiu Robert Whittaker, principal nome da região, perder seu cinturão dos pesos-médios para Adesanya.
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No entanto, o fim de 2019 reservou uma grata surpresa aos australianos. Alexander Volkanovski se tornou o campeão peso-pena ao superar Max Holloway, no último sábado (14), em Las Vegas (EUA).
Além destas regiões, vale ressaltar também o México, que sofreu um ‘boom’ de popularidade em 2019, principalmente com a realização do card no país, em setembro deste ano. Com nomes em destaque no UFC como Yair Rodriguez, Alexa Grasso e Irene Aldana, que prometem disputar o cinturão de suas respectivas divisões de peso no futuro, os mexicanos estão cada vez mais envolvidos com a cultura do MMA.
O fenômeno da globalização do MMA não atinge somente países de tradição e relevância. Regiões modestas e sem lastro no esporte também foram bem representadas por atletas pontuais. O Quirguistão, localizado na Ásia, conta com a campeã peso-mosca (57 kg) Valentina Shevchenko como principal astro e espelho da nação. Além dele, o acanhado Suriname também caminha a passos largos para ganhar um verdadeiro ídolo, Jairzinho Rozenstruik.
O peso-pesado, que tem o nome inspirado no antigo craque da seleção brasileira de futebol, despontou como o pesadelo da categoria mais pesada do MMA. Em 2019, ‘Bigi Boy’, como é conhecido, estreou no UFC e nocauteou seus quatro adversários. A temporada perfeita fez com que a revelação dos pesos-pesados se credenciasse para um confronto diante de Ngannou. O duelo de nocauteadores promete garantir ao vencedor da disputa uma chance pelo cinturão – que hoje pertence a Stipe Miocic.
E o futuro da globalização do esporte também parece promissor. Para 2020, o Ultimate planeja pousar pela primeira vez na França. O país europeu é um dos mais conservadores com relação a prática das artes marciais mistas. No entanto, o MMA será legalizado e reconhecido como esporte na região na próxima temporada. Sendo assim, é muito provável que o UFC desembarque por lá pela primeira vez na história, em busca de novos mercados.
O Ultimate vai, cada vez mais e de forma mais efetiva, se adaptando ao fenômeno da globalização. E caso faça por onde, a tendência é que a marca bilionária valorize ainda mais seu nome e fature cifras cada vez mais astronômicas no futuro. Tudo isso com o poder de inclusão no esporte que, além de trazer entretenimento, transforma as vidas das pessoas que o praticam ou o vivenciam. É um negócio sem margem de fracasso, e o UFC sabe muito bem disso.