Argelina Imane Khelif (Vermelho) durante a luta contra a italiana Angela Carini (Azul) na categoria até 66 quilos do boxe feminino dos Jogos de Paris
MOHD RASFAN
Argelina Imane Khelif (Vermelho) durante a luta contra a italiana Angela Carini (Azul) na categoria até 66 quilos do boxe feminino dos Jogos de Paris
MOHD RASFAN

Em seu pequeno povoado na Argélia, a boxeadora Imane Khelif é um 'modelo' de coragem para jovens esportistas e "uma heroína" para seu pai, que a defende dos que pedem sua exclusão dos Jogos Olímpicos por suspeitas sobre seu gênero.

Khelif, que neste sábado pode conquistar a primeira medalha da Argélia em Paris, é uma das duas boxeadoras na competição que foram reprovadas em um teste de gênero para a disputa do Mundial feminino de boxe no ano passado.

As imagens da vitória de Khelif sobre a italiana Angela Carini, que desistiu do combate após apenas 46 segundos depois de sofrer vários golpes, provocaram um incêndio nas redes sociais com várias referências do esporte e figuras políticas pedindo sua exclusão dos Jogos, enquanto o COI defende sua presença em Paris.

"Minha filha é uma menina. Nós a criamos como uma menina. É uma menina forte. Eu a eduquei para que trabalhasse e fosse corajosa", afirma Omar Khelif, pai da boxeadora, na casa da família em um humilde vilarejo rural localizado a dez quilômetros da cidade de Tiaret.

Ao lado dos dois filhos mais novos, Omar mostra orgulhoso uma foto de Imane, aos sete ou oito anos de idade, sorridente com tranças no cabelo, e uma série de documentos de identidade e certidões de nascimento.

Para ele, que trabalha como soldador, a vitória sobre Carini aconteceu "porque minha filha era mais forte e a outra mais fraca".

Imane "tem uma força de vontade para o trabalho e para o treino", ressalta Omar. "Sua paixão pelo esporte vem desde pequena. Ela era sempre a melhor em todos os outros esportes, no atletismo e no futebol".

O pai acompanha empolgado a carreira da filha, embora no início tenha demorado a aceitar que ela subisse nos ringues. A própria boxeadora relatou isso em um vídeo gravado para o Unicef, órgão do qual é embaixadora.

"Venho de uma família conservadora. O boxe não era um esporte muito popular entre as mulheres, especialmente na Argélia. Foi difícil", explicou Imane à emissora de TV local Canal Algérie, um mês antes dos Jogos Olímpicos.

- Esquecer as críticas -

Além dos preconceitos, Imane também lutou para financiar suas viagens até Tiaret e depois para atravessar os quase 300 quilômetros que separam seu vilarejo da capital, Argel.

Quando adolescente, a boxeadora vendia sucata e sua mãe vendia cuscuz que preparava em casa.

Horas antes de Imane enfrentar a húngara Anna Luca Hamori por uma vaga nas semifinais da categoria 66 quilos, Omar Khelif posa feliz diante da câmera, com os punhos cerrados e levantando os braços para incentivar a filha, de quem agora é o maior admirador.

"Imane é um exemplo de mulher argelina. É uma das heroínas da Argélia. Se Deus quiser, ela vai nos honrar com uma medalha de ouro e levantar a bandeira nacional em Paris", diz Omar. "Esse é o nosso único objetivo desde o início".

A mesma emoção é vivida no clube esportivo da Defesa Civil local, onde Imane começou no boxe.

Um grupo de meninas de todas as idades se aquece e pula corda antes do treino sob a orientação do técnico Abdelkader Bezaïz.

"Desejamos a ela tudo de bom. Ela é realmente a atleta que nos dá orgulho. Honrou a bandeira nacional. É o nosso modelo a seguir", reconhece Zohra Chourouk, de 17 anos.

Bezaïz também quis enviar uma mensagem a Imane.

"Não se incomode com as críticas que circulam pelas redes sociais. O objetivo é claro: te confundir e te fazer esquecer por que está nos Jogos Olímpicos".

    AFP

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