Os incentivos ao esporte é uma pauta comum em discussões políticas e sociais. Para além dos seus benefícios para o corpo e a mente, as competições esportivas são valorizadas na sociedade há milhares de anos – há registros escritos dos Jogos Olímpicos datados de 776 a.C. Porém, há uma forma de incentivo muito mais recente e que está ganhando destaque: as apostas esportivas.
À primeira vista, pode parecer que este é um mercado cuja única finalidade seja a de realizar transações financeiras mediante apostas em competições, equipes, atletas e outros acontecimentos do mundo do esporte, mas vai muito além disso. Os impactos que essa indústria podem causar em todo o cenário esportivo, nacional e internacional, merecem ser conhecidos e analisados para que se possa dar conta de seu potencial.
Movimentando cifras bilionárias todos os anos (e com a previsão de seguir aumentando), esta pode ser uma forma de fomentar o esporte e, assim, torná-lo cada vez melhor e mais rico – tanto em termos técnicos quanto financeiros.
O mercado global de apostas esportivas e seu potencial
Alguns dados ajudam a compreender a dimensão deste mercado, como os divulgados pela GlobalData , mostrando o tamanho do mercado global de apostas esportivas de 2017 a 2021:
- 2017:
US$ 83 bilhões;
- 2018:
US$ 93 bilhões;
- 2019:
US$ 111 bilhões;
- 2020:
US$ 85 bilhões;
- 2021:
US$ 101 bilhões.
Cabe ressaltar aqui, que a queda ocorrida no ano de 2020 deve-se muito ao período da pandemia de Covid-19, mas ainda assim, foram movimentados mais de US$ 232,2 milhões por dia naquele ano.
A Grand View Research, por sua vez, afirma que o mercado global de apostas esportivas foi responsável por movimentar US$ 83,65 bilhões em 2022 , com a estimativa de apresentar uma taxa de crescimento anual composta (CAGR, ou Compound Annual Growth Rate) de 10,3% de 2023 a 2030, atingindo um valor de mercado de aproximadamente US$ 182,12 bilhões neste último ano.
Quando olhamos para diferentes fontes, os números mudam um pouco. De acordo com a Vantage Market Research, as apostas esportivas movimentaram US$ 81,03 bilhões em 2022 e devem apresentar uma CAGR de 9,5% entre 2023 e 2030, atingindo US$ 167,50 bilhões neste último ano.
Embora haja variações naturais entre diferentes pesquisas, o fato é que este é um mercado que movimenta dezenas de bilhões de dólares anualmente e que as perspectivas para o futuro são ainda melhores.
Olhando para a realidade do Brasil, os valores também são bem altos. As apostas esportivas foram legalizadas no país em 2018, por meio da Lei 13.756/18 e, de acordo com uma matéria do Valor Investe, este mercado movimentou R$ 2 bilhões em 2018 . Dados do site MKT Esportivo mostram que o valor atingiu R$ 7 bilhões em 2020 e, em 2023, o faturamento deve atingir R$ 12 bilhões , conforme dados do BNL Data.
Os benefícios que o mercado de apostas esportivas oferece aos clubes, federações e eventos no Brasil
Aprofundando um pouco mais, podemos enxergar o impacto que este mercado oferece também aos clubes, equipes, federações e eventos esportivos em geral.
Impacto nos clubes
Começando pelos clubes brasileiros, de acordo com um levantamento do UOL , 19 dos 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro possuem algum contrato com sites de apostas, com exceção do Cuiabá. Os valores aproximados que cada equipe recebe dessas empresas por ano é o seguinte:
- Corinthians:
R$ 35 milhões;
- Botafogo:
R$ 27,5 milhões;
- Cruzeiro:
R$ 25 milhões;
- Flamengo:
R$ 24 milhões;
- São Paulo:
R$ 24 milhões;
- Internacional:
R$ 23 milhões;
- Vasco:
R$ 22,4 milhões;
- Fluminense:
R$ 20 milhões;
- Fortaleza:
R$ 20 milhões;
- Grêmio:
R$ 20 milhões;
- Bahia:
R$ 19 milhões;
- Athletico-PR:
R$ 16,6 milhões;
- Atlético-MG:
R$ 15 milhões;
- Santos:
R$ 15 milhões;
- Palmeiras:
R$ 8 milhões;
- América-MG:
R$ 8 milhões;
- Coritiba:
R$ 7 milhões;
- Goiás:
R$ 5 milhões;
- Bragantino:
não divulgado.
Esse montante supera os R$ 330 milhões por ano, um valor e tanto. Além disso, ao olhar individualmente para cada equipe, nota-se como o dinheiro é importante para o planejamento dos times, seja para contratar novos jogadores, pagar a folha salarial, investir nas categorias de base ou usar para quaisquer outros fins.
Tamanho é o potencial deste mercado aqui no Brasil que dos 19 times da Série A do Brasileirão em 2023, 12 deles estampam a marca no espaço de patrocinador master, a cota mais cara de patrocínio do uniforme. Ao todo, são 10 marcas diferentes.
Ao olhar em um nível mais regional, vemos que a penetração da indústria de apostas esportivas também ocorre em clubes de menor porte. Também em 2023, 83% dos clubes do Campeonato Carioca eram patrocinados por casas de apostas , de acordo com informações do site iGaming Brazil; e 81% dos times do Campeonato Paulista eram patrocinados por empresas deste segmento , conforme informações do Lance!
Impacto nas federações e eventos
O mercado de apostas esportivas também impacta as federações. Um exemplo é a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ), que fechou com 3 empresas de apostas esportivas, além de ter vendido os naming rights do torneio para outra empresa do ramo, como mostra o site iGaming Brazil.
Uma notícia um pouco mais antiga, de 2022, mas que mostra o crescimento deste segmento, é que a Federação Paulista de Futebol (FPF) comercializou os direitos oficiais de dados do Paulistão 2022 por meio de sua parceira oficial de dados, o que é parte de um processo de proteção da marca e dos dados que são gerados todos os anos. A informação é do site MKT Esportivo.
A nível nacional, temos outros movimentos similares. De acordo com o Lance!, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) vendeu tanto os naming rights do Campeonato Brasileiro da Série B quanto da Supercopa do Brasil para a mesma empresa de apostas esportivas. Considerando que são duas competições nacionais, disputadas por algumas das maiores equipes do país, o movimento chama atenção.
Recentemente, os sites de apostas esportivas também estão adquirindo naming rights de torneios de outros esportes, como do Grande Prêmio Brasil de Turfe.
Como o mercado de apostas esportivas impacta na integridade do esporte?
Este é outro ponto que está muito em voga ultimamente, em especial pela Operação Penalidade Máxima, iniciada pelo Ministério Público de Goiás. Em suma, a operação investiga indícios de manipulação de resultados em competições esportivas brasileiras, o que teve repercussão interestadual e até internacional.
Depois do ocorrido, algumas casas de apostas se uniram e lançaram o Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR), de modo a ajudar nas discussões e desenvolvimento do mercado nacional. Além disso, elas se manifestaram a favor da regulamentação do setor para evitar novos casos desse tipo.
Assim, com base nesses fatos, é possível dizer que o mercado de apostas em si, não impacta a integridade do esporte: o grande problema está em quem quer agir de má fé por meio dos palpites.
Porém, uma vez que problemas como esses aconteceram, tal como ficou claro com a Operação Penalidade Máxima, as casas de apostas se uniram para defender a regulamentação e, assim, pensar em maneiras de evitar que situações desse tipo aconteçam, de modo a permitir que tanto as competições esportivas quanto as apostas possam ser realizadas sem qualquer problema.
Este é um tema que ainda será muito debatido, dado seu impacto na sociedade e no esporte. Porém, uma coisa é certa: o mercado de apostas esportivas, que já é grande em todo o mundo e está crescendo no Brasil , chegou para ficar e só tem a crescer.