Entenda os motivos que podem explicar Corinthians mais pragmático e menos ofensivo com Vítor Pereira
Rafael Marson
Entenda os motivos que podem explicar Corinthians mais pragmático e menos ofensivo com Vítor Pereira


Na Europa ou na China, Vítor Pereira ficou conhecido por ser um profissional fissurado pelo aspecto tático do jogo, capaz de equilibrar solidez defensiva com domínio através da posse de bola e pressão pós-perda. No Corinthians , o treinador lusitano vem desenvolvendo o primeiro aspecto com maestria, mas o domínio ofensivo é algo que ele ainda não conseguiu estabelecer.

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- Não consigo esperar pelo jogo, nem estar muito tempo de fora, sem treinar. Sou mais de risco, gosto de arriscar, sou muito intuitivo e quando sinto que tenho que arriscar, arrisco (…) Eu habituei-me a trabalhar em equipes grandes, dominadoras, que gostam de ter a bola e dominar o jogo tendo a bola, que gostam de ser agressivas em termo de vista defensivo, que gostam de ser controladoras. Foi assim que eu fiz minha formação enquanto treinador - disse Vítor ao quadro “Perfil”, da Corinthians TV, quando chegou ao Brasil.

Nas últimas 10 partidas, o Timão sofreu gols em apenas três. Além disso, o clube do Parque São Jorge está há seis jogos consecutivos sem ser vazado na Neo Química Arena.

A força do Corinthians em casa atrelado à consistência defensiva faz o torcedor corintiano lembrar dos tempos áureos com Carille, Mano Menezes e Tite.

Em contrapartida, já são cinco jogos em que jogadores do Corinthians não balançam as redes (na vitória por 1 a 0 contra o Flamengo, Rodinei fez contra). Além disso, segundo o Footstats, o Timão tem a menor média de chutes por jogo no Brasileirão (8,63) e o décimo melhor ataque na competição, com 18 gols marcados em 16 jogos.

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Não obstante, o clube do Parque São Jorge marcou somente cinco gols na fase de grupos da Libertadores, tendo seu pior desempenho na história nesta fase da competição continental.

Mesmo com um desempenho no ataque aquém do esperado, especialmente pelo número de jogadores com elevada qualidade técnica no elenco, o português vem entregando resultados de forma consistente. O Timão é o vice-líder do Brasileirão, está com a vaga às quartas de final da Copa do Brasil encaminhada e irá enfrentar o Flamengo nas quartas de final da Libertadores.

O LANCE! elencou as situações que podem ter interferido no trabalho de Vítor Pereira, que chegou sob a promessa de um estilo de jogo ofensivo e dominante, mas na realidade está sendo valorizado pelos aspectos defensivos.

Treino Corinthians - Cássio e Vítor Pereira

VP com Cássio durante treino do Timão  (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Adaptação ao calendário brasileiro

Um dos motivos que explicam a mudança para um estilo mais ‘pragmático’ é o ritmo do calendário no Brasil. Pressionado para competir por títulos no Brasileirão, Copa do Brasil e Libertadores, o treinador quase não tem tempo para desenvolver seus treinamentos e implantar seu estilo de jogo.

Com dois jogos na maioria das semanas, dois dias são dedicados para recuperação dos titulares em trabalho regenerativo, enquanto o restante do grupo treina no gramado.

Sem as principais peças do elenco, Vítor Pereira passou a chamar jovens da base para integrarem as atividades no CT. Convivendo e aconselhando os atletas mais novos, os ‘miúdos’ passaram a ser fundamentais na rotação do treinador.

Desgaste físico e rodízio

Com pouco tempo para desenvolver suas ideias nos treinos, a comissão técnica corintiana ainda tem que lidar com os desfalques por lesão. Ao menos 23 jogadores do elenco profissional já passaram pelo departamento médico e lá ficaram por algum período.

Dessa forma, Vítor e sua comissão implantaram um sistema de rodízio no elenco, priorizando os atletas em melhor forma dispostos a se sacrificarem pela equipe.

Para o confronto mais pesado e importante na temporada, no duelo de volta das oitavas de final da Libertadores, contra o Boca Juniors, Vítor Pereira não pôde contar com Fagner, Maycon, Renato Augusto, Gustavo Mosquito, Adson e Júnior Moraes, além de Willian, que viajou com a delegação mas não tinha condições de jogo pois havia deslocado o direito na primeira partida contra os argentinos.

Novas soluções para limitações do elenco

Sem poder contar consistentemente com os principais jogadores da equipe e com pouco tempo para aplicar suas ideias de jogo nos treinamentos, Vítor Pereira encontrou uma solução para o desequilíbrio do elenco: mudar a proposta de jogo.

Durante o mês de maio, o treinador português passou a jogar com uma linha de cinco defensores, sendo três zagueiros e dois alas. Ainda sem muito entrosamento, os jogadores não se entendiam em campo da melhor forma, e o próprio treinador admitiu que a mudança tática feita por ele a fim de fortalecer o esquema defensivo prejudicou o desempenho coletivo do grupo e gerou queda de rendimento técnico, especialmente no ataque.

Para o restante da temporada, Vítor vem tentando jogar no 4-3-3, mas contra determinados adversários ou situações de jogo, utiliza a linha de cinco, muito importante nos jogos contra o Boca e Santos nos mata-matas da Libertadores e Copa do Brasil, respectivamente.

Conclusão

A ‘sorte’ do Corinthians foi poder consolidar o sistema defensivo enquanto outras equipes, apontadas como favoritas ao títulos, oscilam na temporada. O clube alvinegro não deve passar novamente pela situação de perder diversos atletas importantes simultaneamente por lesões.

Dessa forma, Vítor Pereira poderá trabalhar mais com os seus jogadores, e pelo competente profissional que vem se mostrando, terá tempo e conhecimento acerca do futebol brasileiro para extrair mais do elenco no momento mais crucial da temporada, onde as três competições se afunilarão.

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