Um brasileiro na Badwater, a corrida mais difícil do mundo
Iúri Totti
Um brasileiro na Badwater, a corrida mais difícil do mundo


O profissional de comunicação Alexandre Castello Branco começa uma jornada para poucos no mundo das corridas. Sua missão: correr a Badwater, em julho deste ano. Considerada a prova mais difícil do mundo, ele vai contar neste espaço toda sua preparação para enfrentar os 217km, sob um sol escaldante, do Vale da Morte, onde os atletas têm que correr em cima da faixa branca da estrada para não derreter a sola do tênis.

“Me interessei pela Badwater por ser um desafio extremo, num lugar inóspito, com o sugestivo nome de Vale da Morte. É uma das grandes ultramaratonas do mundo, com um processo seletivo muito restrito, feita apenas para convidados”, afirma Alexandre. “Adoro testar meus limites e achei que não havia melhor corrida para isso. Estou ansioso para esse desafio!”

A notícia da seleção para a Badwater

Em 30 de janeiro deste ano, eu estava em Pequim, na China, trabalhando nos Jogos Olímpicos de Inverno e encarando temperaturas de -29 graus, quando recebi a notícia que havia sido selecionado para a Badwater, uma das provas mais difíceis e quentes do mundo.

Para quem não sabe, a Badwater é uma corrida de 135 milhas (217km), realizada anualmente no Vale da Morte, nos Estados Unidos. Em 2009, ela foi eleita pela National Geographic como a corrida mais difícil do mundo, não só pela longa distância mas também pelas altas temperaturas do local.

O Vale da Morte, na Califórnia, é o local onde foi registrada a maior temperatura na Terra, em 1913, quando o termômetro bateu 56,7 graus no mês de julho, justamente o mês que a corrida será realizada.

Essa é aquela prova onde os atletas correm em cima da linha branca da estrada para não derreter a sola do tênis. E onde corredores já fritaram um ovo no asfalto. Condições bem acolhedoras para se correr.

O processo seletivo

Pelo processo seletivo muito restrito e com exigências mínimas que são de assustar qualquer um, a Badwater é o sonho de muitos malucos, digo, corredores, que vivem esse mundo de ultramaratonas e esportes de endurance. Todo ano, são selecionados apenas cem atletas do mundo todo e para entrar no processo seletivo é preciso preencher os seguintes critérios:

1. Para ser aprovado diretamente, é preciso ter sido campeão(a) da Brazil 135, prova duríssima de 217km e mais de 6.000 metros de ganho de elevação que acontece em janeiro na Serra da Mantiqueira, da Keys 100, prova dura e quente que acontece em maio na Flórida ou da Badwater Cape Fear, prova de 51 milhas organizada por eles.

Ou seja, impossível, pelo menos pra mim. Minha realidade não é essa, o que me levou a buscar a qualificação mínima para entrar no processo seletivo. Para ter o mero direito de aplicar para a Badwater, o candidato precisa preencher pelo menos um dos requisitos abaixo:

1. Ter concluído a Badwater nos últimos quatro anos e (importante esse “e”) ter completado uma prova de 50 milhas ou mais longa nos últimos 13 meses. Ok, essa eu já não cumpri, por motivos óbvios.

2. Ter concluído pelo menos três corridas de 100 milhas, ou 160 quilômetros, e pelo menos uma delas deve ter sido feita nos últimos 13 meses. Esse requisito eu cumpri, pois corri a Brazil 135 em 2020, 2021 e em 2022.

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3. Para quem é residente na América Central e América do Sul, é preciso ainda ter concluído a Brazil 135 em menos de 48 horas nos últimos três anos e (olha o “e” aí de novo!) uma prova de 50 milhas ou mais no ultimo ano. Aqui eu consegui cumprir também, já que concluí a Brazil 135 em 43 horas em 2022 e em 46 horas em 2021. Em 2020, meu primeiro ano nela, fiz em pouco mais de 48 horas. Alexandre enfrenta o calor da Brazil 135. (Foto de Beto Noval)

Alexandre enfrenta o calor da Brazil 135. (Foto de Beto Noval)

Menos de mil atletas concluíram a prova desde 1987

Com isso feito, ainda é preciso responder um extenso questionário com seu currículo esportivo, que provas eu fiz e que achava super relevantes, como os 100km da Patagonia Run, 100km da Never Summer, no Colorado, entre outras, simplesmente não podem entrar. Só provas de 100 milhas para cima. Jogaram o sarrafo lá no alto! E ainda tem perguntas do tipo “você se considera uma boa pessoa?”. Acho que nem para entrevista de emprego eu precisei responder perguntas desse tipo.

Com isso feito, só resta rezar e torcer para o Comitê de Seleção te escolher. Já é difícil ser escolhido, na primeira tentativa então, mais ainda. Trabalhei duro para me posicionar para isso, mas certamente tive sorte também. Desde 1987, menos de mil pessoas concluíram essa prova, sendo apenas 30 brasileiros.

Fase 2 do projeto

Agora começa a fase 2. Com uma logística insana e o dólar e os preços nas alturas, é preciso buscar apoio para realizar esse sonho. Ou vender meu carro. Ahahaha! Como a prova é realizada em condições extremas, é obrigatório cada corredor ter ao menos duas pessoas em sua equipe de apoio. Essa equipe precisa ser escolhida a dedo, pois ser apoio numa prova como essa, além dos custos, é algo muito complexo. Condições extremas, sem dormir e comer direito, pensando em tudo e resolvendo problemas sem parar, tudo em prol da minha performance e saúde. Se a equipe não estiver entrosada, vai dar ruim, essa é a única certeza.

Começo também o meu primeiro bloco de treinamento, assim como um trabalho de força específico para essa encrenca. Em breve, corridas longas ao meio dia e treinos dentro da sauna serão rotina. Serão quatro meses de dedicação total à Badwater, para fazer jus à minha seleção para esse desafio incrível.

Tenho alguns meses para me preparar, mas os dias passam rápidos, então, não há tempo a perder.

Em julho, a chapa vai literalmente esquentar na Badwater. (Iúri Totti)

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