Ashleigh Barty: a trajetória simbólica e meteórica de uma lenda do tênis
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Ashleigh Barty: a trajetória simbólica e meteórica de uma lenda do tênis


Por Ariane Ferreira - Na noite desta terça-feira, 22 de março, a número 1 do mundo Ashleigh Barty anunciou sua aposentadoria do tênis profissional aos 25 anos de idade e vivendo o melhor momento de uma carreira relativamente curta, mas brilhante.

A estrela de Ash Barty começou a brilhar muito cedo, ainda no circuito juvenil onde conquistou o título de Wimbledon, em 2011, aos 15 anos superando a russa Irina Khromacheva. Aquela era a primeira temporada de Barty disputando os Grand Slams juvenil e na campanha em Londres perdeu apenas um set, na disputa de terceira rodada para a americana Madison Keys, dois anos mais velha. Barty foi número 2 do mundo juvenil e conquistou 4 troféus na categoria Grau 1. No ano seguinte, já em razão dos resultados no profissional, ela não disputou mais o circuito juvenil.

Família de Atletas

Filha de um ex-golfista amador que chegou representar a Austrália e de uma ex-golfista amadora, Barty é a mais jovem de três irmãs (Sara e Ali) e sempre esteve envolvida com esportes e durante a infância e a adolescência dividiu seu tempo entre os estudos e as formações em outros esportes, tendo jogado golfe no clube de seus pais em Ipswitch, no Estado de Queensland e críquete na escola.

Defensora dos Povos Aborígenes e de sua própria origem

O pai de Barty, Josef, é bisneto de uma aborígene Ngarigo, uma das três tribos indígenas existentes na Austrália antes da chegada dos ‘colonizadores’ britânicos. Consciente da discriminação contra povo originários na Austrália, Barty sempre fez questão de apresentar-se como uma “Mulher Ngarigo” e participa atividade de campanhas de conscientização e inclusão de seu povo à comunidade.

Barty faz o caminho inverso da lenda australiana Evonne Goolagong, que é Wiradjuri, e durante toda a sua carreira evitou falar sobre suas origens. Ela afirmava que ser Wiradjuri era apenas ‘um detalhe’ que não fazia diferença, pois os esportes seriam ‘livres de qualquer segregação’. Por essa posição, Goolagong foi criticada inúmeras vezes pelo americano Arthur Ashe, primeiro homem negro a conquistar um Grand Slam. Por não defender suas origens, Goolagong.

"I'm a proud Ngarigo woman - a very, very proud Indigenous woman."

Welcome back to the home of the Wurundjeri people, @ashbarty 🖤💛❤️ #AusOpen#AO2022 pic.twitter.com/snWNRH9AwH
— #AusOpen (@AustralianOpen) January 17, 2022

Sucesso estrondoso na adolescência

A carreira no tênis despontou mesmo para Barty em 2013, em que jogando ao lado da experiente australiana Cassey Dellacqua, ainda com 16 anos fez final no Australian Open. Após completar 17, ao lado da compatriota, foi campeã do WTA de Birmingham e vice Wimbledon e no US Open. A dupla seguiu firme e no ano seguinte conquistou o WTA de Estrasburgo, foi então que o primeiro hiato na carreira de Barty aconteceu.

A australiana caiu na estreia do US Open 2014 após furar o quali e decidiu dar um tempo do tênis. Sem grandes anúncios, a tenista voltou para Austrália.

Hiato para se dedicar ao críquete

Em outubro daquele mesmo ano, assinou um “pré-contrato” com a equipe do Brisbane Heat, equipe profissional da primeira divisão feminina do críquete em sua terra natal, a Women's Big Bash League. O críquete é o esporte mais popular da Austrália.

Em 2019, Andy Richard, treinador do Brisbane Heat concedeu uma entrevista ao jornal britânico The Guardian e definiu a australiana como “aberração”. Ele contou como Barty entrou para sua equipe profissional ao fim de 2014: “Batemos um papo e tomamos um café e fomos bater umas bolas. Ela era uma máquina, ela bateu 150 bolas e provavelmente errou cinco ou seis. Ela nunca tinha jogado antes. Ela se encaixou no time com muita rapidez e facilidade”.

Em campo, Barty conseguiu número impressionantes, como rebater 60 de 63 bolas já em sua segunda partida profissional, quebrando a invencibilidade do torneio. Barty jogou como rebatedora do time e rebateu com rapidez 39 das 27 bolas de abertura no clássico contra o time de Melbourne. Foi a primeira atleta de Brisbane a alcançar tal feito.

“Ela foi honesta e aberta sobre suas lutas. Ela ficou obcecada com o treinamento e nós teríamos que dizer a ela que ela não precisava entrar e bater bolas todos os dias. Ela disse: ‘Eu só quero treinar um esporte que eu fique nele’”, contou Richard ao Guardian.

Após o início avassalador na WBBL, Barty decidiu voltar ao tênis e em fevereiro de 2016, depois de uma temporada inteira no críquete, anunciou seu retorno. Na ocasião, Barty concedeu uma entrevista ao site da WTA e analisou que “foi vítima do próprio sucesso” e por esta razão passou pelo período de dúvida e experiências em outro esporte, que confessou ter “adorado”.

No retorno, tentou tirar a própria pressão: “Se funcionar, ótimo. Se não, não poderei me queixar. Eu tive uma carreira fenomenal o pouco tempo que joguei. Estou me preparando para trabalhar aos poucos pelos ITFs e tomara que na WTA em breve".

O recomeço

Assim, a australiana encerrou a temporada 2016 como 325ª da WTA. O salto veio já no ano seguinte, em que conquistou o título do WTA de Kuala Lumpur em simples e nas duplas ao lado de Dellacqua. Juntas elas ainda venceram Birmingham e Estrasburgo e foram vices em Roland Garros, Estabourne e New Haven. Em Birmingham Barty ficou com o vice em simples, bem como no WTA 1000 de Wuhan. Os pontos somados naquela temporada a fizeram terminar o ano como 17ª do mundo.

O ano seguinte começou com a derrota de virada na final em Sidney. O jogo emocionante, definido no tiebreak do terceiro set, deixou a tcheca Petra Kvitova, sua algoz em Birmingham, com o título, mas não a desanimou. A australiana conquistou os títulos de Nottingham e Zhuhai e seguiu brilhando também nas duplas, sendo campeã em Roma e Montreal ao lado da holandesa Demi Schuurs e conquistou seu primeiro título de Grand Slam profissional no US Open ao lado da local Coco Vandeweghe.

Em 2019 o ano que mudou definitivamente seu status no circuito mundial. Ela abriu voltando a ser derrotada em Sidney e chamou a atenção ao vencer Roma ao lado de Victoria Azarenka. Firme na temporada de saibro, Barty surpreendeu em uma campanha sólida, tendo virado a partida de semifinal contra a americana Amanda Anisimova e com vitória em 6/1 6/3 bateu a tcheca Marketa Vondrousova para conquistar seu primeiro Grand Slam em simples, no saibro de Roland Garros.

O recomeço

Assim, a australiana encerrou a temporada 2016 como 325ª da WTA. O salto veio já no ano seguinte, em que conquistou o título do WTA de Kuala Lumpur em simples e nas duplas ao lado de Dellacqua. Juntas elas ainda venceram Birmingham e Estrasburgo e foram vices em Roland Garros, Estabourne e New Haven. Em Birmingham Barty ficou com o vice em simples, bem como no WTA 1000 de Wuhan. Os pontos somados naquela temporada a fizeram terminar o ano como 17ª do mundo.

O ano seguinte começou com a derrota de virada na final em Sidney. O jogo emocionante, definido no tiebreak do terceiro set, deixou a tcheca Petra Kvitova, sua algoz em Birmingham, com o título, mas não a desanimou. A australiana conquistou os títulos de Nottingham e Zhuhai e seguiu brilhando também nas duplas, sendo campeã em Roma e Montreal ao lado da holandesa Demi Schuurs e conquistou seu primeiro título de Grand Slam profissional no US Open ao lado da local Coco Vandeweghe.

Em 2019 o ano que mudou definitivamente seu status no circuito mundial. Ela abriu voltando a ser derrotada em Sidney e chamou a atenção ao vencer Roma ao lado de Victoria Azarenka. Firme na temporada de saibro, Barty surpreendeu em uma campanha sólida, tendo virado a partida de semifinal contra a americana Amanda Anisimova e com vitória em 6/1 6/3 bateu a tcheca Marketa Vondrousova para conquistar seu primeiro Grand Slam em simples, no saibro de Roland Garros.

Duas semanas após Roland Garros, Barty assumiu em 24 de junho, o posto de número 1 do mundo pela primeira vez e semanas depois, em 12 de agosto, foi desbancada pela japonesa Naomi Osaka, e retomou o posto em 09 de setembro para nunca mais deixá-lo.

Ainda em 2019, Barty foi campeã em Birmingham, vice em Pequim e campeã do WTA Finals. Além de vice-campeã do US Open ao lado de Azarenka.

Em 2020, Barty iniciou o ano campeã em Adelaide, fez semifinal no Australian Open perdendo da americana que viria a ser campeã, Sofia Kenin. A australiana ainda jogou no Qatar, até que em março o circuito foi paralisado dias antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia da COVID-19. Barty passou o resto do ano na Austrália, que se isolou do mundo. Com a pandemia controlada, Barty pode curtir os esportes populares de sua país como torcedora e viralizou comemorando ponto na final do nacional de Futebol Australiano

World No.1 Ash Barty + a beer + finals footy 👍
🎥 - @7AFL pic.twitter.com/mSX25PYNaA
— Herald Sun Sport (@heraldsunsport) October 2, 2020

Barty optou por não jogar a segunda metade de 2020 e apesar de não ter computadas as semanas de ranking congelado, seguiu como número 1. Em 2021 abriu sua melhor temporada com título em casa, no WTA de Yarra Valley, venceu ainda os WTA 1000 de Miami, Stuttgart e Cincinnati, além de em Wimbledon erguer seu 2º Slam em simples. Nas duplas, venceu Stuttgart ao lado de Jennifer Brady.

Ainda em 2021, Barty ainda tornou-se a sexta mulher australiana a conquistar uma medalha Olímpica. Apesar da derrota ne estreia em simples em Tóquio, Barty conquistou o bronze nas duplas mistas ao lado de John Peers.

Apesar do sucesso em quadra, Barty sentiu o peso de não conseguir retornar para a Austrália em suas pausas no calendário e esteve viajando para competir entre março e setembro. Com uma lesão no punho, Barty optou por nem jogar o WTA Finals e voltou para casa. Ali ficou para o início da temporada 2022 em que conquistou os títulos de simples e duplas em Adelaide (com Storm Sanders) e tornou-se a primeira australiana em 45 anos a conquistar o título do Australian Open.

“Essa é a primeira vez que digo isso em voz alta e, sim, é difícil dizer, mas estou tão feliz e pronto. No momento, o que sei, em meu coração, é que para mim como pessoa que, isso está certo", disse Barty em seu vídeo de despedida ao lado de Dellacqua.

"Sou muito grata a tudo o que o tênis me deu. Ele me deu todos os meus sonhos e mais, mas sei que é a hora agora de me afastar e perseguir outros sonhos", seguiu ela que se tornou a segunda mulher da história a se retirar do tênis como número 1 do mundo, antes dela, a belga Justine Henin fez o mesmo gesto em 2008.

Os números de Ashleigh Barty

Ash é a 7ª mais longeva líder da história no ranking da WTA com 119 semanas; atrás de Steffi Graf (377 semanas), Martina Navratilova (332), Serena Williams (319_, Chris Evert (260), Martina Hingis (209) e Monica Seles (178). Ela é também a 4ª tenista da história a ficar mais semanas consecutivas como número 1 com 114 semanas, atrás apenas de Graff e Serena (186 semanas cada) e Navratilova (156).

São 15 títulos WTA em simples e 12 nas duplas, dos quais 3 Slams em simples e um nas duplas. Em termos de premiação, Barty conquistou em toda a carreira US$ 23 milhões.

Na carreira ela teve dois treinadores, Jim Joyce com quem trabalhou desde o juvenil, e Craig Tyzzer com quem trabalhou desde seu retorno do críquete.

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