Os primeiros planos que o investidor John Textor traçou para o Botafogo adotar o modelo da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foram destacados por quem vê o futebol do ponto de vista econômico. Especialista em Banking de Gestão & Finanças do Esporte, Cesar Grafietti exaltou ao LANCE! a forma como o americano avalia os próximos passos do Alvinegro.
- É uma visão sensata e ponderada. Ele parece ter entendido a dinâmica do futebol brasileiro, suas forças e especialmente as fragilidades. Nota-se claramente que é alguém preparado (e eu nem precisava dizer isso), justamente por apontar os riscos e desafios do projeto - e ao avaliar as primeiras declarações de Textor, ressaltou:
- Gosto quando ele fala sobre a questão do baixo uso de scouting
no futebol brasileiro. Se compararmos com a Europa, ainda usamos pouco, e os profissionais parecem ser menos ouvidos do que deveriam. Um aspecto que precisa ficar claro é que ele pensa o Botafogo como clube de formação, eventualmente reforçado por atletas experientes, mas note que ele nunca falou em grande equipe e conquistas. Aparenta ter os pés no chão - completou Grafietti.
O economista vê o pouco espaço para a análise de desempenho como um empecilho para que o futebol nacional se desenvolva com precisão.
- O Brasil usa pouco, mas não por falta de profissionais e sim por falta de interesse. Há ótimos profissionais, temos acesso a todas as ferramentas, mas basta ver as contratações de muitos clubes para perceber que alguma coisa não foi feita corretamente. Isso acontece porque o dirigente amador ainda acredita na indicação, no agente, e muito mais no nome que na função - constatou.
Aos seus olhos, a mudança de panorama acontece à medida que o clube parte para uma gestão mais profissional.
- São coisas que seriam superadas por uma ação mais relevante de um diretor esportivo qualificado e pelo uso de dados. O olhar do profissional nunca será desprezado. Os melhores diretores esportivos europeus analisam partidas presencialmente antes de qualquer contratação. Mas é fundamental uma avaliação prévia bem feita e uma verificação fria para validar o que se viu em campo - disse Cesar Grafietti.
Grafietti também vê no fato de John Textor gerir o Crystal Palace um bom caminho para fazer com que o Botafogo consiga sua evolução gradativa.
- A realidade (do futebol inglês e do futebol brasileiro)
é bem diferente. Mas gerir um clube de futebol de uma liga qualificada (Premier League)
e efetivamente profissional garante uma capacidade de enxergar e reconhecer os problemas e pontos de melhoria. Imagine ele levando o diretor esportivo e o gerente de análise de desempenho do Crystal Palace para fazer um estágio no Botafogo? Ou levar profissionais do Botafogo para se desenvolverem a partir das boas práticas inglesas? Este intercâmbio não seria um favor, mas uma formação em casa, sem depender de ninguém - afirmou.
A
assinatura da oferta vinculante foi oficializada na última segunda-feira (10
)
. O Conselho Deliberativo apreciará na quinta-feira (13) os termos do acordo.