Cientista comportamental Ricardo Ventura explica como lutadores podem se beneficiar da linguagem silenciosa nos combates
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Cientista comportamental Ricardo Ventura explica como lutadores podem se beneficiar da linguagem silenciosa nos combates


Uma luta em um ringue é um duelo de xadrez também. O desafio mental entre os oponentes pode fazer diferença no resultado final. A ferramenta para isso é a linguagem silenciosa, a que comunica intenções e emoções por meio das expressões do rosto ou do corpo, algo que é feito de forma consciente e inconsciente.

Segundo Ricardo Ventura, especialista em linguagem silenciosa, todo bom lutador, além de treinar a técnica, a parte física e a mental, precisa dominar as mensagens transmitidas pelos gestos e expressões. Isso significa esconder a dor, quando for necessário, ou mostrar o contrário, conforme a intenção.


“Se você está se sentindo muito forte, é importante parecer que está fraco, para parecer vulnerável. Já quando se sente o golpe, o lutador tem que mostrar que não sentiu ou que alguma coisa está acontecendo. Durante um estrangulamento, quem está sofrendo precisa mostrar cara de paisagem, porque se demonstrar aflição, dará gás para o adversário. No caso de manifestar naturalidade, mesmo que em uma situação difícil, pode levar aquele que está tendo vantagem no estrangulamento à desistência, pois todo o golpe também cansa”, explica.

Portanto, o atleta que sabe controlar as expressões e aplicá-las nos momentos oportunos poderá ter vantagem. Isso faz parte do combate mental, tão importante quanto o físico. O competidor precisa estar equilibrado em todos os sentidos.

“Quando você, por exemplo, toma um soco ou um chute mais contundente, é necessário, muitas vezes, mostrar que o golpe não entrou, porque se o oponente perceber, ele vai querer minar aquela região do corpo atingida. É necessário buscar caminhar e não mostrar dor na fisionomia”, exemplifica o especialista.

Para Ventura, a estratégia de se mostrar mais fraco do que realmente está pode ser um diferencial na tomada de decisão do lutador. Esta é uma forma de incentivar o adversário a colocar mais força naquilo que não está dando certo e, assim, cansá-lo.

“Quando o lutador está sendo estrangulado, mas percebe que o golpe não está pegando, ele pode fazer uma cara de dor e assim incentivar o adversário a colocar mais energia e explosão naquele movimento, o que vai acabar fazendo com que ele se desgaste. Assim como quando você se sente forte e começa a ceder mais o rosto, ou um braço ou uma perna, nesse caso, o intuito deve ser o contra golpe”, detalha.

Assim, Ricardo Ventura compara a luta a um jogo de xadrez: às vezes, se joga um peão para ser sacrificado e depois atacar com o cavalo. Ricardo Ventura acrescenta, ainda, que a falta de equilíbrio mental pode derrubar o lutador, mesmo que esteja bem treinado. É necessário entender que não se trata apenas de força, técnica e explosão física, mas de luta mental também.

“Porque se você vai com muita sede ao pote e não consegue nos primeiros minutos aquele resultado que estava crente que alcançaria, a luta interna pode acabar te derrubando. Estava tão convicto de que venceria com seus ataques, mas não consegue e começa a se auto sabotar. Pensa que pode não ser tão bom quanto achava, que não treinou o suficiente. Essa negociação interna começa dentro da área de luta, a linguagem silenciosa é de extrema importância e deve ser aplicada também nos treinamentos, na pré-luta antes e na pesagem. O lutador precisa travar essa luta mental com seu oponente”, finaliza.

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