Procuram-se novos Gugas no tênis brasileiro

Com maior profissionalização, empresários e especialistas investem para formar campeões nacionais

Foto: Fotos Públicas
Gustavo Kuerten, o Guga

O esporte nacional está repleto de narrativas heroicas que têm menos a ver com empreendimentos bem-sucedidos e mais com a sorte ou talentos individuais. Mas o tênis brasileiro pós-Guga pode ser uma exceção em razão de boas iniciativas de profissionais, instituições e empresários.

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Um exemplo é o Time Guga , que tem a participação do próprio Gustavo Kuerten , tricampeão de Roland Garros. O grupo não tem uma base. Foca principalmente em mentoria e treinamento de jovens tenistas que podem se profissionalizar.

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São seis atletas e três treinadores que contam com o apoio de nomes como Hugo Daibert, o treinador de Bruno Soares, duplista top 10 da ATP e um dos grandes destaques atuais do País. Marcio Torres, o empresário de vários líderes do tênis nacional, incluindo Thomaz Bellucci, também faz parte dessa iniciativa.

EM FORMAÇÃO O jovem Augusto Torres usa a metodologia de ensino criada por Ludgero Braga Neto (Crédito:Divulgação)


Para ele, a ideia é atacar uma das maiores deficiências do país: a profissionalização de educadores e treinadores."Nossa cultura não premia esse tipo de formação", afirma.

Como resultado, a febre pela modalidade diminui assim que estrelas como o próprio Guga deixam o circuito. “Há 20 anos, quando eu comecei, não existia esse tipo de apoio, afirma Bellucci.

O Instituto Tênis (IT) é outra iniciativa de importância na área. Fundada em 2002 pelo empresário Jorge Paulo Lemann — ex-profissional que já foi campeão brasileiro e competiu em Wimbledon — e por Nelson Roesch Aerts, tem como objetivo formar tenistas capazes de alcançar o posto de número 1 do mundo. Cristiano Borelli, seu diretor executivo desde 2011, diz que a instituição procura ser uma referência, com planejamento e governança, para estimular outras instituições.

AMADURECIMENTO

Borelli diz que são 45 jovens em treinamento no IT. “Todos têm um ciclo de amadurecimento acima de média do jovem normal, que não pratica esporte de alto rendimento”, diz. Doze são considerados de alta performance e moram no IT, em Barueri (SP), com bolsa integral. Eles têm atenção individual que inclui fisioterapia e acompanhamento pedagógico, além de viagens para participar de torneios. Matheus Pucinelli, que conquistou o título de melhor dupla juvenil em Roland Garros, em Paris, no início deste mês, é um deles.

“Houve uma grande mudança no tênis brasileiro e poucos perceberam. Muitos jovens e crianças estão sendo preparados, com tecnologia e melhor técnica”, diz Heleno Torres, professor de Direito Desportivo da Faculdade de Direito da USP. Brasileiros disputam os principais torneios, incluindo, além de Bellucci e Soares, Marcelo Melo, o primeiro a liderar o ranking mundial de duplas da ATP. Há mais transmissões de jogos pela TV e internet — superando até a era Guga —, o que estimula a prática do esporte e o turismo especializado para atender os principais campeonatos.

Com o interesse crescente, está ocorrendo uma maior profissionalização. Ex-esportista, Ludgero Braga Neto é um exemplo. Durante mais de dez anos estudou os três golpes mais importantes do tênis — saque, forehand e backhand — na Escola de Educação Física da USP. Sua pós-graduação em Biomecânica do Tênis levou-o a criar um método de ensino que compreende 200 avaliações de itens técnicos, táticos e físicos.

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Como resultado, já formou 12 tenistas Top 10 do Ranking Brasileiro e conseguiu levar vários jovens a boas universidades do exterior, que fornecem bolsas por desempenho esportivo. Lucas Koelle chegou à liderança do time universitário de Harvard (nessa caso, bolsa para atletas). Braga Neto também fechou parceria para adotar sua metodologia com Sébastien Grosjean, ex-campeão e atual treinador da equipe francesa da Copa Davis.

É mais um caso ilustrativo de que o País aos poucos cria as bases para subir no ranking mundial do esporte — desta vez, com estratégia. E também buscar algum outro Guga por aí.