A noite e madrugada apocalípticas do Santos, rebaixado à Série B
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A noite e madrugada apocalípticas do Santos, rebaixado à Série B

Vila Belmiro e o rescaldo da confusão após o rebaixamento - Klaus Richmond/Placar

SANTOS – A madrugada do Santos após a noite apocalíptica vivida na Vila Belmiro foi um rescaldo doloroso de uma data que o torcedor do clube jamais esquecerá.

Por volta de 3h da manhã, nos arredores do estádio, só restavam as marcas de revolta pelo desastre colossal: lixos revirados pelo chão, incontáveis estilhaços de vidro e pedras nas calçadas e ruas, um forte cheiro de queimado pelos cinco carro consumidos pelo fogo, janelas quebradas e um torcedor solitário na calçada, próximo ao portão 6 do estádio.

Sem camisa, aos prantos, ele era consolado por um dos seguranças: “vai para casa, filho, isso passa. Vá descansar”, dizia.

Guilherme Braga Paes, 23 anos, conta que não conseguiu assistir ao último jogo do Santos na Série A. Preferiu não ir à Vila pelo temor de rebaixamento após acompanhar todos os jogo do time na campanha. Foi ao estádio só chorar.

“É um sentimento de morte, de dor. Eu vim a todos os jogos, mas nesse senti que não iria aguentar se acontecesse algo ruim. A ficha não cai, o santista não merecia isso. Viajei pelo clube, negociei escalas no meu trabalho… voltei a falar com o meu irmão após três anos por conta do corredor de fogo. Tudo pelo Santos, mas eles não estão nem aí. Amanhã estarão longe da cidade e a nossa dor aqui”, desabafou à PLACAR.

Próximo ao portão 16, uma socorrista comentava exaurida com um dos seguranças: “agora acabou”.

Ela contou ter atendido mais de 100 pessoas, algumas com ataques de pânico, outras feridas e muitas delas intoxicadas pelo gás lacrimogêneo usado pelo policiamento para conter os ânimos exaltados. Uma parte foi encaminhada à Santa Casa de Misericórdia de Santos e outra ao UPA.

Antes mesmo do soar do apito final do árbitro Leandro Pedro Vuaden, torcedores começaram a barbárie. O gol marcado por Lucero, aos 49 minutos do segundo tempo, desencadeou o primeiro grande conflito entre torcedores do clube e policiais militares já na parte de fora da Vila Belmiro. O grupo havia saído do estádio minutos antes.

Pelas redes sociais foi registrado um outro grupo furtando uma das viaturas da Polícia Militar.

A confusão generalizada teve como saldo cinco carros incendiados, além de dois ônibus. Um dos carros pertencia ao atacante Stiven Mendoza. No decorrer da madrugada, pesssoas que passavam pelo local furtavam partes dos veículos não consumidas pelo fogo.

Funcionários do clube lamentavam. Sem se identificar, um deles disse que o presidente do clube, Andres Rueda, sequer esteve presidente na noite trágica e virou um “fantasma” pelo sumiço nos últimos dias.

Dentro da Vila Belmiro, no gramado que contemplou títulos e grandes momentos nos 111 anos de história, diversas cadeiras, chinelos e rojões tomavam o local. Funcionários começavam a limpeza.

Um torcedor vestido com a camisa do Palmeiras, de bicicleta, gritou ironicamente: “vamos Santos”. Alguns carros também passavam lentamente com câmeras apontadas, registrando o cenário de terra arrasada.

Sem entrevistas em campo, após o término do jogo, somente o coordenador técnico Alexandre Gallo se ponunciou, mais de uma hora depois do resultado.

“Em um clube com este tamanho, com esta camisa, com este peso, sabemos que isso marca muito. Não esperávamos que fosse acontecer. Fizemos o possível e o impossível para pontuar mais e estar em uma condição melhor. Todas as ações dentro da legalidade nós fizemos, mas não fizemos a pontuação necessária. Peço desculpas. A mágoa nossa é grande. Além de gostarmos muito do clube, estávamos à frente de um processo difícil”, disse o dirigente.

Gallo admitiu falta de qualidade do elenco em diversos momentos e chegou a demonstrar irritação durante o questionamento de um dos jornalistas sobre o vazamento dos problemas disciplinares.

O Santos terá eleição no próximo sábado, 9. O pleito tem cinco candidatos na corrida pela sucessão de Rueda e promete enorme tensão

A faixa que torcedores do clube exibiam orgulhosos por tantos anos no estádio “em segundo às vezes, na segunda jamais” terá que ser para sempre recolhida agora. O clube só terá o Paulistão e a Série B de competições em 2024.

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