RIO DE JANEIRO – Do banco ao céu. Do céu ao inferno. E, enfim, do inferno para a história. John Kennedy Batista de Souza precisou de 21 minutos para escrever na tarde desde sábado, 4, a mais bonita página dos 121 anos do Fluminense – e também de sua história. JK deixa o Maracanã como um daqueles herois que penam a triunfar. Ou um personagem dos filmes que passam anos cativos, mas no fim escapam de maneira gloriosa. A cria de Xerém deu o sonhado título da Libertadores e cravou a esperada redenção – para ele e para o clube. O outrora menino-problema, agora é solução.
John KennedyVinte e um minutos, duas finalizações a gol, três tentativas de drible, 12 ações com a bola, três passes, uma falta,
“Olha, tenho uma coisa fixa na minha cabeça: fazer gols o máximo que eu puder. Quero ser uma máquina de gols. É meu ofício”, afirmou John Kennedy em uma de suas primeiras entrevistas no Fluminense, em 2020. À época com 18 anos, o atacante ainda não acumulava apelidos, mas já gerava esperança nos torcedores tricolores.
A temporada de base era animadora, com média de quase uma bola na rede por partida no Brasileirão sub20. E, em meio à pandemia, a chance chegou para o garoto de Itaúna, cidade mineira da região metropolitana de Belo Horizonte, cujo nome, claro, é uma homenagem feita por seu pai ao presidente americano assassinado em Dallas, em 1963.
Da fome de gol veio a ideia da tradicional comemoração que lhe rendeu mais um apelido. O Urso de fios platinados iniciou a Libertadores deste ano na reserva, mas mostrou suas garras afiadas ao longo da campanha com gols decisivos, sempre aliando classe e força física. Ele balançou as redes nos mata-matas contra Argentinos Juniors, Olimpia e Inter – o último, com um toque sutil que valeu uma virada épica no Beira-Rio.
Mas nem só de páginas felizes foi escrita a história do talismã tricolor. Problemas de disciplina e excessos na noite levaram o garoto a quase ser descartado. No início do ano, o carro que ele havia emprestado a amigos foi apreendido com tabletes de maconha. Para amadurecer, JK chegou a ser emprestado à Ferroviária e brilhou no Campeonato Paulista antes de ganhar uma nova chance nas Laranjeiras.
Fernando Diniz, o treinador do Fluminense, não largou a mão do jovem de 21 anos. “Esse menino é um grande vencedor, está se tornando um homem cada vez mais íntegro. Cada vez mais bonito. O futebol perde a rodo talentos como esse no Brasil. Espero de todo o meu coração que ele consiga ter cada vez mais os pés no chão. Pés do tamanho do talento dele. Merece todos os elogios, todos os aplausos. Não é fácil ter a vida que ele teve e se tornar o que está se tornando. O jogador é reflexo do que se tornou como pessoa. Esse menino vale ouro. Além de extremamente talentoso, está se tornando um homem de bem.”
Fundamental na conquista do título inédito, John Kennedy já inscreveu seu nome na história do Fluminense e, se mantiver o foco, tende a repetir o caminho de outras famosas crias de Xerém, com um futuro de sucesso na Europa e na seleção brasileira. Seja como for, a Tropa do Urso já venceu