Se dizem que o bom filho à casa torna, Lucas Moura encheu de orgulho a família tricolor, 11 anos depois de partir rumo ao futebol europeu. Uma das crias mais célebres de Cotia, o camisa 7 decidiu o Majestoso desta quarta-feira, 16, diante do Corinthians , com um gol, dribles desconcertantes e muita disposição, no triunfo por 2 a 0 que levou o Tricolor à final da Copa do Brasil. Foi a noite sonhada pelo garoto que iniciou sua trajetória na base do Timão, sob o apelido de um ídolo alvinegro, e que em sua primeira passagem pelo São Paulo sofreu diante do rival. Aos 31 anos, Lucas fez lembrar outra noite histórica para os são-paulinos, o do retorno de Raí, há 25 anos.
Lucas, cujo grande momento da carreira havia sido os gols que levaram o Tottenham à final da Liga dos Campeões de 2018, colocou mais uma atuação de gala no currículo, com um valor sentimental ainda maior. O histórico diante do Corinthians não era dos mais animadores: tinha uma vitória, um empate e três derrotas, entre 2010 e 2012, sem nenhum gol marcado. Além disso, a camisa alvinegra da qual hoje virou carrasco nunca lhe foi estranha.
Ainda criança, o garoto chamou a atenção atuando em Diadema (SP) pela escolinha de Marcelinho Carioca, de quem herdou o apelido pela semelhança física e para não ser confundido com outro Lucas. Depois, foi chamado a jogar na base do Corinthians, onde permaneceu até os 13 anos. Naquele momento, tinha dificuldades para conciliar os estudos e os treinos no Parque São Jorge. Acabou seduzido pelo convite do São Paulo, que recém inaugurava o CT de Cotia. Nascia ali uma história de amor.
Assim como Raí, Lucas trocou o São Paulo pelo PSG, em 2012, após conquistar a Copa Sul-Americana. E assim como velho camisa 10, voltou para decidir um Majestoso histórico. Em 1998, Raí foi inscrito às pressas e decidiu com um gol a final do Paulistão diante do Corinthians no mesmo Morumbi. Lucas já havia reestreado diante do Atlético-MG e balançado as redes contra o Flamengo, mas a meta era mesmo o clássico. E Lucas fez valer todo o seu esforço, com uma atuação brilhante, jogando solto, da ponta para o maio, como um garoto.
“Uma grande honra para mim ser comparado ao Raí, não sei se eu mereço essa comparação. O Raí é um dos maiores ídolos da história do São Paulo, um cara absurdo o que jogava. Mas eu fico feliz”, afirmou Lucas, na zona mista do Morumbi.
‘Nunca vivi nada igual’
O jogador não escondeu as lágrimas após a partida, diante dos gritos da torcida. Ao canal Prime Video, Lucas fez juras de amor ao Tricolor e “Esse cenário é perfeito, né? O clube que eu amo, não tem nem como descrever tudo o que estou sentindo nesse momento. Falei agora pouco que a classificação era o objetivo, obviamente, mas viver isso, com o Morumbi lotado, a festa, um ambiente maravilhoso que a torcida fez, conseguir a classificação não tem como descrever. Se eu passasse a noite agradecendo a Deus ainda seria pouco. Estou muito feliz, nunca vivi nada igual nos clubes onde passei. O que eu vivi aqui nessa noite foi espetacular.”
Para complementar a façanha à la Raí, Lucas terá de conquistar a inédita taça da Copa do Brasil, contra Flamengo ou Grêmio. Ele se disse confiante para se eternizar ainda mais na história do clube do coração. “Até falei com os meus companheiros que a cada fase que vamos passando as coisas vão ficando mais difíceis, então temos que redobrar atenção, concentração e o foco. Acho que temos um elenco muito qualificado, o Dorival faz um trabalho fantástico. Estava empolgado assistindo esse time jogar, isso que me motivou a voltar, queria fazer parte disso. Acho que chegamos muito forte, tem muito qualidade.”
Lucas ainda ressaltou a chegada de outra estrela internacional, o colombiano James Rodrígues, que ainda recupera o ritmo ideal. “O James é um jogador impressionante que vai nos ajudar muito ao longo desta temporada. Acho que estamos criando, encorpando bem. Vamos com pés no chão, trabalhando, temos coisas boas para almejar.”
O técnico Dorival Júnior exaltou a versatilidade de seu novo craque. “Lucas é um jogador que vem ser muito importante neste momento, com caraterísticas que não tínhamos até então na nossa equipe. Ele pode atuar pelo lado, por dentro, centro, principal atacante, pelo lado esquerdo, não vejo problema nenhum, o importante é a doação que está mostrando, a intensidade que imprime e a qualidade das jogadas que ele proporciona.”
Até mesmo o técnico adversário, Vanderlei Luxemburgo, se rendeu ao talento do tricolor. “Lucas jogou praticamente recebendo nas costas de alguns jogadores do meio-campo e conectando com o ataque. Fez isso com muita maestria. É um jogador de muita qualidade e com uma condição física privilegiada. Você vê a movimentação dele dentro do campo é uma movimentação de jogador que está fora do Brasil há muito tempo, mas com uma mudança de direção, intensidade física e qualidade técnica de um jogador diferenciado.”