Já dizia Lavousier: na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma… Era 24 de julho de 2023. Talvez, o dia mais improdutivo para o desenvolvimento do estado de Minas Gerais. Os relatos eram de ansiedade, boas vibrações e muita esperança…
Belo Horizonte respirava um dia de concentração no preto e branco. Toda a esperança de justiça no mundo estava na cidade, mais precisamente na aliança de Deus e o Bruxo. Estava 2 a 0 para o tricampeão Olimpia, mas era o mesmo time paraguaio que havia perdido a Conmebol de 1992 para o time de Negrini.
Ao entrar no Mineirão, estava todo limpo. Nenhum pensamento ruim carreguei e, por mais que as lembranças insistissem em vagar o inconsciente, elas não suplantaram a energia potencial gravitacional que seria depositada naquela peleja. Júnior César chegou cantando que só sairia dali feliz … Mas o primeiro tempo terminou empatado e sem gols e sem a energia cinética do gol
Naquele momento, começava o desespero e, no som do estádio, tocava “Um dia apenas”, canção da banda mineira Dona Odete – “Tudo fica mais feliz/ Com você por perto tudo fica mais feliz”. O trecho começava a despertar a revolta e a ira pois o jogo estava 0 a 0, isso não era o combinado, só podia ali, naquela noite, bons pensamentos, então, pensei naquilo e pedi perdão a Deus pela vontade louca de xingar aquela música.
A esperança
O segundo tempo começou e Jô abriu os trabalhos, era gol do Galo, confesso que no momento que escrevia esse relato a garganta engasgou, a esperança de tudo “ficar mais feliz” existia e se renovava. Mas o tempo foi passando e a bola não entrava na casinha. A placa de “carregando” a quarta taça, do senhor torcedor do Olimpia, por uma fração de segundo, passou no inconsciente. Maldito inconsciente que queria burlar o acordo de só termos coisas boas naquela noite!
O Atlético pressionava, queria o segundo gol, o segundo sol, aquele que levaria o jogo para a prorrogação e realinharia a órbita do planeta, mas aos 38’ da segunda etapa, Ferreyra driblou Victor e estava com o gol aberto, com o gol aberto, tudo acabaria ali … Mas mesmo num país que tem poucas ações das placas tectônicas, uma leve acomodação da placa Sul-Americana derrubou o jogador paraguaio. Incrivelmente, o “El Tanque” caiu.
Um suspiro de esperança se transformou em energia cinética e aquela energia da Massa batalhou. E, logo após a expulsão de Manzur, aos 39’, dois minutos depois, após uma cobrança de falta de Ronaldinho a bola ficou rondando a área do Olimpia e num cruzamento de Bernard, no último “andar”, aquele que seria vilão da competição, fez um gol de chuá, a bola que subia e não caía, um gol de fazer a terra parar, o gol que fez ateu rezar. Não havia explicação, o Galo “tava” chegando lá … Permita-nos o informal, o taquiuuupariuuuuuuu, hoje vai rolar!
A tensão
Mesmo jogando com um a mais durante todo o tempo na prorrogação, o Atlético precisava ir para limite do sofrimento e ir para os chutes da marca do pênalti – hoje falar isso é muito mais fácil – mas foi assim mesmo. O Atlético, disputaria as cobranças no mesmo gol que perdeu o título de 1977 e, pior ainda, os paraguaios começaram perdendo a primeira cobrança. Pior ainda, Betinho? Eita! Pensei coisa ruim, não podia.
Comecei a me desculpar e me punir mentalmente, mas havia motivos, mesmo sendo de 1982, naquele título perdido de maneira invicta para o São Paulo em 1977, naquele mesmo gol, João leite pegou os dois primeiros pênaltis, por isso, pensei, na insólita loucura atleticana de cada dia que Victor defender naquela hora podia ser um mau sinal. Sandice! As cobranças seguiam e com perfeição. Estava acontecendo, senhores …
Galo campeão!
Foi aí, após uma disputa longa de Victor x Martin Silva que o trem acabou. O arqueiro atleticano disse: “Agora acabou, ele não vai tirar mais esse terço daqui, vamos resolver … E Victor tinha mesmo que resolver. Deus tinha feito um acordo com o Bruxo R10, mas de última hora precisou intervir, já que, Ronaldinho, inclusive ao escriba que aqui relata, confessou: “Eu vou cavar”. O homem show não tinha noção do impacto daquela mágica e do tanto de gente que mataria, e o criador antecipou dizendo:
“Será agora, neste dia, que um barulho tocará com tanta força aquela baliza, naquele mesmo lugar, que este povo se libertará. Teremos um dia de terra parada em BH e tudo que não foi feito no dia 24 e 25 de julho se multiplicará na energia da justiça, da esperança e da alegria que com um grito de Galo tudo alcançará.”
Conta-se que depois da intervenção de Deus à cavadinha do Bruxo, o paraguaio Giménez explodiu a bola naquela mesma baliza de 1977 e que quem nunca tinha acreditado em Deus viu a terra parar. Victor libertou aquele povo e Ronaldinho não precisou cavar.
No fim, Deus que tinha feito um acordo com o Bruxo, interviu levemente no desfecho da programação e a Cachorrada além de vencer, sorriu.
A terra parou e Cachorrada Venceu!
Galo, som, sol e sal é fundamental
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