Esporte Espetacular recebe acusações de que estrelas paralímpicas disputam em categorias erradas
Nicolas Kirilov
Esporte Espetacular recebe acusações de que estrelas paralímpicas disputam em categorias erradas

Na sua edição de 50 anos, o Esporte Espetacular recebeu denúncias de que três atletas da seleção brasileira de atletismo paralímpico foram classificados de forma errada e, consequentemente, teriam tido vantagem esportiva em competições nacionais e internacionais na categoria para pessoas cegas (LogMAR menor que 2.6).

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Os atletas em questão são Lucas Prado, Silvânia Costa e Ricardo Costa, os três medalhistas de ouro em Paralimpíadas. Os denunciantes afirmam que o comportamento suspeito dos atletas citados é amplamente conhecido por pessoas do meio, inclusive pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

– Os dirigentes do CPB estão cientes de que existe trapaça de atletas que não são cegos – disse um denunciante.

– O Movimento (Paralímpico) perde muitos talentos, porque a classificação tá errada – disse outro denunciante.

O medo de represália faz com que eles prefiram o anonimato.

A apuração das denúncias pelo “Esporte Espetacular” começou em 2020. A reportagem conversou com dezenas de pessoas envolvidas com o Movimento Paralímpico Brasileiro, recebeu vídeos e monitorou o comportamento de três campeões do Brasil que teriam sido classificados de forma errada. São atletas que, segundo as denúncias, enxergam mais do que o previsto em suas categorias. Lucas Prado (três ouros e duas pratas paralímpicas), Silvânia Costa (bicampeã paralímpica) e Ricardo Costa (campeão paralímpico) são referências do atletismo nacional.

– A medalha de ouro é que faz subir a classificação do país no quadro, então é a mais importante, e todo mundo sabe. Até aí, OK. Mas que sejam medalhas de ouro limpas, né – disse um denunciante.

Quem são os atletas mencionados pelo Esporte Espetacular?

Lucas Prado, Ricardo Costa e Silvânia Costa são campeões paralímpicos do paratletismo, classificados na T11. O Olimpíada Todo Dia entrou em contato com os atletas, mas até agora eles não se pronunciaram. Se eles responderem às perguntas atualizaremos a matéria.

Lucas Prado

Venceu ouro nos 100m, 200m e 400m da T11 nos Jogos Paralímpicos de Pequim-2008 e foi prata nos 100m e 400m da T11 em Londres-2012. Além disso, Lucas Prado ganhou seis ouros em Jogos Parapan-americanos (três deles no Rio-2007, dois em Guadalajara-2011 e um em Lima-2019), e possuí cinco títulos mundiais.

Silvânia Costa

Bicampeã paralímpica no Rio-2016 e Tóquio-2020. Ela também foi campeã para-panamericana em Toronto-2015 em uma prova que juntou atletas de T11 e T12. Silvânia Costa competiu no Mundial deste ano e terminou em quinto lugar e em quarto lugar no Parapan de Santiago-2023.

Ricardo Costa

Irmão de Silvânia e venceu a prova do salto em distância nos Jogos Paralímpicos de Rio de Janeiro, no que foi o primeiro ouro do Brasil na competição. 

Silvânia foi a única que conversou com a reportagem da Globo. A atleta afirmou que “não é o atleta que escolhe a classe, mas sim sua deficiência visual comprovada em laudo, comprovada em exame”. Silvânia ainda disse que recorreram contra a classificação do T11. “Eu não queria ficar na T11, pagamos o recurso para que eu não fosse considerada T11”, afirmou a atleta.

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Comunicado do CPB

A respeito da reportagem exibida no Esporte Espetacular do domingo, 10/9, segue, a posição do Comitê Paralímpico Brasileiro.

Não é verdade que o CPB seja conivente com qualquer circunstância que não promova a justiça no esporte.

Os que afirmam, agem de má fé ou por desinformação.

O Comitê Paralímpico Brasileiro preza pela ética em todo seu processo de gestão e administração, seguindo as regras, políticas e diretrizes de classificação do Comitê Paralímpico Internacional, por meio do Código Internacional de Classificação e dos regulamentos de classificação específicos por modalidade ou tipo de deficiência.

Quem tem capacidade para estabelecer a classe de cada competidor são os classificadores, neste caso, os especialistas em classificação para atletas com deficiência visual, que submetem os competidores a exames clínicos e analisam laudos médicos.

Nem os atletas e nem o CPB têm poder de definir em qual classe cada atleta competirá.
Todos os atletas citados na reportagem passaram por diversas classificações internacionais em diferentes períodos, competições, países e bancas de classificação. Inclusive com questionamentos e protestos do Comitê Paralímpico Brasileiro contrários aos resultados das classificações internacionais.

Em 2021, por exemplo, quando recebemos o vídeo da prova disputada por Silvânia Costa, em Bragança Paulista (SP), exibimos as imagens aos classificadores, que mais uma vez confirmaram a atleta na classe T11. É importante ressaltar que Ricardo Costa e Silvânia Costa foram inscritos, por este Comitê, em suas primeiras competições internacionais na classe T12, e após avaliação em banca de classificação internacional, que, repetimos, não tem vínculo com o CPB, foram alocados na classe T11.

Apesar de afirmarem que apuram sobre o tema há três anos, os jornalistas concederam apenas 24h úteis para resposta do CPB, tempo exíguo para recuperação de todos os documentos – alguns dos quais de mais de 10 anos atrás.

Além disso, contra o que preza o bom jornalismo, solicitaram entrevista de forma genérica, com termos genéricos, de maneira tendenciosa, sem nos conceder acesso às imagens e às informações, muitas das quais só tivemos acesso quando foram ao ar neste domingo, dia 10 de dezembro.

Por isso tudo, reafirmamos que todos que acusaram o CPB de ser conivente com qualquer irregularidade o fazem de maneira irresponsável por desonestidade ou ignorância.

Seguiremos firmes com o nosso trabalho, sempre prezando pela inclusão da pessoa com deficiência e pela justiça no esporte.

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