Rio 2016: Oito acertos e oito erros da Olimpíada
Epidemia de zika e terrorismo eram os temores dos organizadores, mas tudo saiu dentro do programado
Por BBC News Brasil |
Com o último dia de competições e a cerimônia que encerra a Olimpíada, governo, imprensa e torcedores olham para trás para relembrar o que marcou os Jogos do Rio e colocar na balança, afinal, o que deu certo e o que deu errado durante o megaevento que atraiu mais de 500 mil pessoas ao Rio de Janeiro durante duas semanas.
Após meses de antecipação e de uma cobertura da imprensa nacional e internacional que por muitas vezes ressaltou riscos de segurança pública, epidemia de zika, terrorismo, caos nos transportes e a corrida contra o tempo para finalizar as instalações de competição, os Jogos mostraram que, por um lado, alguns dos temores não se concretizaram e, por outro, problemas surgiram de onde menos se esperava.
Veja a lista da BBC Brasil com oito pontos que deram certo e oito pontos que deram errado nos Jogos:
O QUE DEU CERTO:
1. Abertura
Apesar da polêmica em torno de um segmento em que a modelo Gisele Bündchen sofreria uma tentativa de assalto (posteriormente retirado do script) e do orçamento menor do que os de Londres-2012 e de Pequim-2008, a abertura dos Jogos do Rio, com mais de 5 mil pessoas em campo e participação de Elza Soares, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Anitta e Jorge Ben foi elogiada pela imprensa internacional e levantou o astral do público brasileiro.
A participação da modelo Lea T à frente da delegação brasileira, primeira transexual com papel de destaque numa abertura na história dos Jogos, foi elogiada em muitos países.
2. Zika
A temida epidemia do vírus zika, que, entre os efeitos mais perversos, pode levar ao nascimento de bebês com microcefalia, foi apontada como uma das principais preocupações com os Jogos, e houve quem cancelou a vinda ao Rio por conta disso.
Governo e organizadores foram questionados quanto às medidas de prevenção, mas a Olimpíada ocorreu sem menção a casos de pessoas que tenham contraído o vírus ou adoecido durante as duas semanas.
3. Aeroportos
O Rio preparou-se para receber mais de 500 mil turistas, 11 mil atletas, 45 comitivas de chefes de Estado e mais de 30 mil jornalistas credenciados.
A maioria chegou pelos dois principais terminais aéreos internacionais, o Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio, e o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Segundo o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil, somente entre 31 de julho e 6 de agosto 595 mil pessoas passaram pelos dois aeroportos do Rio e 715 mil passaram por Guarulhos.
Apesar da demanda elevada e das filas na véspera dos Jogos, com o aumento da segurança, não houve caos aéreo, e a média de pontualidade dos voos ficou em 95,6%, segundo o ministério.
4. Transportes
Apesar de algumas reclamações e problemas, metrô, ônibus (incluindo BRTs, os corredores expressos só para ônibus) e trens metropolitanos suportaram com razoável sucesso o aumento da demanda.
A combinação entre metrô, BRT e trem foi a grande responsável por movimentar o público pelas quatro regiões de competição.
No entanto, cariocas reclamaram dos congestionamentos, e, ao menos uma competição, as semifinais de 50 metros livre feminino, da natação, foram adiadas em 20 minutos, porque um motorista se perdeu no caminho entre a Vila dos Atletas e o Parque Olímpico.
5. Boulevard Olímpico
Embora a programação cultural durante a Olimpíada tenha sido impactada pela crise econômica e atrações tenham sido cortadas, o Boulevard Olímpico, na renovada região portuária do Rio, tornou-se o grande local de aglomeração do público durante os Jogos, reunindo milhares de pessoas dia e noite para visitas a museus, shows e fotos diante da pira olímpica.
6. Terrorismo
Nas semanas que antecederam os Jogos, o Brasil empreendeu operações antiterrorismo que chegaram a prender mais de dez pessoas suspeitas de atividades extremistas.
Além disso, ataques em outras partes do mundo, ameaças de extremistas ligados ao grupo autodenominado Estado Islâmico na internet, mochilas abandonadas e alarmes falsos elevaram o grau de tensão no Rio com relação à possibilidade de um ataque, o que não se concretizou.
7. Baía de Guanabara
A poluição da Baía de Guanabara prometia ser um dos grandes problemas da Olimpíada.
As ações emergenciais para garantir águas livres de lixo durante as competições de vela e windsurfe, no entanto, parecem ter dado certo, já que tudo transcorreu sem grandes problemas, e alguns atletas até elogiaram as águas.
Apesar disso, a velejadora da Bélgica Evi Van Acker adoeceu após contrair uma bactéria e dois velejadores brasileiros, Samuel Albrecht e Isabel Swan, disseram ter sido atrapalhados pelo lixo ao menos cinco vezes em um mesmo dia.
8. Imagem Internacional
A imprensa nacional e internacional ressaltaram aspectos negativos, como epidemia de zika, terrorismo, risco de assaltos e homicídios, crise econômica e política nos meses anteriores aos Jogos.
Você viu?
Num artigo publicado no início de julho, o jornal The New York Times chegou a decretar que os Jogos do Rio eram um "desastre" e uma "catástrofe". Na metade da Olimpíada, publicou um editorial em que dizia que o megaevento era visto como um sucesso.
Apesar da mudança de tom em diferentes jornais internacionais, episódios de assaltos a estrangeiros e filas podem ter reforçado a visão de um país desorganizado e violento.
O QUE DEU ERRADO:
1. Piscina verde
Em meio às provas de saltos ornamentais no Centro Aquático Maria Lenk, uma das piscinas ficou completamente verde e, no dia seguinte, a outra piscina do complexo, que receberia o nado sincronizado, também esverdeou.
O assunto ganhou repercussão internacional, e o Comitê Rio-2016 admitiu falhas na manutenção.
2. Críticas da China e da Austrália
Às vésperas do início dos Jogos, a delegação da Austrália chegou ao Rio de Janeiro e encontrou problemas na Vila dos Atletas, como vazamentos no encanamento de alguns quartos e falhas elétricas.
O grupo classificou a acomodação como "inabitável", e as críticas à organização da Olimpíada rodaram o mundo.
Os chineses também criticaram a acomodação, e vídeos em chinês produzidos em Taiwan já criticavam os Jogos nas semanas anteriores, citando violência, zika e riscos.
3. Vila dos Atletas
A acomodação oficial dos atletas foi alvo de críticas e dominou as atenções nos dias que antecederam o início das competições.
Delegações se recusaram a ficarem hospedadas nos apartamentos, e os organizadores admitiram que metade dos prédios não estavam 100% prontos.
Mais de 600 encanadores, eletricistas e funcionários gerais foram contratados emergencialmente para resolver os problemas.
4. Filas
Os primeiros dias de competições no Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, foram marcados por filas na entrada principal, levando alguns torcedores a perderem eventos para os quais tinham comprado ingressos.
Além disso, houve transtornos e longas filas para entrar nas arenas e comprar comida, sendo que alguns itens dos locais de alimentação acabaram rapidamente, deixando muitos sem ter o que comer.
5. Arenas vazias
Um dos principais problemas citados pela imprensa nacional e internacional, os assentos vazios em arenas chamaram a atenção do público ao redor do mundo e tiveram de ser explicados pelos organizadores em diferentes oportunidades.
Para o Comitê Rio 2016, embora algumas competições como vôlei de praia, futebol, basquete e vôlei tenham lotado as arquibancadas, as arenas vazias podem ser explicadas pela distância entre os núcleos (alguns torcedores não teriam conseguido chegar a tempo) e ingressos destinados a patrocinadores que não foram usados.
6. Metrô fechado e ônibus e trens lotados
Embora os transportes tenham funcionado com razoável sucesso, houve reclamações de estações de metrô fechadas ao término de jogos noturnos na Barra da Tijuca e no Maracanãzinho.
Torcedores encontraram o serviço já encerrado e tiveram de recorrer a opções de transporte individual.
Também houve queixas de que ônibus dos BRTs e trens metropolitanos estavam circulando superlotados, e, na imprensa internacional, os turistas estrangeiros estranharam a quantidade de pessoas por vagão.
7. Pedradas, bala perdida e morte de soldado
Dois ônibus que levavam jornalistas entre o Parque Olímpico e o Complexo de Deodoro foram atingidos por pedras, e, em um dos incidentes, uma jornalista americana levantou a dúvida sobre a possibilidade do veículo ter sido atingido por tiros, o que não ficou comprovado.
Em Deodoro, uma tenda de imprensa foi atingida por uma bala perdida, mas ninguém ficou ferido.
Já o soldado da Força Nacional Hélio Vieira Andrade foi baleado e morreu ao entrar por engano na favela Vila do João, no Complexo da Maré.
8. Queda da câmera
No dia 15 de agosto, uma câmera da OBS, empresa que gera a transmissão oficial dos Jogos para emissoras de televisão ao redor do mundo, despencou de uma altura de 20 metros.
A câmera de mais de 100 quilos fazia imagens aéreas quando um cabo se rombeu. Sete pessoas ficaram levemente feridas.