Após 16 anos, Brasil volta a ter cavalo nacional nos saltos dos Jogos Olímpicos
Com o apoio do COB, a CBH ofereceu ajuda financeira até que dois cavalos fossem escolhidos para serem enviados ao exterior
Desde a Olimpíada de Sydney 2000, o Brasil não ganha medalha com sua equipe de saltos. O hiato coincide com a ausência de cavalos de produção nacional, tabu que chega ao fim com a convocação para os Jogos do Rio do conjunto formado por LandPeter do Feroleto e o carioca Stephan Barcha, de 26 anos.
LandPeter é o resultado de um projeto lançado em 2013 pela Associação Brasileira de Criadores do Cavalo de Hipismo (ABCCH) e pela Confederação Brasileira de Hipismo (CBH). “Formamos uma comissão com cinco especialistas, que avaliaram cerca de 200 animais, em quatro Estados”, contou Antonio Celso Fortino, ex-presidente da ABCCH e idealizador do projeto.
“Temos a melhor genética do mundo, terreno, mas o cavalo era mal formado. Levamos para a CBH e falamos: 'Se não formar, vai ter o cavaleiro e não vai ter o cavalo'”, continuou Fortino.
Com o apoio do Comitê Olímpico do Brasil (COB), a CBH ofereceu ajuda financeira até que dois cavalos fossem escolhidos para serem enviados ao exterior. Um deles era LandPeter, de 14 anos, cria do Haras Feroleto, de Pirassununga, em São Paulo, produtor da raça BH (Brasileiro de Hipismo).
“Dei uns poucos saltos e ele me jogou para cima da cela. Desde pequeno ele dava esses pulos gigantescos. Desci do cavalo e meu pai me deu ele de presente. O objetivo era só me fazer feliz, era só hobby”, lembrou a proprietária Chiara Besenzoni, que foi até Juiz de Fora, em Minas Gerais, para testar o animal. Ela, que hoje trabalha com moda em Milão, na Itália, nunca quis ouvir as propostas pelo “filho”.
Antes de conhecer LandPeter, ela já era amiga de Stephan, de quem se aproximou nos eventos hípicos. Quando surgiu a possibilidade de fazer do BH um cavalo olímpico, a escolha pelo carioca foi natural. “Ele tem um talento indescritível. Desde que eu conheço acho ele o melhor cavaleiro do Brasil”.
A relação entre cavalo e ginete também é ótima. “A adaptação foi tranquila, visto que o LandPeter é um cavalo de muitas qualidades e de montabilidade simples”, comentou ele.
Com Barcha, LandPeter passou a ser tratado por Nelson Pessoa. Naturalmente, evoluiu, a ponto de, ao ser convocado, deixar de fora o próprio Rodrigo Pessoa, filho de Neco, e ouro olímpico em 2004.
Por equipes, o Brasil tem duas medalhas olímpicas de bronze. A primeira, obtida em 1996 com um plantel que tinha três cavalos da raça BH: Calei Joter (com André Johannpeter), Cassiana Joter (Luiz Felipe de Azevedo) e Arisco Aspen (Doda). Em Sydney, Calei Joter e Aspen levariam de novo o Brasil ao pódio.
“Um animal como o Aspen não existe mais. Robusto, forte, alto. Como você tem o limite de altura dos obstáculos (1,60m), os circuitos passaram a exigir mais agilidade e ganha quem for mais rápido”, disse Fortino, justificando o hiato até a classificação de LandPeter.