Rio 2016: esperança de medalha, atletas menores de idade encaram "vida dupla"
Alguns atletas do Rio 2016 dividem as atenções com os treinamentos intensivos e a necessidade dos estudos
A pequena ginasta Flávia Saraiva estará no Rio 2016, mas ainda dorme com os pais. Ela até tem seu próprio quarto, mas sempre dá um jeito de se embolar com a dona Fábia e o seu João. E leva o irmão junto. Outra coisa que ela gosta de fazer é ficar pulando na cama - dessa vez na dela mesmo - como fazia antes de se tornar uma das grandes esperanças de medalha da ginástica.
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A alma de menina, no entanto abre um cantinho para a vida de atleta. Quando tem dor de cabeça, ela dispensa os comprimidos, não toma nem os infantis, e liga para o médico da confederação por medo de doping. Cada caçula dos Jogos do Rio 2016 encontra uma receita particular para viver essa vida dupla, de ser atleta e menor de idade.
Estudar à distância foi a saída encontrada por Flávia. Ela só vai ao Colégio Anglo-Americano para fazer as provas. Não tira 10, mas consegue o 7 que precisa para passar de ano e, nessa toada, já está no último ano do Ensino Médio. “O forte dela é a matemática. Puxou a mãe”, orgulha-se dona Fábia.
Pingue-pongue de adulto
Em outra modalidade, Bruna Takahashi joga tênis de mesa por seis horas diárias, de segunda-feira a sábado, sempre focando o Rio 2016. Chega para treinar às 8h45 e fica lá até por volta de 11h45. Almoça, faz uma hora de preparação física e treina de novo à tarde. Toma banho e vai para a escola, em Santo André, a Grande São Paulo. Sua preocupação é recuperar as lições da escola que vai perder durante a Olimpíada, então sempre recorre às amigas do segundo ano do Ensino Médio.
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O pai Ricardo Takahashi afirma que a filha Bruna deu um salto da infância para a vida adulta, sem passar pela adolescência. “Ela só brincou de boneca até os sete, depois só raquete e a bolinha”, disse o analistas de sistemas. O pingue-pongue virou tênis de mesa com os títulos. Ao ganhar o Desafio Mundial Infantil, em outubro do ano passado, em Doha, ela se tornou a primeira brasileira a vencer um torneio desse nível no tênis de mesa. Aos 16 anos, ela é a caçula da delegação no Rio de Janeiro.
E na natação
Gabrielle Roncato, a mais jovem da equipe de natação que vai ao Rio 2016, sentiu falta da vida escolar. Depois de ter iniciado a carreira na cidade de Santos, a atleta, que fez 18 anos recentemente, azucrinou os pais para treinar no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, fazendo a família se dividir: uma parte ficou no litoral, outra na capital. No final do ano passado, quis voltar para Santos. “Ela não gostava muito de ficar falando só da natação. Queria conhecer outras coisas”, disse a mãe Andrea.
Dona da medalha de ouro no Sul-Americano Juvenil de Natação, com quebra de recorde nos 100 metros livre, em 2015, e a prata no Pan de Toronto nos 4x200 metros livre, Gabrielle está cursando o primeiro ano da faculdade de Direito. Seu desafio agora é levar a família de volta para Santos.
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Para Alexander Ferrer, treinador da equipe brasileira de saltos ornamentais e que tem a jovem Giovanna Pedroso, de 17 anos de idade, na equipe, um dos grandes desafio é conciliar escola e treino. “Nas horas livres, o atleta tem de se recuperar. Com isso, mesmo na adolescência, o atleta tem de abrir mão de festas e feriados”, comentou.
E as finanças?
Gabrielle Roncato é “quase” dona do próprio nariz desde que ganhou o primeiro comprovante de rendimentos aos 12 anos de um patrocínio em Santos. Atualmente ela divide o apartamento com uma amiga, mas a independência conquistada com patrocínios pessoais e incentivos federais vai até a página 2 da fatura do cartão de crédito. “Ela sempre pede socorro”, disse o pai, o engenheiro automobilístico Roberto.
Entre as poucas escorregadelas de adolescente de Bruna Takahashi está a paixão pelos seriados de terror. Ela queria ter feito uma festa de 15 anos e um anel de debutante, mas ganhou apenas o segundo presente e pensa somente no Rio 2016.
Quando o tema da vida adulta de Bruna é outro tipo de paixão, o pai dá uma risada, fora dos padrões orientais. “Só depois da próxima Olimpíada”, diz sobre um possível namorado. “Tenho de aproveitar esse momento. Tudo tem sua hora”, concordou a filha.
Para as caçulas, os Jogos Olímpicos não representam apenas uma espécie de estágio. Na ginástica, Flávia Saraiva tem chances reais de medalha. “Procuro deixá-la solta, sem cobrança. Meu marido diz que ela ainda não sabe direito o que está acontecendo e é melhor que seja assim”, disse dona Fábia.
Já Roncatto sonha com uma final dos 4x200 metros livre nos Jogos do Rio 2016 , feito que o Brasil não consegue há longos 12 anos. A nadadora brasileira diz que não quer só aprender ficar olhando os mais velhos, mas também quer mostrar o que tem bom.