Com carga genética e conselhos, descendentes de atletas se testam no esporte
Carol Meligeni, Paulo Joaquim Cruz, Gabriel Gouveia e Pedro Jukoski tentam crescer no concorridíssimo mundo do esporte
Por Alessandro Lucchetti | (iG - São Paulo) |
A carga genética é mais do que favorável. Os contatos dos pais também ajudam a cavoucar oportunidades. Assim, aos poucos, vários descendentes de grandes atletas brasileiros vão tomando as quadras e pistas, sonhando com oportunidades de também serem atletas olímpicos, por volta de 2020, 2024 ou 2028.
Carolina Meligeni Rodrigues Alves, sobrinha de Fernando Meligeni, é um desses jogvens talentos que estão despontando. Aos 19 anos, já aparece com bons resultados. Um dos mais importantes nas disputas das categorias de base foi a conquista do Banana Bowl, torneio que o tio conquistou em 1989, quando ainda era realizado em São Paulo.
Admiradora de Fininho, cuja carreira acompanhou com atenção, Carol começou a levar mais a sério o tênis a partir dos dez anos de idade. "Sempre joguei tênis, porque minha família é tenista". O pai e a mãe da jogadora são professores do esporte em Campinas.
"Com sete anos de idade, lembro de ter visto meu tio em Roland Garros, e eu o acompanhei a todas as Copas Davis que pude", diz a tenista, nascida em 96, ano em que Fernando foi quarto colocado na Olimpíada de Atlanta.
Infelizmente, ela era muito pequena em 99, quando Meligeni alcançou seu melhor resultado num Grand Slam, a semifinal no Aberto da França. As melhores lembranças são do Pan de Santo Domingo/2003, em que Meligeni conquistou a medalha de ouro, com uma duríssima vitória sobre o chileno Marcelo Ríos. "Nós fomos recebê-lo no aeroporto e fizemos uma baita festa. Foi muito emocionante".
A influência do tio, entretanto, não foi preponderante para a inclinação de Carolina para o tênis. "Ele é super bem-sucedido e é uma motivação para mim. Mas escolhi o tênis porque é mesmo o que gosto de fazer".
Os poucos anos de carreira já lhe ensinaram: vai ter que se dedicar muito para prosperar na modalidade. "O talento não era a principal qualidade dele, assim como não é a minha. Não sou super-talentosa. O que temos de parecido é que lutamos e corremos muito".
Por falar em correr, nos EUA, Paulo Joaquim Cruz também segue os passos de um talento familiar. Filho de Joaquim Cruz, campeão olímpico em 84 e vice em 88, Paulo joga basquete, esporte em que Joaquim se iniciou esportivamente, em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília.
Aos 18 anos, ele é armador no time da Universidade do Arizona, que tem um fortíssimo programa de basquete.
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Nascido em San Diego, Paulo tem dificuldade para falar português. Com os pés no chão, no momento pensa apenas em crescer paulatinamente na modalidade. "O sonho de qualquer jogador de basquete é atuar na NBA, mas no momento estou treinando com dedicação para me aperfeiçoar e ajudar minha equipe".
Outro representante da nova geração que está ganhando espaço é Pedro, filho de Paulão, meio-de-rede campeão olímpico em Barcelona/92. Aos 20 anos de idade, já está no time adulto do Taubaté, uma das equipes mais fortes da Superliga. Ele é reserva de Rapha, um dos levantadores mais talentosos do país.
Em novembro, pela primeira vez Rapha enfrentou o pai, que é técnico do Bento Vôlei, de Bento Gonçalves (RS). "Pela primeira vez, ficamos em lados opostos", diz Pedro, que ganhou um jantar do pai por ter vencido a partida.
Pedro, que começou como ponteiro, resolveu se tornar levantador porque não foi tão aquinhoado geneticamente como o pai, que mede 2,01m. "Quando fui convocado para a seleção brasileira infantil, o técnico (Percy Ocken) me orientou a mudar de posição, porque eu não teria muitas opções como atacante", diz Pedro, que tem 1,86m. "Depois me disseram para seguir meu coração, e voltei a atacar, porque era o que mais gostava. Mas, quando convocado para a seleção de novo, aos 17 anos, resolvi voltar a levantar".
Depois de praticar tênis, judô, natação, futebol e capoeira, Pedro decidiu escolher o vôlei. "É o esporte que eu mais gostei, até por influência dos amigos, que o praticavam".
Pedro, nascido em 95, três anos depois de o pai se consagrar em Barcelona, tem lembranças de imagens de Paulão vencendo a Olimpíada, que assistiu em velhas fitas VHS. Mas só foi ter uma noção da popularidade do pai quando ficou maiorzinho.
"Quando saía na rua com ele é que comecei a perceber o que ele tinha feito. Me dei conta quando tinha uns dez anos. Pediam autógrafo, tiravam fotos".
Companheiro de Paulão na seleção campeã olímpica de 92, Carlão também tem um descendente nas quadras. Trata-se de Gabriel, que já foi convocado pela CBV duas vezes para treinar em Saquarema, para representar a seleção sub-21.
"Basicamente nenhum garoto sonha em ser jogador de vôlei. Como tantos outros, eu queria ser jogador de futebol. Mas era muito alto, muito torto. Tentei jogar basquete também, mas levo mais jeito para o vôlei. E optei pela praia para poder participar mais do jogo. É mais dinâmico do que jogar na quadra".