
A camisa 10 do Flamengo sempre teve um peso diferente. Principalmente depois de ser brilhantemente vestida por Zico durante tantos anos. Se foi símbolo de uma era dourada e vencedora, em tempos mais recentes acabou sendo sinônimo de fracasso.
Quantos jogadores a vestiram e não conseguiram representá-la devidamente? Quantos novos Zicos o Flamengo viu surgirem e desaparecerem tão rapidamente quanto a ânsia de compará-los ao maior de todos?
Subindo da base ou vindo de fora, não foram raros os jogadores que sucumbiram à responsabilidade de envergar a camisa do craque que está acima do bem e do mal dentro do universo Flamengo.
Recentemente alguns honraram devidamente o Manto Sagrado com o um e o zero nas costas, ainda que não tenham sido tão decisivos e geniais quanto o Galinho. Diego Ribas foi importante em alguns momentos dentro de campo, mas acabou se destacando mais por sua liderança fora dele.
Gabigol assumiu o fardo, com as bênçãos de Zico, mas foi justamente nos dois anos como dono da 10 que teve seus piores momentos no clube - apesar da participação decisiva no título da Copa do Brasil de 2024.
Em 2025, finalmente, a camisa encontrou seu pretendente mais adequado, digamos assim. Por natureza, o 10 no futebol brasileiro é o meia clássico, conhecido pela técnica e por tratar a bola com refino.
Desde 2019, não havia outro jogador no elenco com essas características senão Arrascaeta . Depois de seis temporadas com o número 14, era hora de continuar escrevendo sua história no clube com a camisa que fazia jus ao seu estilo, qualidade e importância.
Números de um 10 decisivo.
A real é que nos últimos anos o uruguaio foi tendo menos destaque, muito por conta da parte física. Lesões em sequência pareciam atrapalhar e até colocar em xeque sua permanência num futuro próximo.
Mas 2025 foi diferente, já é possível afirmar agora. Os cuidados com a minutagem foram rigorosos, a maneira de jogar mudou, as obrigações defensivas diminuíram e Arrascaeta passou a estar mais próximo da área. O resultado não poderia ser outro.
58 jogos no ano. 23 gols. 17 assistências. 40 participações em gols no total. Ninguém chega perto disso. No Brasileirão, são incríveis 32 participações (18G e 14A) em 31 jogos. Em nove oportunidades o uruguaio não marcou ou deu passe para os companheiros balançarem as redes.
Coincidência ou não, neste recorte são três vitórias, três empates e três derrotas. Já nos 22 jogos em que fez gol ou deu assistência, são 18 vitórias, três empates e uma derrota. Não é exagero dizer que o camisa 10 tem carregado o Flamengo no Brasileirão.
A camisa 10 que serve como guia
Muitos pontos neste Brasileirão foram conquistados através dos pés de Arrascaeta. Vitórias pela margem mínima, empates. Quando o Flamengo parece perdido, é o camisa 10 que surge como bússola para indicar o melhor caminho.
Quando a torcida se inquieta, é ele quem a acalma. Quando o jogo parece um labirinto, é o uruguaio quem encontra a saída. Na vitória contra o Bragantino não foi diferente.
Depois de um primeiro tempo sem conseguir abrir vantagem, a bola o encontrou aos cinco minutos da segunda etapa. Um pouco de espaço, um corte seco no zagueiro e aquele tapa nojento de perna esquerda como quem manda um recado para o goleiro: “não precisa tentar, vai ser gol”.
O caminho para garantir mais três pontos estava aberto. Ao fim da noite, o do título também. Se o Flamengo está mais perto da taça hoje, é porque em vários momentos decisivos seguiu o norte certo: onde estava Arrascaeta, estava a direção certa.