
Foram 38 anos entre a primeira e a segunda final. Nesse intervalo, não foram poucas as vezes que criamos esperanças e acreditamos que venceríamos a Libertadores de novo.
Mas os anos passavam e o Flamengo acumulava decepções. Ficava longos períodos sem jogar a competição. Quando participava, não ia longe, com muitas eliminações vexaminosas.
América do México . Leon. San Lorenzo . Sem pensar muito, lembro dessas em 2008, 2014 e 2017, respectivamente.
Cada uma com um requinte de crueldade diferente da outra. Uma virada inacreditável no Maracanã. Uma eliminação na fase de grupos, também no Maracanã. Uma derrota na Argentina depois de abrir o placar e ter 9 em 10 combinações que nos davam a classificação.
Mas 2019 exorcizou esse fantasma. E a partir dali a relação do Flamengo com a Libertadores mudou.
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Quatro finais em sete anos
Lógico que a diferença financeira e técnica aumentou o abismo entre o Flamengo e a maior parte dos clubes sul americanos.
Mas a Glória Eterna já provou inúmeras vezes que qualidade e grana não bastam, que ela é mais do que isso. É sobre alma. Sobre coração.
E ainda que tenha tido recaídas em 2023 e 2024, o time reencontrou o espírito libertador em 2025. Como dizem no futebol, o rubro-negro “soube sofrer”.
Com um a menos, segurou o abafa do Racing e chegou em mais uma final, buscando ser o primeiro clube brasileiro tetracampeão da competição.
O fato inédito pode ser alcançado daqui um mês, contra Palmeiras ou LDU, em Lima, justamente o palco do bicampeonato conquistado em 2019.
Se alguns anos atrás me dissessem que o Flamengo faria quatro finais de Libertadores em sete anos, eu acharia loucura. Só que o clube normalizou essa situação - que não é normal - e criou um novo contexto para si mesmo.
A Nação deve cobrar, mas também saborear
Desde 2019 o Flamengo passou a enfileirar finais e títulos, nacionais e internacionais. A sempre tão exigente torcida ficou mal acostumada, e até demais.
Em alguns momentos parece ser incapaz de curtir essa fase vitoriosa. Falo por mim também. Parece que nunca estamos satisfeitos. Queremos sempre mais e mais e mais.
Tem que ser assim? Lógico. Quanto mais ganharmos, melhor. Mas é uma linha muito tênue entre a cobrança natural e a excessiva.
Como passamos a conquistar os grandes títulos com frequência, não admitimos nada diferente disso, como se fosse possível ganhar tudo. Não é.
Então precisamos lembrar da época de vacas magras. De quando terminávamos entre os quatro ou seis primeiros do Brasileirão e gritávamos na arquibancada “Ih, Libertadores qualquer dia tamo ai”.
Relembrar também os fracassos e vexames. Ou alguém acha que o título em 2019 foi tão celebrado apenas pelo tempo sem conquistá-lo? Não. Ali também era sobre deixar para trás tantos momentos negativos.
Como estar no topo é o novo normal, parece que só ganhar é o que basta. Seria maravilhoso mas, repetindo, não é possível.
Vamos cobrar e querer sempre o melhor do Flamengo. A busca pela excelência deve ser constante. Mas foram muitos anos com gosto amargo na boca. Agora que está doce, temos que saborear mais.