Pivô de polêmica durante a Copa do Mundo de 2022 ao deixar Cristiano Ronaldo
no banco de reservas, o ex-técnico da seleção de Portugal, Fernando Santos,
revelou que não fala com o astro desde o Mundial.
Em entrevista ao jornal português A Bola, o treinador explicou os motivos que o levaram a deixar o camisa 7 no banco, e falou sobre a relação com o atacante.
"Não, isso não tem nada a ver com o jogo da Suíça. Eu tinha uma relação fortíssima com o Cristiano. Pessoal. Para além da relação profissional. Nos conhecemos no Sporting quando ele tinha 19 anos, e essa relação foi reforçada a partir do momento em que nos encontramos na Seleção. Sempre nos demos muito bem. A expressão é um pouco forte, mas, quase como pai e filho, ou irmão mais novo e irmão mais velho. Tínhamos uma relação muito estreita, muito forte, quer profissional, quer pessoal. E, portanto, uma coisa não teve nada a ver com outra", iniciou.
"Eu tomei uma decisão que foi estratégica no Catar. É preciso compreender um pouco. Eu acabei de dizer que ele é o melhor do Mundo. E é. Mas teve um momento da carreira que foi muito difícil. No segundo semestre de 2022 ele tem seis meses que são terríveis. Mesmo no aspeto anímico. Começa logo naquela infelicidade que se abateu sobre a sua casa e sobre a sua família, que nenhum de nós quererá passar (morte de um de dois filhos gémeos). Esse momento mexeu muito com ele e depois é a parte esportiva. O Cristiano não fez pré-temporada. Esteve dois meses sem treinar. Depois o Cristiano volta ao Manchester United, mas praticamente não é utilizado", explicou.
"Se me perguntar se o Cristiano física, e individualmente, estava no top, digo-lhe que estava. Estava porque ele vai estar sempre. Ninguém cuida melhor do corpo, e da sua performance, como ele... Se fôssemos fazer testes, individualmente, ele estaria no top. Não temos dúvidas em relação a isso. Eu não tenho. Sabe?, havia muita gente que achava que ele não devia jogar e que me criticava por isso, mas eu o conheço melhor que ninguém. De qualquer forma, em termos de ritmo do jogo foi o pior momento dele. Ele não tinha ritmo. Nós tentámos, durante aqueles jogos antes da Copa do Mundo, e depois nos primeiros jogos do próprio torneio, que ele entrasse no ritmo dos jogos, que era aquilo que estava faltando a ele. O resto não lhe faltava nada", continuou.
"Se ele fosse fazer um sprint com um colega qualquer, ou fosse fazer uma prova de resistência, ele se calhar ganhava. Não tem a ver com isso, Era uma questão estratégica. Eu senti durante os primeiros jogos que estrategicamente para Portugal era melhor. E para ele também podia ser melhor. O pensamento era assim: ‘Eu quero mudar um pouco isto, preciso de alguém com mais este tipo de características.’ Mas ele continuava sendo muito importante", finalizou.
Fernando Santos ainda afirmou que se a mesma situação acontece atualmente, ele teria tomado a mesma decisão.
"Foi uma decisão estratégica. Em primeiro lugar tenho de pensar na equipe. Eu achei que estrategicamente era a melhor decisão. Eu e a minha equipe técnica, até porque como compreenderá nós discutimos este assunto, não foi uma decisão leve. Até pela questão pessoal, de amizade e outras, pois ele tinha um peso grande. É verdade. Mas eu tinha uma decisão estratégica maior, achava que era melhor. Não quer dizer que o Cristiano não fosse entrar, até porque ele iria entrar, e poderia jogar de titular no jogo a seguir. Mas o jogo correu tão bem, tão bem com a Suíça que no jogo seguinte não fazia nenhum sentido mudar. Só troquei uma peça, o William pelo Ruben Neves", disse.
"Mas sempre convencido de que, a qualquer momento, o Cristiano ia lá e se fosse preciso resolveria o jogo. A minha confiança nele era igual. Todos os que lá estávamos achávamos que íamos ser Campeões do Mundo, sabe? A minha convicção, e a dos jogadores, era igual à de 2016. Mas pronto, não aconteceu. Se tivéssemos ganho de Marrocos, e perante o adversário que vinha a seguir (França), se calhar o Cristiano era titular", afirmou.