Morreu nesta terça-feira a iraniana que  ateou fogo ao próprio corpo na frente de um tribunal de Teerã após ser processada por frequentar um estádio de futebol.

Foto divulgada por ONGs da iraniana identificada apenas como Sahar que ateou fogo no próprio corpo
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Foto divulgada por ONGs da iraniana identificada apenas como Sahar que ateou fogo no próprio corpo


Identificada apenas pelo nome falso de Sahar, a  iraniana de 29 anos foi presa em março após se vestir de homem para tentar entrar em um estádio e assistir a um jogo do seu time favorito, o Esteqlal. Na ocasião, ela ficou três dias detida e foi liberada sob fiança.

Segundo a BBC, uma audiência teria sido marcada para o início de setembro, mas quando a mulher chegou ao tribunal, soube que a sessão havia sido adiada. Ela, contudo, supostamente teria esquecido seu celular na sala e, quando voltou para buscá-lo, entreouviu alguém dizer que poderia ficar entre seis meses e dois anos na prisão caso fosse condenada. Em seguida, saiu do prédio e ateou fogo em si mesma.

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"Depois de ser levada para a prisão de [Gharchak] em Varamin [cidade], minha irmã sofreu muitos problemas mentais e ficou aterrorizada", teria dito sua irmã à agência estatal Rokna, que não publicou a identidade da mulher, na segunda-feira.

A mulher, que supostamente sofria de transtorno bipolar, foi levada para o Hospital Motahhari, em Teerã, onde passou alguns dias no centro de tratamento intensivo, mas não resistiu às queimaduras. Desde 2018, quando a Arábia Saudita eliminou a proibição a mulheres em estádios, o Irã é o único país a ainda impedir que mulheres frequentem estádios esportivos, apesar da pressão constante da Fifa.

A proibição de mulheres em estádios nunca foi promulgada sob nenhuma lei ou diretiva oficial, mas, autoridades iranianas as impedem de frequentar os estádios na prática, ao não oferecem infraestrutura para as mulheres e eventualmente as processarem. O veto começou em 1981, dois anos após a revolução islâmica no país,  por pressão de grupos religiosos e políticos linha dura.

Em um relatório publicado em novembro de 2018, um painel da Fifa disse que a proibição violava o próprio código de ética da Fifa, que "proíbe especificamente a discriminação, inclusive com base no sexo".

"Insultar um agente da lei"

A Rokna também citou um funcionário da Justiça não identificado afirmando que a mulher havia sido acusada de "prejudicar a decência pública" e "insultar os agentes da lei" por não usar um hijab, mas o relatório não mencionou o fato de que ela havia sido presa por tentar entrar em um estádio.

O funcionário judicial disse: “Na segunda-feira, 1º de setembro, a mulher compareceu ao tribunal para a primeira sessão do julgamento, mas o juiz estava de férias por causa de uma morte em sua família e outra data foi marcada para o julgamento. Mas a jovem começou a levantar objeções e, depois de deixar o tribunal, pegou a gasolina que havia comprado anteriormente, derramou sobre si mesma e se incendiou. ”

De acordo com a Human Rights Watch, ao menos seis mulheres vestidas como homens foram detidas no mês passado em estádios. Assim como elas, várias torcedoras passaram a vestir barbas e perucas para entrar em estádios. Em março do ano passado, 35 mulheres teriam sido detidas durante uma única partida. Imagens dessas mulheres se tornaram virais em todo o mundo.

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Em nota, a organização afirma que "a Fifa precisa urgentemente manter suas próprias regras de direitos humanos, acabar com a discriminação de gênero e punir os infratores".

Em seu Instagram, o capitão da seleção iraniana de futebol , Masoud Shojaei, classificou o veto como "fundamentado em ideiais ultrapassadas e vergonhas que não serão entendidas pelas gerações futuras".

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