
Em uma movimentação surpreendente, o Fortaleza
anunciou a contratação do treinador argentino Martín Palermo na última quarta-feira (03). Ele substitui o português Renato Paiva no cargo.
Como jogador, Palermo fez história com a camisa do Boca Juniors, onde atuou entre 1997 e 2001, e 2004 e 2011. Na soma das duas passagens, foram 236 gols marcados, maior número da história do clube.
Além do sucesso em campo e da fama de "carrasco dos brasileiros", obtida após diversos encontros na Libertadores, o ex-centroavante também é conhecido por uma expressiva marca negativa: três pênaltis perdidos em uma partida.
Martín Palermo e os três pênaltis perdidos
Na Copa América de 1999, sediada pelo Paraguai, Marcelo Bielsa fazia seu primeiro torneio oficial como o comandante da seleção argentina.
Substituto de Daniel Passarella, que deixou o cargo logo após o término da Copa do Mundo de 1998, Bielsa tentava promover uma renovação na "Albiceleste" depois de uma sequência ruim em Mundiais.
Entre os principais jovens que passaram a ter sequência na Argentina, estavam Walter Samuel, Juan Román Riquelme e Martín Palermo, trio que surgia no Boca Juniors.
Na estreia no torneio, o centroavante xeneize brilhou, marcando seus dois primeiros gols pelo país na vitória sobre o Equador por 3 a 1.
Com a grande atuação, o atacante foi novamente escolhido como o líder do sistema ofensivo do time de Marcelo Bielsa na segunda rodada, contra a Colômbia.
No entanto, Palermo teve uma das piores performances de sua carreira na partida contra o rival tricolor, desperdiçando três cobranças de pênalti em apenas 90 minutos.
Remember when Martin Palermo missed 3 penalties in one game during the 1999 Copa America? pic.twitter.com/XxudDaHet8
— 90s Football (@90sfootball) April 24, 2025
A primeira chance do jovem jogador veio logo aos cinco minutos do duelo, quando o lateral-esquerdo Alexander Viveros evitou um voleio do argentino com a mão. Na penalidade, tentou a segurança, mas acabou carimbando o travessão.
A segunda oportunidade aconteceu aos 31 da segunda etapa, quando a Colômbia já vencia por 1 a 0. A falta foi sinalizada em uma jogada muito parecida: mão na bola do adversário, que bloqueou um cabeceio do artilheiro do Boca Juniors. Na cobrança, repetiu sua ideia original, porém, novamente sem sucesso, mandando a bola para a arquibancada.
Já nos acréscimos, a vida deu outra chance para Palermo se redimir. Com um contundente 3 a 0 para o adversário no placar, Martín foi derrubado na grande área pelo lendário zagueiro Iván Córdoba. Desta vez, o goleador optou por uma porrada no canto direito da meta defendida por Miguel Calero, mas parou no goleiro, que adivinhou o destino da batida.
O fato mais engraçado é, que no mesmo jogo, o árbitro paraguaio Ubaldo Aquino, muito conhecido pelos palmeirenses por sua performance "impecável" no jogo de ida da semifinal da Libertadores de 2001, contra o Boca Juniors, também sinalizou dois pênaltis para a Colômbia no mesmo jogo.
O primeiro deles aconteceu pouco tempo depois da chance inicial de Palermo, aos 10 minutos, e Iván Córdoba converteu, abrindo o placar para o seu país. Já o segundo, no começo da etapa final, viu Germán Burgos parar o atacante Hámilton Ricard.
A Argentina foi eliminada da Copa América de 1999 nas quartas de final, após uma derrota por 2 a 1 para o Brasil. O curioso da eliminação é que, aos 33 minutos do segundo tempo da partida, os "hermanos" tiveram a chance do empate com um pênalti. Com Palermo em campo, o técnico Marcelo Bielsa optou por Roberto Ayala na batida, mas não mudou a sina das cobranças desperdiçadas, pois o defensor foi superado por Dida.
Briga com Juan Román Riquelme

Dentro das quatro linhas, Juan Román Riquelme e Martín Palermo possuiam um entrosamento único. A combinação passe de Riquelme para uma finalização certeira de Palermo deu muitas alegrias ao torcedor do Boca Juniors, incluindo no dia 27 de novembro de 2000, quando resultou no segundo gol argentino sobre o Real Madrid, em partida que garantiu o segundo título da Copa Intercontinental ao clube.
Fora das quatro linhas, a lendária dupla não compartilhava a mesma conexão. Apesar de representarem duas entidades para a massa xeneize, os companheiros nunca foram próximos.
De acordo com o ex-zagueiro Cristian Traverso, que atuou ao lado deles entre 1997 e 2001, a má relação deve-se à briga de ego que existe entre os jogadores, acentuada pela excelente fase da equipe no início do século.
"Ambos eram muito mal acompanhados. Todos os diziam que um era maior que o outro", disse o ex-defensor em entrevista ao programa "Súperfutbol", da emissora argentina "TyC Sports".
Luiz Alberto, ex-zagueiro conhecido por formar uma sólida dupla de zaga com o Thiago Silva no Fluminense e por ser um dos poucos brasileiros a jogar no Boca, afirmou que a situação entre os astros atrapalhou o desempenho da equipe em 2010, ano de sua passagem.
"Román (Riquelme) e Palermo, com suas brigas, dividiram o elenco. Isso afetou completamente a performance do time. Os dois eram líderes, cada um com seu grupo, e isso atrapalhava muito", comentou o ex-atleta ao portal "UOL" no início deste ano.
O episódio mais lembrado da briga entre Riquelme e Palermo aconteceu no dia 12 de abril de 2010, quando, com assistência brilhante do meia, o centroavante converteu seu 219º gol com a camisa do Boca Juniors, isolando-se à frente de Roberto Cherro como o maior artilheiro da história do clube.
Apesar de ter dado a assistência, Román não foi comemorar o momento marcante ao lado de seu companheiro. Após o jogo, Martín explicou a situação.
"Não sou amigo dele. Não temos relação alguma. A única coisa que nos úne é jogar aos domingos para defender as cores do Boca Juniors", revelou o goleador.
Carreira como treinador
Um ano depois de pendurar as chuteiras, em novembro de 2012, Martín Palermo migrou para a carreira de treinador quando assumiu o Godoy Cruz.
Mesmo tendo começado sua jornada nos bancos de reserva no início da última década, o ídolo auriazul foi conquistar seu primeiro título como comandante apenas em 2024, pelo Olímpia.
Com o Decano, venceu o Clausura (espécie de segundo turno) do Campeonato Paraguaio. Na campanha, o tricampeão da Libertadores somou 44 pontos em 22 jogos (12 vitórias, oito empates e apenas duas derrotas).
O título inédito, além do contrato renovado no final da temporada, não seguraram sua demissão no início de 2025, após um começo ruim no Apertura (primeiro turno do Campeonato Paraguaio).
Anunciado nesta semana, Palermo terá uma semana de treinos no Fortaleza antes de sua estreia oficial no futebol brasileiro. O próximo compromisso do Leão acontece somente depois da Data Fifa deste mês, no dia 13 (sábado), quando, às 16h (horário de Brasília), o time recebe o Vitória no Castelão.