Ronaldo sobre críticas do Conselho do Cruzeiro: "Distorce a realidade"

Carta aberta assinada pelo ex-atacante e pela Tara Sport rebate nota oficial dos dirigentes da Raposa

Ronaldo se manifesta e rebate críticas do Conselho do Cruzeiro
Foto: Reprodução
Ronaldo se manifesta e rebate críticas do Conselho do Cruzeiro

Ronaldo e a Tara Sports, grupo do ex-atacante, se pronunciaram nesta quinta-feira pela primeira vez sobre a  nota oficial da mesa diretora do Conselho Deliberativo do Cruzeiro,  que criticou o acordo de compra da SAF do clube celeste pelo Fenômeno.

Veja abaixo galeria de fotos de Ronaldo:


Em carta aberta, afirmaram que o posicionamento dos diretores "expõe parcialmente dados confidenciais e distorce a realidade dos termos firmados na proposta apresentada ao Cruzeiro."

Segundo O GLOBO apurou, apesar da rusga e troca de acusações em tom ameno de forma oficial, nos bastidores Ronaldo e seu grupo ainda não falam em abandonar o projeto. Mas os interlocutores do ex-jogador tratam a situação como complicada e dependente da aprovação dos ajustes no modelo da SAF.

"O valor de investimento previsto na proposta de aquisição define um aporte inicial de R$ 50 milhões, além de um compromisso de investimento de mais R$350 milhões que pode ser feito através de incremento de receitas ou de aporte direto", diz a nota enfatizando em negrito a palavra "ou".

A carta também fala sobre o pedido de inclusão das Tocas da Raposa I e II, centros de treinamentos do clube, no acordo para a compra da SAF pelo Fenômeno.

"Vale ressaltar também que o pedido de inclusão das Tocas I e II na transação é simplesmente para proteção de patrimônio do Cruzeiro diante de uma realidade que se revelou significativamente mais grave do que aquela indicada nas informações inicialmente disponibilizadas e que foram utilizadas para a elaboração da proposta apresentada ao Cruzeiro", diz a carta, ressaltando que a Toca I e a sede administrativa do clube já estão comprometidas por causa da dívidas tributárias, podendo ser leiloados.

Em documento com quatro páginas de papel timbrado, a Mesa Diretora do Conselho Deliberativo criticou duramente a forma como o processo vem sendo conduzido pelo presidente Sérgio Santos Rodrigues e ainda classificou a negociação como "extremamente lesiva e desproporcional" para o clube e "excessivamente benéfica" para o empresário. De quebra, expõs informações do contrato protegidas sob cláusula de confidencialidade, o que abre possibilidade para o grupo do ex-jogador romper o acordo.

"Entendemos que a negociação capitaneada pela XP e com a anuência do Presidente Sérgio Santos Rodrigues é, de um lado, extremamente lesiva e desproporcional ao Cruzeiro, e, de outro, excessivamente benéfica ao Ronaldo, motivo pelo qual buscamos um reequilíbrio de todas as questões envolvidas no negócio", diz trecho do comunicado.

O posicionamento foi dado dois dias após Ronaldo pedir à mesa diretora que leve à votação duas novas exigências para que ele assine o documento definitivo da compra de 90% das ações da SAF. A principal e mais delicada delas é a transferência para a Sociedade Anônima das Tocas da Raposa I e II, onde treinam as equipes de futebol profissional e de base.

Apesar de todas as contestações, a mesa diretora não se opõe à transferência. Mas expressa preocupação com eventual prejuízo para o clube.

"Com a concretização desta negociação, nos termos defendidos pela XP e pela presidência do Cruzeiro, corremos um risco real de, ao final, termos um Cruzeiro sem patrimônio e sem qualquer representatividade e força dentro da SAF, com possível diluição de sua participação acionária".

No modelo original de conversão em SAF aprovado no ano passado, as Tocas permaneciam como propriedade da associação esportiva. No entanto, o ex-jogador as quer como contrapartida à SAF assumir o pagamento de uma dívida do clube com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional. São impostos não pagos à União e que já vem sendo pagos há alguns anos.

Em outubro de 2020, um acordo permitiu seu parcelamento em 45 vezes e ainda garantiu desconto de 45%. Só que, se no primeiro ano as parcelas eram de R$ 350 mil, com o tempo este valor vai crescendo significativamente. Hoje, o pagamento mensal à União já é de R$ 1 milhão. A Toca I foi dada como garantia do acordo. Ou seja, se o pagamento for interrompido, há o risco de perdê-la.

Os conselheiros afirmam ainda que foram apresentados à proposta de compra da SAF dois meses após ela ter sido tornada pública. Eles dizem ter observado "com lamentação" que Ronaldo não iria assumir as dívidas do Cruzeiro, avaliadas em torno de R$ 1 bilhão. O ex-jogador ficaria com 90% das ações da SAF com o compromisso de injetar R$ 50 milhões no momento da concretização da compra e mais R$ 350 por meio de receitas que eles chamam de "incrementais". No caso, explicam, aquelas geradas pela própria gestão da Sociedade Anônima.

O comunicado também aponta que contrato prevê que "todo o plantel - composto por mais de 100 jovens jogadores - seria da SAF, a marca do Cruzeiro seria explorada pela SAF, com exclusividade e sem qualquer contrapartida financeira e a totalidade do passivo do Cruzeiro deveria ser reestruturado e liquidado pelo próprio Cruzeiro, que também deveria regularizar e alienar seus ativos imobiliários não essenciais ao seu funcionamento".

"Assim, neste novo formato, passaria a caber ao Cruzeiro, assessorado pela XP, 10% da SAF, a liquidação de seu passivo inclusive com a venda de seu patrimônio imobiliário para tanto, à exceção da dívida tributária que passa a ser do Ronaldo e este, em contrapartida, recebe as Tocas I e II", continua o texto.

A proposta de Ronaldo (que além da transferência das Tocas solicita autorização para dar entrada num processo de recuperação judicial) precisa ser avaliada e votada pelo Conselho Deliberativo do Cruzeiro. O edital de convocação deve ser apresentado nos próximos dias. Ele deverá marcar a reunião para duas semanas a partir de sua publicação.