Saiba por que Luís Castro é o nome ideal para Botafogo de John Textor

Técnico português está na mira do Alvinegro e pode substituir Enderson Moreira, demitido nesta sexta-feira

Luís Castro está na mira do Botafogo
Foto: Reprodução/Instagram
Luís Castro está na mira do Botafogo

Não se pode dizer que a demissão de Enderson Moreira, anunciada nesta sexta, pegou a torcida do Botafogo de surpresa. Logo na partida de estreia no Carioca sua falta de sintonia com o novo momento do clube ficou bem clara — ele era crítico à forma como decisões estratégicas vinham sendo tomadas. O que chamou atenção dos torcedores foi a busca por Luís Castro para substituí-lo. O português não é conhecido do público brasileiro e, mesmo com os treinadores lusitanos em alta por aqui, nunca teve seu nome especulado. Um olhar para seu currículo e suas ideias, contudo, ajuda a entender a escolha e a torna coerente com os planos de John Textor.

Veja abaixo galeria de fotos de Luís Castro:


A estante de títulos de Castro enquanto treinador não é sua melhor propaganda. Sua taça de maior expressão é a do Campeonato Ucraniano 2019/2020 pelo Shakhtar Donetsk. Além disso, venceu a segunda divisão portuguesa na temporada 2015/2016 com a equipe B do Porto. Atualmente, treina o Al-Duhail, do Qatar. Mas resumi-lo a isso seria uma avaliação superficial de seu trabalho.

Sua passagem pelo Porto vai muito além da conquista da Segunda Liga. Durante sete anos, Castro foi diretor técnico das categorias de base do clube. Neste período, promoveu uma reformulação no trabalho de formação de jogadores, algo pouco valorizado no clube à época. Em resumo, ele reuniu todas as equipes inferiores num único centro de treinamento, investiu em profissionais e estabeleceu uma metodologia única de trabalho.

O Porto deu um salto enquanto formador. Na temporada 2006/2007, quando assumiu o cargo, cinco atletas do elenco haviam saído das divisões de base. No elenco atual, são dez. O retorno não veio apenas em opções para a equipe principal, mas também em dinheiro. Quatro das principais vendas da história do clube foram de jogadores revelados a partir da era Castro: Fabio Silva (vendido ao Wolverhampton por 40 milhões de euros), André Silva (comprado pelo Milan por 38 milhões de euros), Ricardo Pereira (negociado com o Leicester por 22 milhões de euros) e Diogo Dalot (foi para o Manchester United também por 22 milhões de euros). E se ainda precisava de mais algum selo de qualidade para as divisões inferiores, ele veio com o título da Liga Jovem da Uefa (espécie de Champions League junior) de 2018/2019.

Dono do Botafogo, John Textor sempre deixou bem claro que seu interesse é em investir na base para inserir o clube numa rede global de formação e venda de talentos. Neste sentido, Castro é visto com muito bons olhos.

A pergunta que se faz, então, é a de por que trazê-lo para dirigir a equipe principal. Mesmo tendo deixado a carreira de dirigente para virar treinador de times adultos, Castro ainda leva este conhecimento consigo. E compreende seu papel na sequência do desenvolvimento dos atletas depois que eles são promovidos.

Isso se reflete inclusive em suas ideias de jogo. O português é um defensor dos conceitos mais em voga no futebol atualmente: valorização da posse, construção partindo de trás com saída em três, exploração da largura do campo e presença de cinco homens no ataque. Mas não porque seja um fã de Pep Guardiola. Ele entende que é este estilo que permite que todos os jogadores participem ativamente da partida e se desenvolvam — o que consequentemente acaba ajudando na venda deles mais tarde.

— Temos ativos que compramos por 5 milhões e precisamos vender por 20. Ou que compramos por 20 e precisamos vender por 50. Então preciso ter um jogo estético, de qualidade e de inclusão permanente dos meus jogadores quer no momento ofensivo ou no defensivo. Hoje o modelo é comprar, desenvolver e vender. Ou formar, desenvover e vender. E se você compra caro, tem que vender ainda mais caro — disse em entrevista ao podcast Footure:

— O treinador muitas vezes é contratado para ser campeão, e os torcedores querem que sejamos campeões. Eu estou de acordo, porque também quero ser campeão. Só que, para além de ser campeão, tenho que desenvolver os meus jogadores, e a administração precisa, no final do ano, ter rentabilidade. Então tenho que apresentar à minha adminitração um jogo de qualidade e de inserção dos meus jogadoes. Pode ser um jogo mais direto, mas aí não vai dar desenvolvimento aos meus jogadores. Pelo menos não aos que jogam no meio-campo. Então gosto desse jogo apoiado e da estética do jogo. Porque eu gosto da estética, mas também porque sei que este tipo de jogo pode levar a rentabilidade.

Para completar, sua experiência no Shakhtar ainda o permitiu ter um conhecimento dos jogadores brasileiros. Ele trabalhou com nada menos do que 11 atletas do país no elenco.

No papel, de fato pode ser considerado o nome perfeito para executar os planos de Textor. Resta saber se na prática a aposta irá se confirmar.