DOHA — A volta do Flamengo a um Mundial de Clubes após 38 anos, para um torneio jogado no Qatar, com participantes dos mais diversos continentes, naturalmente se transformaria num manancial de grandes histórias. Seguindo o perfil de um clube de torcida multifacetada, até pelo seu gigantismo, o rubro-negro arrastou a Doha empresários, investidores do mercado financeiro e até gente que se endividou para chegar ao Oriente Médio. São relatos de ricos, pobres, jovens e idosos. Histórias de amor e de sacrifício.

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Ana Carolina acompanha a avó Ialva, de 85 anos
Reprodução/OGlobo
Ana Carolina acompanha a avó Ialva, de 85 anos

E por falar em sacrifício, impossível não notar a chegada de Ana Carolina Dias Santos, 32 anos, que acompanhava a avó, Ialva Ednalvis Braga, de 85, que se locomovia com a ajuda de uma cadeira de rodas elétrica. O peso dos anos, a distância, nada disso impediu Ialva de fazer a viagem do Rio ao Qatar. "O Flamengo é um amor da vida toda, é tudo para mim. Fui ao Japão em 1981, não deixaria de vir aqui", disse ela.

Mas há sacrifícios de toda ordem, entre eles financeiros. Que o diga o comerciante conhecido em Duque de Caxias como Reginaldo Cachorrão. Dono de uma mercearia no município da Baixada Fluminense, ele vendia faixas de bicampeão mundial na porta do Khalifa International Stadium como forma de amenizar o custo da viagem. Após gastar R$ 2 mil para assistir à final da Libertadores, em Lima, para onde se deslocou de ônibus, percebeu que raspara todas as reservas de sua poupança. Contrariando a mulher, que passou uma semana sem lhe dirigir a palavra, pegou um empréstimo bancário de R$ 15 mil.

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— Vou pagar uns R$ 12 mil de juros, 20 prestações de R$ 1.359,69. O dinheiro entrou na minha conta, nem esquentou, e já foi usado para pagar esta viagem — disse ele, que vendia cada faixa a 20 riais, a moeda do Qatar, o equivalente R$ 23. — Depois que minha mulher percebeu que não tinha jeito, que eu ia viajar mesmo.

Pelo dobro do preço, o inglês Demien Pull vendia cachecóis do Flamengo. O curioso é que ele não torce pelo rubro-negro, tampouco pelo Liverpool, que nesta quarta-feira joga a outra semifinal do Mundial.

— Sou Chelsea. Estou apenas tentando fazer algum dinheiro, porque não vim para o torneio. Estou em viagem de férias — contou.

Tem quem ignorou problemas de saúde, como Luciana Maia, que chegava ao estádio acompanhada do marido Maurício, este com um traje árabe. Há um mês, ela sofreu uma paralisia de um nervo do crânio, com implicações em seu olho direito, protegido por um curativo.

— Isso é coisa pequena. Nem por um minuto pensei em desistir da viagem — disse ela.
A festa que grupos de rubro-negros fazem por Doha conquistou também novos torcedores, como o menino Agastaya, de 10 anos, que vive nas Ilhas Maurício. Ele viajou com o pai, torcedor do Liverpool. Mas decidiu torcer pelo Flamengo.

— Mas a verdade é que nós gostamos muito do futebol brasileiro — disse o pai, Jowahir.

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Em dado momento da chegada dos torcedores do Flamengo , chamou atenção de alguns que parte da guarda responsável pela segurança dos acessos ao estádio deixou de observar os torcedores. Alinhados, iniciaram a oração, uma das cinco vezes no dia em que os muçulmanos oram. Outros se dirigiam à mesquita localizada junto ao estádio.

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