Serginho
Arquivo iG
Serginho

Há 15 anos, na noite de 27 de outubro de 2004, o futebol brasileiro enfrentava um de seus episódios mais tristes: a morte de Serginho, jogador do São Caetano. O zagueiro sofreu uma parada cardíaca durante uma partida contra o São Paulo, no Morumbi, foi socorrido, mas não resistiu e acabou falecendo no Hospital São Luiz, aos 30 anos de idade.

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Jogador de vigor físico, visto como xerifão da zaga do Azulão nos tempos áureos do time, Serginho era querido por todos no dia a dia do clube, como lembra o presidente do São Caetano , Nairo Ferreira: “O Serginho era um cara maravilhoso, não tinha quem não gostava, o grupo de jogadores, os torcedores. Ele era um cara que se relacionava muito bem com todo mundo. Um pai excelente, marido exemplar. Ele se destacava pela voluntariedade, muito guerreiro, dominava o vestiário. Ele faz uma falta danada”, destacou o dirigente.

Nairo estava ao lado de Serginho no momento exato de sua morte e dá detalhes sobre aquela noite no hospital: “O Serginho acabou falecendo comigo ao lado dele. Os médicos estavam fazendo massagem cardíaca nele. Ele ia e voltava, ia e voltava, até que o médico olhou para mim e disse que não tinha mais o que fazer. Ele acabou morrendo de mãos dadas comigo. Tenho essa cena até hoje e me traz uma recordação muito ruim. Eu estava perdendo praticamente um filho ali”, lamentou.

Serginho é atendido em campo após sofrer parada cardíaca
Reprodução
Serginho é atendido em campo após sofrer parada cardíaca


Serginho morreu ainda vestindo o uniforme de jogo do São Caetano, que foi rasgado para facilitar o atendimento médico. Nairo ficou com as chuteiras usadas pelo zagueiro naquela partida contra o São Paulo e as levou para o clube do ABC, onde permanecem até hoje.

CASO ARQUIVADO PELA JUSTIÇA

As investigações do caso se desenrolaram no sentido de desvendar se Serginho sabia ou não sobre sua doença cardíaca. Em fevereiro de 2004, o zagueiro, assim como todos os outros jogadores do elenco do São Caetano, foram submetidos a exames cardiológicos no Incor (Instituto do Coração). Na ocasião, segundo a versão do clube, foi constatado que Serginho tinha uma arritmia de grau leve e que tal problema não o impediria de continuar jogando. Ainda segundo a versão do São Caetano, em nenhum momento o clube foi informado pelo Incor que a doença de Serginho era grave.

Já o Incor, por meio do cardiologista Edimar Alcides Bocchi , chegou a apresentar um prontuário no qual alertava que o jogador tinha um problema grave no coração e que havia risco de morte súbita. No entanto, uma perícia particular feita a pedido da defesa do médico do São Caetano à época, Paulo Forte , levantou a possibilidade de que parte do que estava escrito no documento apresentado pelo Incor havia sido inserida após a morte de Serginho.

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Para deixar o caso ainda mais confuso, o próprio Bocchi assinou um documento em conjunto com Paulo Forte, afirmando que a morte de Serginho foi uma fatalidade. A nota pública foi divulgada após a necropsia do jogador. No comunicado, ambos os médicos alegam que o problema que matou Serginho ( hipertrofia miocárdica ) não foi constatado nos exames realizados pelo Incor em fevereiro de 2004, deixando claro, portanto, que a doença do zagueiro só surgiu após a avaliação cardiológica realizada no início daquele ano.

Nota pública assinada por Paulo Forte e Edimar Bocchi
Reprodução
Nota pública assinada por Paulo Forte e Edimar Bocchi


O Ministério Público indiciou o presidente do São Caetano, Nairo Ferreira, e o médico do clube, Paulo Forte, por homicídio doloso. A denúncia, porém, foi desqualificada para homicídio culposo (quando não há intenção de matar) pelo STF (Superior Tribunal Federal) e Nairo e Paulo acabaram sendo absolvidos.

PUNIÇÃO NA ESFERA ESPORTIVA

Embora não tenha existido sentença na Justiça comum, houve algumas punições no âmbito esportivo. O presidente Nairo Ferreira foi suspenso por dois anos. Posteriormente, a pena foi abrandada e o mandatário cumpriu apenas um. O médico Paulo Forte pegou quatro anos de gancho, que depois acabou sendo diminuído para dois. O São Caetano, por sua vez, perdeu 24 pontos na tabela de classificação do Campeonato Brasileiro de 2004. Mesmo assim, o time conseguiu evitar a queda para a Série B naquele ano.

Nairo Ferreira, presidente do São Caetano
Divulgação/São Caetano
Nairo Ferreira, presidente do São Caetano


Nairo Ferreira não concorda com a punição que foi imposta na época. “A justiça desportiva quis pegar como exemplo o São Caetano. Naquela época, morria um na África, morria um aqui, outro ali, e ninguém falava nada. Então pegaram o São Caetano como um bode expiatório e fizeram aquele carnaval, aquela divulgação toda de que todo mundo era bandido, que todo mundo era culpado”, disse o mandatário.

OS REFLEXOS NA MEDICINA ESPORTIVA

A morte de Serginho levantou uma preocupação em torno dos diagnósticos de problemas cardíacos que podem afetar os jogadores profissionais. Atualmente, no entanto, a chance de um atleta ter um problema cardíaco grave que possa passar despercebido é pequena, como explica o médico do São Paulo, José Sanchez.

“Obviamente sempre existe uma possibilidade, mas acho pouco provável se for feita uma avaliação completa e, depois de feita essa avaliação, se ela for avalizada por um profissional da área, por um cardiologista do esporte, como nós fazemos aqui. Além dos atletas fazerem os exames cardiológicos, no final quem vai interpretar estes exames é um cardiologista do esporte, não é um cardiologista comum. Ele vai nos passar a informação se o atleta tem um problema que preocupe mais, que deva fazer um complemento da avaliação”, pontua Sanchez.

Quando perguntado se a morte de Serginho causou algum tipo de mudança na política de exames dos clubes brasileiros, Sanchez esclareceu: “Por parte dos grandes clubes, acredito que não deva ter mudado muita coisa, porque eles já se preocupavam em fazer as avaliações dos atletas. Mas acredito que mesmo para aqueles clubes que tenham mais dificuldade, alertou e todos hoje procuram fazer o minimamente necessário para que evite esse tipo de situação”.

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