Para especialista, solda em guarda-corpo do estádio é inadequada: "Faltou a devida preocupação técnica"

Quando o meia Michel Bastos marcou o gol da vitória do São Paulo sobre o Atlético-MG na última quarta-feira, pela Copa Libertadores, o administrador de empresas Salim Ali não conseguiu comemorar. O torcedor estava no camarote onde um guarda-corpo cedeu e cerca de 30 pessoas caíram de uma altura de cerca de dois metros do anel inferior até o fosso. A única reação dele, que não se feriu, foi de procurar pelo filho de 11 anos, que, com três fraturas no rosto, é uma das vítimas com mais ferimentos no episódio.
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"Não houve 'avalanche' na hora do gol. Todos estavam parados. A grade estava fraca e mal conservada. Vi que a base estava dele enferrujada. A gente nunca ia imaginar que aconteceria esse estrago", contou Ali. Na última quinta, o administrador passou o dia em hospitais para acompanhar as transferências do filho, que foi submetido a uma cirurgia.
Aos 11 anos, o garoto frequenta o estádio desde os cinco e por ser fanático pelo São Paulo, não chegou a reclamar do acidente. "Como ele é novo, não entende direito o que se passou. De dor ele não tem reclamado, mas ficou feliz com a vitória do time", contou o pai. Apesar do susto com a queda, Ali elogiou o atendimento do São Paulo e afirmou ter sido bem assistido, inclusive com telefonemas de dirigentes.
O São Paulo atendeu no ambulatório do estádio 16 feridos. Sete deles foram encaminhados para hospitais e três, incluindo o filho de Ali, precisaram passar por cirurgias para corrigir fraturas. Outros dois chegaram a receber alta, mas como sentiram dores, foram encaminhados para serem submetidos para novas avaliações.
O clube prometeu bancar todos os gastos hospitalares das vítimas e aguarda o resultado dos laudos técnicos para definir quais providências tomar. Nesta quinta-feira, a Defesa Civil determinou a interdição da primeira fileira de cadeiras de todo o anel inferior do Morumbi.
Especialista diz que solda em guarda-corpo no Morumbi é inadequada
Um perito do Instituto de Criminalística e uma especialista ouvida pela Estadão.com alertaram para as mesmas possíveis causas para explicar o rompimento do guarda-corpo em um camarote do estádio do Morumbi durante jogo do São Paulo na última quarta-feira. A fragilidade do material de aço inox é apontada como um dos motivos para que a estrutura tenha cedido, deixando 16 torcedores feridos ao caírem do anel inferior para o fosso.

Anos atrás o clube elevou o guarda-corpo de 1 metro para 1,1m para atender padrões de segurança. No procedimento, realizou uma solda para fixar uma nova peça e mudar a altura. "Não é recomendado efetuar uma solda em guarda-corpos. Faltou a devida preocupação técnica até para se fazer testes", disse Flávia Zóega Andreatta Pujadas, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape-SP) e especialista em avaliações e perícias de engenharia.
"Realizar uma solda em qualquer elemento metálico fragiliza o material, a não ser que seja uma solda de altíssimo desempenho", explicou a especialista. A grade cedeu durante a comemoração do gol de Michel Bastos, o da vitória por 1 a 0 sobre o Atlético-MG nesta quarta-feira, pela Copa Libertadores. O incidente fez a partida paralisada por seis minutos.
Logo depois do fim do jogo o perito do Instituto de Criminalística Edwar Folli Junior visitou o local e afirmou que havia corrosão na grade. "Vamos mandar para o laboratório para ver que tipo de corrosão. É muito evidente, dá para ver que estava fragilizado. Não é feito para suportar a tensão que suportou", completou.
O vice-presidente de comunicações e marketing do São Paulo, José Francisco Manssur, afirmou em entrevista coletiva na tarde desta quinta-feira que a solda na grade não pode ser apontada como a causa do acidente. "Não houve ruptura na solda da adaptação. Quando tivermos o laudo, vamos nos manifestar sobre isso", disse.
O dirigente defendeu que o rompimento do guarda-corpo evitou a aglomeração excessiva e possíveis lesões aos torcedores. "Um guarda-corpo não pode cair a qualquer força, mas se ele não ceder, pode causar esmagamento e as pessoas podem se espremer", explicou.
Já a engenheira, por sua vez, afirmou que pelas normas técnicas o guarda-corpo não poderia ceder. "Tem que ser resistente e jamais ceder. Ele não pode funcionar como um alambrado, até porque do outro lado tinha um desnível de pelo menos dois metros."