Se na mídia as mulheres ainda estão conquistando o espaço e crescendo dia-a-dia, as atletas se consolidam com conquistas e resultados expressivos. Porém, mesmo com este crescimento que as coloca, muitas vezes, em níveis superiores aos homens, as atletas do País ainda sofrem muito com a diferença e com o preconceito.
"O maior preconceito vem da torcida. Primeiro por serem a maioria, segundo por serem quem faz o espetáculo andar, terceiro, porque visualmente são eles quem vão escolher o que gostam de ver ou não. Os outros setores, na grande maioria, gostam do futebol feminino, ou no mínimo são pagos pra gostarem e tentarem se adaptar, já a torcida não, eles têm que gostar do que visualizam pra poder acompanhar", disse Mayara Bordin, jogadora de futebol feminino da equipe do Corinthians Audax.
Foto: Arquivo pessoal
Mayra Siqueira, que além de jornalista é atleta, vive os dois lados do preconceito com a mulher no mundo esportivo
Mayra Siqueira, que além de jornalista também compete em provas Master de Natação, acredita que exista o preconceito, mas que ele é mais leve do que o encontrado no jornalismo - "É muito comum o técnico e o colega se inclinarem a reclamar ou falar alguma coisa, fazer uma graça e falar que qualquer coisa de mulher é frescura, 'Ai que chatice! Tinha que ser mulher'. Esse tipo de alusão que é bastante comum, mas é algo muito mais ameno e mais brando que o jornalismo", disse.
Apesar de cada vez ser mais comum ver que as mulheres estão conquistando espaço dentro do mundo esportivo, este cenário está longe de ser favorável e deve demorar para que seja realmente percebida uma igualdade.
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"Esse negócio de preconceito, essas diferenças entre gêneros, é uma coisa muita antiga, mas ainda acontece muito. Acho que temos mostrado que mulher tem muita capacidade sim de trabalhar no esporte. Com o passar do tempo, se conseguirmos entrar mais e mais no meio esportivo, eu espero que isso acabe. Acabar não vai, pois sempre terá um ou outro que prefere acreditar que os homens são melhores que as mulheres, mas eu acho que não tem essa distinção. As pessoas tem que enxergar isso, tem que ter o respeito pela profissional mulher", afirmou Isabela.
ASSÉDIO
Foto: Arquivo pessoal
Isabela Labate acredita que o importante é não se abalar com o assédio por ser mulher no jornalismo esportivo
"Acontece, mas de novo mais pelos colegas, pelo fato de ser mais homens que mulheres no meio. Quando aparece uma repórter nova é "Carne nova no pedaço", todo mundo vai pra cima, é péssimo, mas acontece sempre" - Mayra Siqueira
"Existe assédio sim. Em estádio principalmente tem muito torcedor que fala muita besteira. Você tá ali pra trabalhar como um profissional qualquer. A gente escuta bastante e é claro que as vezes acontece de um entrevistado arranjar um jeito de dar em cima de você. O negócio é ter jogo de cintura e impor respeito" - Isabela Labate
"Na minha cabeça sofro assédio como qualquer pessoa normal. Mas como atleta e pessoa pública a gente tem que saber lidar muitas vezes de uma maneira mais branda, independente de estarmos gostando da situação ou não, pois o julgamento sempre vem acompanhado com a profissão que exercemos e não só pela pessoa que somos. Mas pra mim é tranquilo lidar com isso" - Mayara Bordin
CONSELHO PARA QUEM QUER SE AVENTURAR NO ESPORTE
"Seja forte, não titubeie, não se deixe levar pelas criticas e toma cuidado onde você pisa em primeiro lugar, saiba com quem você anda e as declarações que você dá, perto de quem você estiver por que infelizmente na oportunidade que tiverem pra te derrubar eles vão tentar fazer isso, não dá brecha. Infelizmente tem que ser assim por enquanto, mas as coisas vão mudando aos poucos" - Mayra Siqueira
"A mulher que quiser entrar no jornalismo esportivo ela tem que saber que não vai ser fácil. Pra mulher é mais dificil sim! Um erro é muito menos tolerável que o erro de um homem, digo isso no geral, pra público tb. Ela vai ser hostilizada no estádio, ouvir besteira de homem. O negócio é não se deixar abalar. Se esse é o sonho dela, ela tem que ir atrás. As mulheres já conquistaram muita coisa no mundo, falta muita coisa pra conquistar, infelizmente, mas eu acho que temos muita capacidade. A mulher é sempre muito guerreira, organizada. Então temos todas as condições de provar que trabalhamos igual a um homem, não tem essa distinção. Esse é o conselho que eu dou: Se ela quer, vai em frente, mostra que é capaz e que consegue. Seja forte, nada pode abalar a gente" - Isabela Labate
Foto: Arquivo pessoal
Mayara Bordin joga futebol no Corinthians Audax
"Meu conselho seria pra que nunca perdesse o foco, que planejasse desde de cedo sua trajetória, e que tenha foco, determinação e disciplina nelas, que com certeza isso vai levar ela a chegar aonde ela quer. E que, além disso, não deixe de estudar, pois o estudo também forma um cidadão, além de um bom atleta. Juntando essas duas coisas, você será um atleta com mais escolhas na vida, pois ser atleta é muito difícil e muitas vezes pra ser bem sucedido não depende só da gente. Então precisamos ter outras opções também, pra não ficar à mercê do que a vida pode nos reservar. Temos sempre que ir em busca do melhor pra gente, seja qual forem as portas que se abram" - Mayara Bordin.