
A edição de 2001 do Mundial de Clubes foi um dos maiores fiascos da Fifa em todos os tempos.
O torneio foi anunciado, tinha times definidos, tabela de jogos pronta, clubes vendendo pacote de viagens para os torcedores, mas a competição acabou nunca acontecendo.
O primeiro Mundial da Fifa
No ano anterior, em 2000, a Fifa organizou o primeiro Mundial de Clubes com a chancela oficial da entidade e reunindo times de todos os continentes.
De 1980 até 1999, o mundo do futebol considerava como Mundial Interclubes o jogo entre o campeão da Copa Libertadores e o campeão da Champions League, que se enfrentavam no final do ano no Japão.
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Nas décadas de 1960 e 1970, os campeões sul-americanos e europeus também se enfrentavam, mas em jogos de ida e volta, nos seus respectivos estádios.
No ano 2000 a Fifa finalmente conseguiu tirar do papel um plano antigo: organizar uma competição realmente mundial, ou seja, que tivesse representantes do mundo inteiro.
O primeiro Mundial da Fifa foi realizado no Brasil e vencido pelo Corinthians, derrotando o Vasco na final no estádio do Maracanã.
A Fifa considerou o Mundial de 2000 um sucesso e decidiu que o torneio deveria ser anual. Assim, em 2001, deveria haver outra edição do campeonato, ainda maior que a edição inaugural.
Em 2000, 8 times disputaram a competição. Em 2001 seriam 12 times: 2 da Ásia, 2 da África, 2 da Europa, 2 da América do Norte e Central, 2 da América do Sul, 1 da Oceania e 1 do país sede.
Quem eram os participantes do Mundial de 2000?
O representante solitário da Oceania era o Wollongong Wolves, da Austrália, campeão continental em 2001.
Da Ásia foram confirmados o Jubilo Iwata, do Japão, campeão continental em 1999, e o Al Hilal da Arábia Saudita, campeão asiático em 2000.
Da África os representantes eram o Hearts of Oak, de Gana, campeão continental em 2000, e o Zamalek, do Egito, campeão da Recopa Africana de 2000.
Os representantes da América do Norte e Central eram o Los Angeles Galaxy, dos Estados Unidos, campeão continental em 2000, e o Olimpia, de Honduras, vice-campeão continental em 2000.
Na Europa os classificados foram o Real Madrid, da Espanham campeão da Champions League 99-2000 e o Galatasaray, da Turquia, campeão da Copa da Uefa, antiga Europa League, na temporada 99-2000.
O Mundial de 2001 seria realizado na Espanha, então a Europa tinha um terceiro representante na competição: o Deportivo La Coruña, campeão espanhol da temporada 99-2000.
Finalmente, na América do Sul os representantes eram o Palmeiras, campeão da Libertadores de 1999, e o Boca Juniors, campeão da Libertadores de 2000, vencendo justamente o Palmeiras na final.
O time paulista se garantiu no Mundial de 2001 após ter ficado de fora da edição de 2000, meio a contragosto.
Em 2000 a Conmebol indicou o Vasco, campeão da Libertadores de 1998 e o Corinthians como representante do país sede, já que o Corinthians havia sido campeão brasileiro em 1998.
Para os dirigentes do Palmeiras, o mais justo seria convidar o campeão de 1999, que era o time alviverde.
A Fifa deu uma justificativa meio esfarrapada, dizendo que não daria tempo de aguardar a definição de quem seria o campeão da Libertadores de 1999, mas a gente sabe que isso só foi uma desculpa.
A final da Libertadores de 1999 rolou em junho e o Mundial de 2000 começou em janeiro, ou seja, havia 6 meses de diferença entre as competições, tempo bastante suficiente para aguardar a definição.
No fim das contas, como o Mundial de 2000 foi realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro, a Fifa queria um time paulista e um carioca pra poder encher os estádios, então os escolhidos acabaram sendo o Corinthians e o Vasco.
O Palmeiras teve que aceitar ficar de fora do Mundial de 2000, com a promessa de ser incluído no Mundial de 2001, e assim foi feito.
A fórmula da competição
Os jogos do Mundial de 2001 seriam disputados em duas cidades espanholas: na capital Madrid e na cidade de Coruña, que fica na região noroeste do país.
A competição seria disputada de 28 de julho a 12 de agosto de 2001 e a Fifa chegou a realizar um sorteio em março para definir os grupos.
No grupo A, ficaram Boca Juniors, Deportivo La Coruña, Wollongong Wolves e Zamalek.
Todos os jogos do grupo A seriam disputados no estádio Riazor, do Deportivo La Coruña, exceto a partida entre Wolves e Boca Juniors na última rodada, que rolaria no Estádio de San Lazaro, em Santiago de Compostela.
No grupo B estavam Palmeiras, Al Hilal, Olimpia e Galatasaray.
As partidas do grupo aconteceriam no estádio Vicente Calderón, antigo estádio do Atlético de Madrid, exceto a partida entre Al Hilal e Olimpia na última rodada, que seria disputada no estádio Santiago Bernabeu.
Já o grupo C tinha Real Madrid, Jubilo Iwata, Los Angeles Galaxy e Hearts of Oak.
As partidas desse grupo seriam disputadas no Santiago Bernabeu, estádio do Real Madrid, com exceção da partida entre Los Angeles Galaxy e Jubilo Iwata na última rodada, partida que aconteceria no Vicente Calderón.
Essa troca de estádios na última rodada foi definida porque todos os jogos da última rodada de cada grupo aconteceriam ao mesmo tempo, então não havia possibilidade de serem disputados no mesmo estádio.
Os primeiros colocados de cada grupo e o melhor segundo colocado no geral avançariam para as semifinais.
Nas semifinais o vencedor do grupo A enfrentava o vencedor do grupo B, e o vencedor do grupo C jogaria contra o melhor segundo colocado.
Palmeiras confiante na campanha do Mundial de 2000
O Palmeiras aproveitou a onda pra tentar internacionalizar a marca do clube e também faturar alguns dólares com a participação do time no Mundial. A diretoria do Palmeiras chegou a contratar uma equipe de marketing pra criar ações promocionais envolvendo o campeonato mundial.
Pacotes de viagens chegaram a ser vendidos pra torcedores que quisessem viajar até a Espanha pra assistir os jogos do Palmeiras. Os valores partiam de 2.300 dólares até 5.600 dólares, incluindo passagem aérea, 16 noites de hospedagem e ingressos para todos os jogos.
O Palmeiras também pretendia criar em Madrid a Casa Palmeiras, espaço que seria usado como ponto de encontro dos torcedores e teria produtos à venda, além da presença de embaixadores do time, como o Luis Pereira e o Leivinha, ex-jogadores tanto do Palmeiras quanto do Atlético de Madrid.
Dirigentes do Palmeiras chegaram a acertar com a diretoria do Atlético de Madrid a utilização do centro de treinamento do time espanhol enquanto a delegação estivesse na Espanha.
O Palmeiras também fez contratações visando a disputa do Mundial. Chegaram ao clube o lateral Felipe, o zagueiro Argel e o meia Alex, que voltava ao time depois de ter sido campeão da Libertadores de 199.
O Palmeiras também tentava a contratação de Juninho Pernambucano, ex-Vasco, e que acabou se transferindo para o Lyon, da França.
O fim do sonho
A 2 meses do início do torneio, a ISL, empresa de marketing esportivo que cuidava dos direitos de transmissão dos torneios da Fifa, decretou falência.
A ISL era uma empresa suíça criada por Horst Dassler, filho de Adolf Dassler, fundador da Adidas.
A companhia se afundou em dívidas e no dia 21 de maio de 2001 decretou falência, com uma dívida acumulada em mais de 150 milhões de libras.
Com isso, a poucas semanadas do início do Mundial, a Fifa se viu sem a sua maior parceira de marketing e ficou sem saber o que fazer.
Algumas empresas até tentaram comprar o que restou da ISL, mas as negociações não avançaram.
Então, a Fifa decidiu cancelar a realização do Mundial, já que a entidade sozinha não era capaz de dar andamento nas questões de marketing e transmissão que a ISL comandava.
O presidente da Fifa na época, Joseph Blatter, ainda afirmou que os times europeus estavam reclamando do período que seria disputado o Mundial, justamente no final da temporada europeia.
Outro entrave no calendário era a realização da Copa América de 2001, na Colômbia. O torneio entre seleções terminaria no dia 29 de julho e o Mundial de Clubes começaria no dia 28, então alguns jogadores certamente desfalcariam os times pelo menos na primeira rodada do Mundial.
Assim, somaram tudo: a falência da ISL e as reclamações sobre o calendário, e o Mundial de 2001 acabou sendo cancelado oficialmente.
A Fifa pagou uma indenização de 750 mil dólares a cada um dos 12 times que participariam do torneio, quantia bem menor do que os quase 3 milhões de dólares que cada time ganharia por participar do Mundial.
A promessa da Fifa era de que o Mundial de Clubes voltaria a ser realizado em 2003, mas a data também não foi cumprida.
A entidade só conseguiu organizar novamente um Mundial em 2005, quando o São Paulo foi campeão vencendo o Liverpool na final.
Desde então, o Mundial no formato envolvendo clubes do mundo todo é realizado anualmente, num formato mais reduzido, com 7 participantes.
Novas edições do Mundial de Clubes
A novidade em 2025 foi a criação da Copa do Mundo de Clubes, torneio com 32 participantes, nos moldes da Copa do Mundo de seleções.
A promessa da Fifa é de que o Mundial nesse formato seja realizado a cada 4 anos. A CBF já trabalha nos bastidores pra levar o Mundial de 2029 pro Brasil.
O presidente da CBF Samir Xaud se reuniu com o presidente da Fifa Gianni Infantino durante o Mundial de 2025 nos Estados Unidos, e a diretoria da Fifa viu com bons olhos a realização do Mundial de 2029 no Brasil, já que o país também vai sediar a Copa do Mundo Feminina de 2027.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG