Luis Fernando Verissimo
Alice Vergueiro/Abraji
Luis Fernando Verissimo

O escritor, cronista e humorista Luis Fernando Verissimo morreu, neste sábado (30), aos 88 anos . Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, a sua cidade natal, com pneumonia desde o início de agosto .

Verissimo era apaixonado por futebol  e torcia para o Internacional, clube do seu estado. A sua paixão pelo esporte se estendeu às letras, sobretudo em suas primeiras colunas no jornal Zero Hora. Chegou a escrever sobre a fundação do Estádio Beira-Rio e sobre as partidas do seu time do coração.

Além disso, Luis Fernando Verissimo produziu livros em que lançou reflexões sobre a importância do futebol  em sua juventude e na de muitos brasileiros, em especial a mistura de sensações que só os jogos podem causar: alegria com a vitória, tristeza e angústia com a derrota, e entusiasmo com o calor das arquibancadas.


Internacional

Tesourinha, ídolo de Veríssimo
Reprodução/Portal do Colorado
Tesourinha, ídolo de Veríssimo


Em entrevistas, Verissimo revelou que só conheceu o futebol aos dez anos após voltar de uma viagem aos Estados Unidos com a sua família. Dentro de casa, havia uma oposição: o pai, o escritor Érico Verissimo, era torcedor do Grêmio, já o filho, Luis Fernando, amava o Internacional .

Ao longo da vida, viveu de perto momentos de alegria e tensão como torcedor do clube, em especial a final do Brasileirão de 1975, o tricampeonato invicto de 1979 e o Mundial de Clubes de 2006, quando viu o Internacional ser campeão após a vitória contra o Barcelona.

Em 2004, lançou o livro “Internacional: Autobiografia de uma Paixão” , que reúne crônicas em que o autor recorda a sua trajetória como torcedor do clube gaúcho desde a infância.

A obra resgata as memórias de Verissimo no antigo Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre, onde viveu as suas primeiras experiências com a arquibancada. O autor via no Internacional mais do que um time, mas um reflexo do seu passado ao lado de familiares e amigos.

Verissimo sempre deixou claro em suas obras e entrevistas que teve como ídolo o craque Tesourinha, ícone na história do Internacional. O escritor chegou a demonstrar publicamente a sua tristeza com a lesão no joelho que tirou o jogador da Copa do Mundo de 1950.

Entre as suas obras, há ainda a crônica “O passado é prólogo” , em que reflete sobre a vitória do Internacional na final do Mundial de Clubes. Verissimo via toda a história do clube, desde os seus títulos, derrotas, vexames e desilusões, como um “prólogo” ou uma preparação para aquele momento de glória dos colorados.

A felicidade com a vitória do Internacional era tão grande que dizia “se for, por favor: não me acordem” . A vitória histórica do time foi retratada por Verissimo no conto como um sonho, ou seja, foi um dos grandes momentos na vida do autor como torcedor.

Outra curiosidade é de que o dia 04 de abril era para Verissimo duplamente especial: a data de nascimento da sua primeira neta, Lucinda, e o aniversário do Internacional.

Nota

O Internacional emitiu, em publicação na rede social X, uma nota de pesar pela morte do autor. Confira o texto na íntegra:

Hoje nos despedimos de um colorado que, com sua escrita, marcou o imaginário do povo brasileiro. Faleceu, neste sábado (30/08), aos 88 anos, o escritor Luis Fernando Verissimo.

Torcedor do Clube do Povo, ficou conhecido pelos seus textos em formato de crônicas, contos e poemas. Algumas de suas obras ao longo das décadas incluem: O Analista de Bagé, a Velinha de Taubaté e a Família do Brasil.

O Sport Club Internacional deseja força para todos os familiares, amigos e leitores de um dos maiores nomes da literatura nacional.

Obras

Morre Luis Fernando Verissimo, mestre da crônica brasileira
Reprodução/Divulgação
Morre Luis Fernando Verissimo, mestre da crônica brasileira


Em “A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto” , publicado em 1999, o autor reuniu crônicas em que a bola se misturou à vida cotidiana, ao cinema e à própria literatura.

No livro, aparecem textos em que Verissimo descreve a sua paixão por  Tesourinha e a constatação de que, em campo, a genialidade e o improviso convivem com a dureza dos zagueiros que tentam, em vão, deter os craques.

Mais do que uma década depois, o escritor voltou ao tema em “Time dos Sonhos: Paixão, Poesia e Futebol” , uma coletânea em que as crônicas transitam entre reflexões filosóficos e o humor.

Em uma delas, compara o futebol a uma mistura improvável de xadrez com boxe, destacando a inteligência estratégica e a violência física que convivem no esporte. Em outra, narra o drama universal do coração que parece parar a cada Copa do Mundo .

Em “Time dos Sonhos: Paixão, Poesia e Futebol” , Veríssimo descreveu o futebol como uma metáfora privilegiada da vida: "nele cabem a glória, o fracasso, a euforia coletiva e a solidão individual" .

Revelou ainda que só o futebol permite a um homem de sessenta anos sentir a mesma emoção que aos seis, porque não existe uma forma adulta de amar o jogo.

Também em 2010, publicou o infantil “O Cachorro que Jogava na Ponta Esquerda” , no qual transformou o futebol de rua em fábula. O livro traz a história de um time sem nome e sem chuteiras, mas que encontrou na improvisação e na amizade a força para vencer, contando com a ajuda inusitada de um cachorro escalado como ponta.

A obra é inspirada em crônicas que Verissimo já havia escrito sobre a infância e as peladas de rua, em que os gols são feitos de chinelos e o número de jogadores varia conforme o humor da vizinhança.

Também escreveu " Torcedor" , de 2008, com a escritora Carola Saavedra. Na obra, palavras e fotografias de arquibancadas retratam juntas as diferentes emoções dos torcedores durante as partidas de futebol : angústia, esperança e alegria.

O livro do gaúcho expõe como o futebol pode ser sentido e vivido como uma religião pelos amantes do esporte.

Em crônica no Estadão, descreveu Pelé como o “reinventor” do futebol, capaz de usar a sua genialidade não apenas para brilhar, mas para tornar o gol inevitável. Também deixou registradas lembranças de seu primeiro Gre-Nal .

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