A arquibancada reflete o que acontece no campo. É assim que o futebol costuma funcionar. No Fluminense , se o ano é marcado pela irregularidade de uma equipe que está rapidamente alternando entre altos e baixos, as fases de lua de mel com a torcida também vem durando pouco. Na vitória sobre o Vila Nova na partida de ida da Copa do Brasil, os jogadores voltaram a ouvir os cantos de "time sem vergonha", xingamentos a Abel Braga e até "olé" quando o jogo se encaminhava para um vexame. Isso tudo menos de 20 dias depois do ápice da relação em 2022 com o título carioca.
Cercado de expectativas por conta do alto investimento em reforços e do segundo ano seguido na Libertadores, o Flu ainda não correspondeu nas atuações o nível que o torcedor tricolor aguardava. Mesmo assim, teve a melhor campanha do Campeonato Carioca e foi campeão diante do maior rival, o Flamengo, de quem havia perdido nos dois anos anteriores. Mas a montanha-russa de sentimentos nessa relação ajuda a traduzir o sentimento até de frustração até o presente momento.
Veja a tabela da Série A do Brasileirão
ESTREIA COM VAIAS
As expectativas eram altas para o primeiro jogo do ano, mas
a derrota para o Bangu
acabou sendo um balde de água fria na Ilha do Governador. O Fluminense jogou mal, não se adaptou ao esquema com três zagueiros e já na estreia saiu de campo vaiado. Abel Braga foi o principal alvo da torcida, que se frustrou com as primeiras impressões do novo time. A partir dali, demorou até o time perder novamente, mas as cobranças seguiram.
"BURRO"
A sequência de 12 vitórias consecutivas começou no triunfo sobre o Madureira, em Volta Redonda. No entanto, na segunda partida como mandante, diante do Audax Rio, Abel
ouviu os gritos de "burro"
ao não utilizar Paulo Henrique Ganso. O jogador, inclusive, acabou sendo uma das razões da birra do torcedor nos primeiros meses do ano. Antes da partida, assim como em outras oportunidades, os tricolores cantaram o nome do treinador, mas isso não tem sido uma constante em 2022.
SINTONIA
Foram necessárias 11 vitórias consecutivas para que Abel, enfim,
ganhasse algum tipo de voto de confiança
. Nesse meio, três clássicos levando a melhor, uma classificação sobre o Millonarios na segunda fase da Libertadores e o título da Taça Guanabara com uma goleada sobre o Resende e excelente campanha do time formado, na maior parte do tempo por reservas.
A relação atingiu o ápice
naquele momento com o triunfo sobre o Olimpia (PAR) por 3 a 1 em casa na ida da terceira fase da competição continental. Mas a partir disso tudo desandou.
VENDA DE LUIZ HENRIQUE E QUEDA DE RENDIMENTO
Tudo começou com a confirmação da
venda do atacante Luiz Henrique
para o Real Betis, da Espanha, por R$ 70 milhões, incluindo o valor fixo e os bônus. Os números foram considerados baixos pela torcida, que se revoltou pedindo explicações,
dadas pelo presidente Mário Bittencourt
no dia seguinte. Mais tarde, o Fluminense perdeu a sequência de vitórias ao empatar com o Boavista utilizando um time completamente reserva. Poucos dias depois, a eliminação na Libertadores acabou de vez com o resquício de bom clima que havia.
Cobrança no aeroporto
,
muros vandalizados
e insatisfação no ar.
SEMIFINAIS COM SOFRIMENTO
Com a vantagem do empate, o Fluminense até venceu o primeiro clássico com o Botafogo por 1 a 0, mas ia perdendo o segundo por 2 a 1 até Germán Cano salvar o dia no último lance. Foram duas péssimas partidas onde, mesmo com a classificação suada,
a torcida terminou vaiando jogadores, Abel e o presidente Mário Bittencourt
. A vaga na final do Campeonato Carioca vinha sob forte desconfiança e temor de perder pelo terceiro ano seguido.
SÓ FESTA
Mas as expectativas negativas se revelaram furadas. O Fluminense entrou com uma postura bem diferente contra o Flamengo, buscou jogo e foi premiado com a vitória por 2 a 0 na primeira partida. No segundo confronto, novamente boa atuação e o empate por 1 a 1 que
garantiu o título do Carioca
depois de 10 anos. Ali, a esperança de que ainda era possível extrair muito desse elenco. Todos os jogadores foram exaltados, diversos se destacaram e
o próprio Abel Braga
acabou novamente nos braços do torcedor. No treino aberto antes da estreia no Brasileirão, mais exaltação. Mas a sensação era de que a confiança recebida pouco antes nunca voltaria a se estabelecer.
DECEPÇÃO
O Fluminense pós título parece ser pior que o pré, se é que era possível. Depois de levantar a taça, o time foi "arame liso" diante do Santos ao dominar e não conseguir fazer gols no empate por 0 a 0. Depois, sofreu uma derrota acachapante para o Junior Barranquilla por 3 a 0 na Colômbia e ainda venceu o Cuiabá por 1 a 0 com gol no final após mais uma atuação muito ruim.
A insatisfação estava escancarada desde os primeiros minutos no retorno do time ao Maracanã após dois jogos fora. A vitória sobre o Vila Nova teve raiva com o comportamento no primeiro tempo, decepção com o 2 a 0 imposto pelos goianos e certo alívio após a virada. Mas não houve celebração, apenas cobrança. Um misto de vaias e aplausos, além de xingamentos a Abel e até "olé" a cada toque do adversário na bola marcaram o jogo da Copa do Brasil.
- A gente tem noção de que a nossa torcida é exigente e está no direito dela. Eles são o coração do clube e a gente nunca vai para a rota de colisão com eles. Eu já cometi o erro de me desgastar e posso falar por experiência própria que não vale a pena. A nossa torcida é inteligente, e fica um aprendizado para os time e todos que foram ao estádio hoje -
disse Fred após a partida
.
- Primeiro é que se entrarmos da forma como fizemos no primeiro tempo, mesmo com a superioridade, a gente pode estar chamando a torcida contra a gente. Aprendemos isso, e temos que entrar mais fortes. O outro é que se a torcida tiver do nosso lado até o fim, a gente pode virar jogos como esse, na superação. Ouvi a torcida gritando o segundo tempo até o final. Sempre tentamos jogar da melhor forma, hoje tivemos dois machucados e ficamos com um a menos… Muito difícil - completou.
Para tentar recuperar novamente o bom momento com a torcida, o Fluminense terá mais dois jogos em casa. Neste sábado, enfrenta o Internacional às 19h, pela terceira rodada do Brasileirão. Na terça-feira, terá o Unión Santa Fe às 21h30, pela fase de grupos da Sul-Americana.