Nada foi capaz de parar Verônica Hipólito na vida. Em 2008 foi diagnosticada com um tumor no cérebro, em 2013 sofreu um acidente vascular cerebal (AVC), comprometendo os movimentos do lado direito do corpo e em 2015, em função de uma síndrome rara, teve que retirar quase todo o intestino grosso. Na Paralimpíada do Rio 2016, apenas a britânica Sophie Hahn conseguiu superar a brasileira, que chegou a duvidar de si mesma.
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“Quem diria que a menina que nem saía da cama depois que teve um AVC, que passou por uma cirurgia muito delicada e que sequer voltaria ao esporte terminaria com uma medalha de prata nos Jogos Paralímpicos. Ninguém. Nem ela. Mas, mais uma vez eu mostrei que dá sim. Comecei no atletismo para poder voltar a andar e olha onde eu cheguei. E ainda quero chegar em um lugar que nem imagino”, ressalta a medalhista de prata na Paralimpíada
do Rio 2016.
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A fase mais difícil na vida da atleta de apenas 20 anos, aconteceu antes do Parapan de Toronto, quando descobriu que tinha uma condição rara, a Polipose Adenomatosa Familiar. Com centenas de pólipos no intestino grosso, ela decidiu adiar a retirada do órgão para depois das provas no Canadá. Embora Verônica não estivesse em condições clínicas ideiais, na superação, ela levou três ouros (nos 100m, 200m e 400m T38) e uma prata (no salto em distância T20/37/38).
Medalhista paralímpica, a brasileira é sinônimo de superação
Mesmo com a cirurgia, o sofrimento ainda ia durar nove meses. Sem conseguir absorver nutrientes, Verônica sofreu com dores, anemia e perda de peso. Com 1m58, ela chegou a pesar 41kg. “Agora estou pesando 49kg e sigo firme e forte rumo aos 50kg”, comenta. Mas não acavaba por aí. O tumor no cérebro cresceu e Verônica tinha duas opções. Operar ou aumentar a dosagem dos remédios.
Em entrevista ao site Brasil 2016, a medalhista da paralimpíada, lembrou da situação delicada: “O ponto era: se eu ficasse com o remédio, estava comprometendo minha vida. Se ficasse com a cirurgia, poderia comprometer minha vida e os Jogos. De um jeito ou de outro, era da minha vida que a gente estava falando. Estava com dor, perdendo peso, vomitava quase todos os dias. Cheguei a pensar que seria melhor operar e não ir aos Jogos, mas meus pais, meu irmão, meu namorado e meus amigos entraram em cena. Foi um dos momentos mais críticos”.
Ainda em recuperação, Verônica não pôde disputar o Mundial de Doha, no ano passado. A atleta só voltou a treinar no primeiro trimestre deste ano, e como Verônica é sinônimo de superação, precisou contornar outro imprevisto: uma ruptura no músculo da coxa, que a tirou das competições por mais um tempo. O retorno definitivo só se deu no Open Internacional de Atletismo, em maio. Quatro meses depois, veio a afirmação, em forma de medalha prateada.
“Se eu tiver que operar de novo, se precisar passar por tudo isso de novo, eu sei que posso fazer, porque sei que vou ter condições de voltar ainda mais forte. Antes da cirurgia, eu corria na casa dos 13 segundos. Depois que operei, fiz 12. Então, se eu fizer mais uma cirurgia, e eu espero que não tenha que fazer, acho que corro 11”, comenta com alegria.
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“Não somos deficientes brincando de correr, de nadar, de pular e de jogar bola. Aqui é alto rendimento. A sua história fica para trás aqui. A minha cirurgia, o meu AVC, a paralisia cerebral da Sophie (Hahn), as situações de pobreza que a Jenifer (Martins dos Santos, que compete na mesma classe e chegou em oitavo na final) superou, tudo fica para trás porque a gente quer ganhar”.
Os detalhes que faltaram para o ouro
Na visão de Verônica, a vitória, que ficou por pouco mais de dois décimos, não veio por seus próprios erros. “Eu sei que eu poderia ter ido melhor. Poderia ter melhorado talvez a saída. Minha saída é uma das melhores do movimento (paralímpico) e por causa disso, eu treino os primeiros 30 metros com homens. Mas hoje não foi aquela coisa. Fiquei um pouco nervosa, não soube a hora de continuar tracionando e cheguei até a olhar para o lado, o que é muito errado na corrida. Mas no fim, lembrei que aquele era o meu momento. Eu tinha que aproveitar cada minuto”.
A “magrela”, asssim chamada pelos amigos, ainda compete na Paralimpíada do Rio 2016 no salto em distância, com final no próximo domingo (11), e nos 400m, cuja decisão será na quarta-feira (14).
*Com Agência Brasil